Resiliência

Por Adriana Tanese Nogueira

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Dizem que esses tempos de COVID19 irão mudar a forma como vivemos. Alguns sugerem que seremos finalmente uma sociedade mais justa, outros afirmam que o vírus nos mostra que "ninguém se salva sozinho", que precisamos uns dos outros. Todos observamos os efeitos positivos da nossa reclusão sobre o restante da vida na Terra, acredito que muitos nutrem a esperança de que seja possível algo parecido a um novo paraíso terrestre onde homens e feras possam conviver se não sempre pacificamente, certamente em respeito e harmonia. Alegra os nossos corações ver tanta renovação de vida animal e vegetal, para não falar do ar. Tudo se recuperando enquanto nós fomos postos de castigo. Se seremos ou não pessoas e sociedades melhores quando sairmos dessa quarentena depende inteiramente de nós. Em vista desse objetivo, precisamos saber viver esse tempo e desfrutar de tudo o que possa nos dar de positivo. A pré-condição para isso está na palavra resiliência. O conceito vem do mundo da metalurgia onde indica a capacidade de um metal de resistir às forças sobre ele aplicadas. Assim, no lugar de se quebrar, o metal, por assim, dizer, ricocheteia o golpe de volta. Resiliente, portanto, é o contrário de frágil. O termo foi adquirido pela psicologia para apontar para a força moral de superação, para a capacidade psicológica de enfrentar e se recuperar de eventos traumáticos. Há uma diferença, porém, entre a resiliência do metal e a nossa. É uma importante diferença e é a que nos permite de fato sermos resilientes. No campo metalúrgico, a resiliência é a capacidade de rejeitar o golpe, de devolver o ataque e permanecer inteiro. No mundo humano, para permanecermos inteiros e sermos capazes de reorganizar nossas vidas, precisamos acolher o golpe, reconhecê-lo e assumí-lo. Vejamos o que significa. A resiliência em nós ocorre quando, no lugar de permanecermos na negação ou da obsessiva determinação a "não ser desviado" no nosso objetivo, aceitamos o percalço, nos deixamos impactar pelo o choque porque somente assim podemos processá-lo - passagem fundamental! - ou seja: compreender, digerir e integrar. Cumprida esta etapa, precisamos flexibilizar as expectativas e as metas no sentido de nos disponibilizarmos emocional e cognitivamente para criar alternativas à nossa ação, projeção e caminho já estabelecidos. Desta forma, fluidificamos nossa realidade ao ponto de podermos replasmá-la. Não se trata necessariamente de mudar as metas, mas estas podem se apresentar de outras formas, assumir novos aspectos, outras perspectivas. O mesmo com os caminhos: as estradas que levam a Roma são muitas, diziam os antigos romanos. A metodologia pode ser alterada. É essencial, portanto, evitar fixações, obsessões, enrijecimento do ego e de sua vontade soberana. A vida nos mostra constantemente, e estes tempos mais do que nunca, que não somos donos de nada, nem da nossa vida. Tudo pode variar a qualquer momento. Como permanecer estruturados e mental e emocionalmente saudáveis? Abrindo mão dos detalhes e se abrindo a novas ideias - ideias de como implementar o que estávamos perseguindo. Conforme as palavras que eu ouvi tantas vezes meu querido pai repetir, "a força da água consiste em continuar fluindo, ela contorna os obstáculos e chega assim ao mar." A água não luta contra as pedras no caminho, ela as contorna, seguindo fluidamente resoluta para a sua meta.