Remessas de dinheiro de brasileiros nos EUA para o Brasil caem até 90%, indica pesquisa

Por Gazeta News

Os impactos da crise da Covid-19 - doença causada pelo novo coronavírus- já se fazem sentir nas remessas de brasileiros dos Estados Unidos para o Brasil. Houve uma queda de 90%, segundo um levantamento da BBC News Brasil. Sem trabalho e, em alguns casos, sem dinheiro nem mesmo para comer, os imigrantes tiveram que reduzir drasticamente o envio dos dólares ao Brasil.
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O levantamento feito pela Prefeitura de Governador Valadares, na região leste de Minas Gerais, a pedido da BBC News Brasil descobriu que a agência local do Banco do Brasil, em fevereiro, registrou um total de 45 ordens de pagamento dos Estados Unidos, que somaram um valor de R$ 911 mil remetidos à cidade. Em março, embora o número de ordens tenha sido quase o mesmo (43), o valor acumulado despencou para R$ 82 mil (uma queda de 90%). E nos primeiros 15 dias de abril, o movimento bancário indicava uma retração ainda mais profunda: apenas seis transferências tinham sido executadas, no valor total de R$ 14 mil. E a redução foi percebida não só nos bancos mas também pelas empresas financeiras especializadas em remessas como a a agência Brazuca, correspondente da Western Union na cidade, que confirmou uma queda de 10% do número de pedidos de remessas para Valadares. "Já a LP Câmbio e Turismo, correspondente da agência MoneyGram, relata queda de aproximadamente 85% no volume de transferências dos EUA para a cidade", diz o secretário Manoel. Proporcionalmente, a cidade de Valadares é um dos municípios brasileiros que mais enviou nativos aos Estados Unidos na história da migração entre os dois países: quatro em cada cinco chefes de família na cidade mineira têm algum parente morando em terras americanas. O resultado disso - hoje, há cerca de 40 mil valadarenses no país - tem sido um intenso fluxo de dinheiro de regiões dos EUA, como a área metropolitana de Boston, Massachussets, para Valadares nos últimos 40 anos: os migrantes mandam dólares para ajudar a família nas despesas, investir em negócios ou mesmo comprar ou construir imóveis. "O que nos dizem é que a tendência é que as remessas continuem caindo até a retomada da atividade econômica (nos Estados Unidos)", afirma o secretário de Desenvolvimento do município, Hilton Manoel. Os Estados Unidos tiveram seu primeiro caso da doença dois meses antes de Valadares. Em meados de março, enquanto os valadarenses começavam a se informar sobre o tema, grandes cidades americanas, como Boston e Nova York, já estavam em quarentena, com comércios fechados e atividades econômicas paralisadas. Em 2019, o dinheiro enviado pelos migrantes representou quase US$ 3 bilhões, ou 0,2% do Produto Interno Bruto do país. É pouco, quando se leva em conta que remessas somaram 17% do PIB em El Salvador, ou quase 3% do PIB no México. "Mas é um valor que cresceu 15% de 2018 a 2019 e que tem um impacto muito importante localmente", diz Manuel Orozco, presidente do think tank InterAmerican Dialogue. "É certamente um dinheiro muito relevante quando se pensa no número de pessoas diretamente impactadas por esses recursos", completa. Segundo a BBC Brasil, as estimativas dão conta de que entre 50% e 80% da comunidade de 1,2 milhão de brasileiros nos EUA enviem dinheiro regularmente para parentes e amigos no Brasil. De acordo com Orozco, cada migrante ajuda, em média, 1,2 famílias. Isso significa que entre 720 mil e 1,1 milhão de famílias recebem periodicamente recursos do exterior, diretamente injetados na economia doméstica. Entre os latinos, os brasileiros são também os que mandam em média os valores mais altos de volta a seus países.