Relacionamentos: Morno, Conveniente e Triste

Por Adriana Tanese Nogueira

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Há relacionamentos e casamentos baseados no interesse, há outros que nascem da paixão. E há aqueles que combinam uma ambígua mistura de afeto e conveniência. Quando o afeto é o cimento da relação temos de fundo um quadro onde estar juntos é interessante, ou seja conveniente. E nesta base se dá início à relação, quase que abdicando do amor, da paixão, como se não se acreditasse que fosse possível de encontrar ou se evitasse a entrega que o amor requer. A conveniência pode estar atrelada a uma série de razões, que não se relacionam necessariamente a mau caráter. Há muitas dificuldades na vida e, às vezes, a aliança com outra pessoa parece ser a única solução. Talvez não seja, mas é o que nos parece no momento. Geralmente, uma união dessas é de interesse de ambas as partes e há afeto entre elas. Ou melhor, há algum sentimento verdadeiro entre elas, que poderia até ser tácita e mútua gratidão. Entretanto, não é amor. E por este motivo não tem como durar. Com o passar dos anos, as situações e dificuldades que toda relação íntima atravessa trazem desgaste e apatia. O acordo silencioso do começo uma hora começa a ceder. Entretanto, como ele foi mascarado por amor para que o casamento ocorresse, a pessoa não ousa admitir a si mesma a situação porque deveria reconhecer a importância real que o fator conveniência jogou na sua relação inicial com o outro. O que acontece é que a pessoa não quer, de certa forma, perder a cara diante de si mesma. Ela mentiu para si e agora está difícil de assumir a verdade. É difícil admitir que agiu movida por interesses dos quais agora não sente mais necessidades ou que não valem o suficiente para sustentar um casamento. A pessoa descobre que gratidão e conveniência não levam necessariamente ao carinho, cumplicidade, intimidade e entrega que casar significa, e isso se reflete imediatamente na vida sexual. No sexo muitas verdades vêm à tona. A vida então se complica porque essas verdades são negadas pela combinação maléfica moral (queremos nos sentir no certo e no bom) e medo (de que se pode perder ao sair da relação). As perspectivas de futuro se tornam nebulosas. O afeto sincero mas superficial do começo se faz apatia. Com o tempo a insegurança do que fazer e como fazer aumenta. Demos poder a outra pessoa que não devíamos ter dado e nos sentimos fracos. Ao acreditar que uma relação se bases pudesse dar certo, entregamos nosso poder pessoal e agora está difícil de recuperá-lo. É como se houvéssemos depositado um “talismã da sorte” no outro, marido ou esposa. Esta situação paradoxal cria um círculo vicioso refletido naquela sensação de estar presos, e de levar a relação “empurrando com a barriga”. O que fazer nessa hora?
  • Aceitar o que é, ser honestos consigo. Este é o primeiro passo.
  • Compreender os verdadeiros motivos, nossos e íntimos, que nos levaram a dar início à relação.
  • Perceber como mudamos desde então, o que mudou em nós e por quê.
  • Descobrir o que queremos hoje, a partir do que nos tornamos e do que sentimos verdadeiramente dentro de nós.
  • Começar a construir novas realidades, relações e atividades, mas também novos valores, objetivos. Em suma, uma nova visão de si.
  • Enfim, tomar a coragem para dar o passo que construímos dentro de nós como o certo para nós.