Repórter da Globo prestará depoimento à polícia após ser sequestrado pelo PCC

Por Gazeta Admininstrator

O jornalista da Rede Globo Guilherme Portanova, 30, seqüestrado neste sábado (12) e libertado nesta segunda-feira (14), prestará depoimento à Polícia Civil nos próximos dias. O procedimento será realizado a fim de que as investigação leve aos sequestradores.

Os criminosos que mantiveram o reporter e o auxiliar técnico Alexandre Coelho Calado, 27, em cativeiro disseram ser do PCC (Primeiro Comando da Capital).

"Eu não fui agredido e fui alimentado o tempo todo", disse Portanova poucos minutos após sua libertação. "Ali, naquele momento, eles sentiram talvez que tivessem concluído o serviço deles e resolveram me soltar."

Portanova comentou ainda que não sofreu ameaça de morte no período em que esteve nas mãos dos bandidos. "Fiquei o tempo todo de capuz."

O repórter e o técnico foram capturados por homens armados na manhã de sábado, quando deixavam uma padaria na avenida Luis Carlos Berrini, cerca de um quilômetro da sede da emissora. Calado foi libertado horas depois, ainda na noite de sábado, também nas proximidades da TV.

O auxiliar foi solto com a incumbência de levar um DVD à Globo e de garantir a exibição de imagens nas quais um suposto integrante do PCC lê uma carta contra o sistema prisional de São Paulo. Caso contrário, o repórter seria morto. "A vida do teu colega está na tua mão", disseram a Calado.

Um boletim de plantão comandado pelo também repórter César Tralli entrou no ar à 0h28 de domingo (13) e exibiu as imagens, editadas, do DVD para todo o Estado.

Portanova foi deixado em uma rua do Morumbi (zona oeste de São Paulo), no final da noite de domingo. Ele pegou carona em um carro de uma empresa de segurança particular e chegou à sede da emissora, no Brooklin (zona sul de São Paulo), por volta da 1h desta segunda.

Ele foi recebido por colegas. Pouco depois, conseguiu conversar com os pais, que viajaram do Rio Grande do Sul para São Paulo para acompanhar os desdobramentos do caso. Antes da libertação do repórter, a mãe dele disse que trocaria de lugar com ele, se pudesse.

Imgagens gravadas

Nas imagens exibidas, a Globo cortou a introdução na qual eram mostradas armas de guerra, dinamites, granadas e coquetéis molotov.

O vídeo entrou no ar no intervalo do "Supercine" que, na Grande São Paulo, costuma ter mais de dez pontos no Ibope, o que equivale a mais de 550 mil domicílios. À noite, a emissora exibiu parte do manifesto no "Fantástico".

Uma outra cópia foi jogada, na sexta-feira (11), no estacionamento do SBT. A emissora encaminhou uma cópia ao Ministério Público.

Parte do comunicado repete quase na íntegra trechos de parecer do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária do Ministério da Justiça, de abril de 2003. O órgão apontava, na ocasião, aquilo que considerava ilegalidades do RDD.

Perícia

O vídeo foi encaminhado para perícia em busca de digitais. A voz foi comparada com diálogos de seqüestradores gravados pela polícia, sem sucesso. A polícia requisitou também imagens das câmeras das rodovias a fim de tentar descobrir se o Gol utilizado no seqüestro deixou a cidade.

O diretor de jornalismo da TV Globo São Paulo, Luiz Cláudio Latgê, disse que a decisão de atender a reivindicação dos criminosos foi da emissora, sem participação do governo de São Paulo ou da polícia. Em nota, a emissora informou ter sido orientada por órgãos internacionais a ceder à pressão.

Liberdade

O auxiliar técnico Alexandre Calado disse ter ficado "apavorado" durante o seqüestro. Quando foi libertado, ele estava emocionalmente abalado. Ele foi levado para um hotel, pela Globo, em local não divulgado. "Ele está muito abalado", confirmou a irmã.