Repórter envolvida no caso do vazamento da CIA deixa NYT

Por Gazeta Admininstrator

Miller diz que está saindo do jornal porque 'se tornou notícia'
A repórter do The New York Times Judith Miller, um dos personagens no escândalo do vazamento da identidade de uma agente da CIA (Agência de Inteligência Americana), se desligou do jornal.
"O New York Times e Judith Miller, uma repórter veterana do jornal, chegaram a um acordo ontem (quarta-feira) que terminou a sua carreira de 28 anos no jornal e encerrou mais de duas semanas de negociações", afirma a edição desta quinta-feira do diário americano.

Miller ficou presa durante 85 dias por se recusar a revelar uma fonte confidencial no caso que envolve o vazamento para a imprensa da identidade da agente secreta Valerie Plame, em 2003. A revelação do nome de um agente do serviço secreto é um crime federal nos Estados Unidos.

A fonte foi posteriormente identificada como o então chefe de gabinete do vice-presidente Dick Cheney, Lewis Libby – que renunciou ao cargo após ser indiciado por perjúrio e obstrução de justiça.

O vazamento ocorreu em um momento em que surgiam as primeiras dúvidas sobre a veracidade das informações sobre o suposto programa de armas de destruição em massa do Iraque.

O marido da agente Valerie Plame, Joseph Wilson, era um ex-diplomata que havia criticado o presidente George W. Bush por causa da sua política com relação ao Iraque. Wilson acusa a Casa Branca de ter vazado o nome da agente como retaliação.

Carta de despedida

Pelo acordo que selou a saída de Miller, o Times concordou em publicar uma carta da jornalista explicando a sua posição e se defendendo de críticas que recebeu de colegas e do próprio diretor-executivo do jornal, Bill Keller.

"Estou grata que Bill Keller, editor-executivo do Times, tenha finalmente esclarecido comentários feitos por ele que não eram fundamentados por fatos e eram pessoalmente perturbadores. Alguns dos comentários dele sugeriram insubordinação da minha parte", diz a jornalista na carta intitulada "Despedida de Judith Miller".

A repórter escreve ainda que está deixando o jornal em parte porque alguns colegas foram contra a sua decisão de testemunhar, "mas principalmente" porque ela própria havia se tornado notícia –"algo que um repórter do New York Times nunca quer ser".

"Mesmo antes de eu ir para a cadeia, eu havia me tornando um pára-raio para a fúria da opinião pública sobre as falhas na inteligência que ajudaram a levar o nosso país para a guerra. Muitos dos artigos que eu escrevi ou em que fui co-autora foram baseadas nessas informações falhas, e em maio de 2004, o Times concluiu em uma nota dos editores que a cobertura deveria ter refletido maior ceticismo de reportagem e editorial", diz a carta.

"No dia 6 de julho eu escolhi ir para a cadeia para defender o meu direito como jornalista de proteger uma fonte confidencial, o mesmo direito que permite que advogados garantam confidencialidade a seus clientes, clérigos aos fiéis de suas paróquias e médicos e psicoterapeutas a seus pacientes."

A repórter foi libertada no final de setembro, depois ter concordado em depor em um tribunal – o que só fez após receber autorização de Libby para discutir perante a Justiça os contatos que tiveram.

Miller diz ainda que tomou a decisão de ir para a prisão não só para honrar o princípio da confidencialidade, como para "dramatizar a necessidade de uma lei federal" sobre o assunto.

A jornalista conclui a carta dizendo que continuará defendendo uma lei federal que assegure o direito à confidencialidade e que responderá às críticas que recebeu no seu site.

Segundo o NYT, a repórter havia originalmente pedido um espaço na página de editoriais do jornal – reivindicação que foi negada pelo jornal.