Um débito suspeito no valor de $100 dólares na conta bancária do brasileiro E. A., que vive em Hollywood, há alguns meses o deixou preocupado. Ele entrou na sua conta on-line do banco Chase e viu que alguém estava usando seus dados bancários para fazer compras em uma loja no estado de Wisconsin.
“Quando fui ao banco, me pediram desculpas várias vezes e disseram que esse é um crime cada vez mais comum”, conta E. A., que preferiu não publicar seu nome e que teve o dinheiro devolvido em sua conta. “Mas me senti muito vulnerável”.
Para se tornar uma vítima, basta usar um cartão para sacar dinheiro ou comprar algo em qualquer loja.
A Flórida é um dos estados em que esse tipo de golpe é, ao mesmo tempo, novo e antigo. A produção em massa de cartões de crédito falsificados com números roubados de consumidores, compras e saques em dinheiro com esses cartões tem sido o alvo dos novos empreendimentos das mesmas gangues de roubo de identidade, de acordo com uma matéria publicada esta semana no “Sun Senitnel”.
Cartões falsificados não são novos, mas a sua utilização explodiu nos últimos dois anos, com hackers roubando milhões de registros de grandes lojas de varejo e gangues desenvolvendo novas formas de clonar informações de caixas eletrônicos e máquinas de cartão de crédito.
Grande parte desse crime crescente irradia da Flórida, um estado conhecido por fraudes com o Medicare, golpes de telemarketing, fraudes em imposto de renda, esquemas de investimento, entre outros.
De acordo com o “Sun Sentinel”, é comum agentes de segurança do aeroporto chamarem policiais do Broward Sheriff’s Office para denunciar passageiros parados por estarem cheios de cartões de crédito aparentemente falsos, enquanto a polícia frequentemente busca pessoas que instalam dispositivos para clonar cartões de crédito de máquinas de saque de dinheiro.
Tudo isso faz parte de um mercado negro crescente que liga hackers sofisticados em lugares como a Rússia ou a Ucrânia com ladrões comuns perto de casa.
“Todo mundo está trabalhando constantemente para roubar o seu número de cartão de crédito, porque ele é incrivelmente lucrativo”, disse o detetive de polícia de Orlando, Michael Stevens. “E é muito difícil para nós nos movimentarmos rápido o suficiente para pegá-los”.
A Flórida serve como sede para o roubo de cartões falsificados, conhecidos como “carders”, e de redes criminosas altamente móveis que utilizam e distribuem suas criações.
“Nós estamos vendo um monte de pessoas que deixam a Flórida para ir para o Oeste do país com cartões de crédito falsificados, geralmente para a área de Texas/Arizona”, disse o detetive do BSO, Mitch Gordon. Segundo ele, em um dos casos, o criminoso carregava uma centena de cartões no nome da mesma pessoa. “Na parte de trás, na fita magnética, havia cem números de contas diferentes. Os cartões já haviam sido recodificados com informações de outra pessoa”, conta Gordon.
Em maio, Egor Shevelev, um vendedor on-line ucraniano, foi condenado por um juiz federal em Fort Lauderdale a 14 anos de prisão por tráfico de mais de 118 mil números de cartões de crédito roubados e fraudulentos. Os promotores dizem que sua rede criminal pode ter roubado aproximadamente $59 milhões de dólares, mas a perda real para centenas de vítimas, muitas delas no sul da Flórida, é impossível calcular.
A polícia de Orlando está investigando outra gangue que utiliza um dispositivo de clonagem mais o menos do tamanho de um dedo mindinho. Por um valor, alguns balconistas ou caixas de restaurante usaram o dispositivo para copiar secretamente números de conta e entregá-los para ladrões de identidade.
Outros dispositivos são inseridos em máquinas de saque (ATM) para copiar os números e códigos financeiros contidos nas bandas magnéticas. Os bandidos, então, recuperam os dispositivos, ou, usando a tecnologia wi-fi de um carro nas proximidades, pegam as informações deles em um computador portátil.
Os codificadores são então usados para transferir essa informação a cartões recém-criados. Eles podem ser cartões de presente em branco, cartões chave de hotel, cartões de crédito antigos – tudo que tenha uma fita magnética que é nova ou pode ser substituída.
“Não é ilegal possuir esses dispositivos”, disse Stevens. “Por quê? Eu não faço ideia. Eles não servem a nenhum outro propósito além de roubar seus cartões de crédito”.
Uso de chips
A polícia e defensores dos consumidores esperam que a substituição de fitas magnéticas com chips de computador - que pode começar já no próximo ano - vai ajudar a frear a fraude porque os chips são muito mais difíceis de falsificar.
Nesse meio tempo, Breyault aconselhou os consumidores a terem cuidado com caixas eletrônicos não ligados a agências bancárias, tais como aqueles em bares, restaurantes e postos de gasolina.
“Certifique-se de olhar bem para a ATM antes de colocar seu cartão”, ele disse.
“Se você vê algo errado ou algo preso a ela que não deveria estar lá, pense duas vezes antes de usar”.
Flórida é líder em denúncias
A Flórida lidera o ranking de denúncias de consumidores em todo o país envolvendo queixas de roubo de identidade à Comissão Federal do Comércio.
No ano passado, o estado teve 805 denúncias de fraude por 100 mil pessoas e 193 queixas de roubo de identidade por 100 mil, mostram registros do FTC.
A área de Miami-Fort Lauderdale - West Palm Beach está no topo da lista de queixas de roubo de identidade entre as grandes áreas metropolitanas. Orlando-Kissimmee-Sanford está em 11 º lugar.
Os dados de 2014 ainda não foram divulgados pela Comissão Federal do Comércio.