Reinventando-se depois do adultério

Por Rosana Brasil

couple-260899_1280 - Copy

Muitos casais recuperaram com êxito o frescor do relacionamento conjugal depois de uma crise de infidelidade. Contudo, é necessário uma mudança significativa na forma de pensar e na linguagem: do “você” e “mim” para “nosso”, de “Como você pôde fazer isso para mim?” para “Este foi um evento em nossa vida.” Faz-se necessária uma mudança na narrativa da experiência individual para uma experiência compartilhada pelo casal.

Todavia, casais que pensam em termos absolutos, tem grande dificuldade em aceitar a crise da infidelidade como um obstáculo a ser vencido por ambos cônjuges. Muitos ficam presos no passado, cheios de dor e de rancor. Para eles, infidelidade é uma transgressão insuperável. Esta é uma crise repleta de sentimentos de remorso, seguidos de promessas de “nunca mais”, em busca do perdão incondicional, onde a absolvição total e permanente constitui o único desfecho aceitável.

Entretanto, as coisas são mais fáceis para aqueles casais que veem na violação da fidelidade conjugal como um evento que, independentemente de extremamente doloroso, sementes de algo de positivo. Esses casais devem compreender que o perdão não acontece de imediato, e sim progressivamente, no dia a dia, e não é um perdão parcial, é um perdão construído a dois.

Ressaltamos que, depois de uma traíção, confiança não é susceptível de ser total. Muitos indivíduos fazem declarações do tipo “Como posso confiar novamente?”. Bem, depende da sua definição de fidelidade e definição de confiança. Confiança para quê?

Muitos perguntam porque procurar terapia de casal depois de uma crise de infidelidade. O processo terapêutico pode ser uma experiência transformadora no momento que ambos os parceiros reconhecem os benefícios de trabalharem em conjunto no processo de reconstrução do relacionamento.

Em terapia, casais têm a oportunidade de conversarem abertamente, e estas conversas podem se tornar a base regeneradora para a nova relação. Consequentemente, não significa desistir da ideia de um relacionamento estável, e sim de aprender a redefini-lo de uma forma que irá impedir a recorrência de assuntos secretos e desleais.

Estes casais aprendem a definir o relacionamento de maneira clara e transparente. Para eles, monogamia significa lealdade emocional mútua, fidelidade e compromisso em uma relação primária e exclusividade sexual entre os cônjuges. Para outros, monogamia significa lealdade emocional e financeira mútua, mas não significa necessariamente exclusividade sexual.

Assim, em terapia, casais descobrem que a infidelidade não aponta necessariamente falhas no relacionamento, mas diferenças na forma de pensar de cada parceiro. Esses parceiros aprendem a ver o assunto, não tanto como uma declaração sobre o casamento, e sim como uma reflexão sobre si mesmos.

Alguns casos de infidelidade são atos de resistência; outros acontecem quando não oferecemos resistência e nos deixamos levar pela energia do outro. Infidelidade sinaliza a necessidade urgente de prestar atenção ao relacionamento que está ofegante e moribundo; neste caso, é um grito de socorro. Destarte, um caso de infidelidade conjugal pode significar o fim de um primeiro casamento, bem como o início de uma novo relacionamento.