Juiz de Utah dá a guarda de Joseph ao pai que o sequestrou no Brasil

Por Marisa Arruda Barbosa

cintia e joseph

O que parecia ser o fim de um longo pesadelo acabou piorando quando, em uma decisão que surpreendeu até mesmo os advogados da Convenção de Haia, um juiz de Provo, Utah, deu a guarda de Joseph para o pai Gary Lee Heaton II.

A mãe de Joseph e ex-mulher de Gary, Cintia Márcia Pereira, está nos Estados Unidos desde o fim de abril quando foi chamada para uma audiência. Ela não tinha notícia do filho desde dezembro de 2015, quando o pai do menino o sequestrou. Somente na audiência, no dia 25 de abril, que Cintia se reuniu com o filho, em Provo. Antes disso, ela nem tinha a comprovação de que o menino estava realmente nos EUA.

Imediatamente, o juiz deu a guarda provisória a Cintia em abril passado e ela só esperava os procedimentos burocráticos e mais uma audiência para poder voltar com o filho para o Brasil, país de jurisdição da criança de 6 anos.

No entanto, na última audiência, ocorrida em 27 de maio, Cintia foi surpreendida com uma nova sentença: a guarda do menino foi dada ao pai.

“Gary usou o mesmo material que tinha usado para tentar a guarda de Joseph no Brasil, o artigo 13 da Convenção de Haia. E eu não vim preparada para isso porque ele é que era o réu. Eu só vim para uma audiência nos EUA. Afinal, eu já tinha a guarda definitiva no Brasil”, disse Cintia.

Cintia relata que Gary levou fotos sem laudos médicos para a audiência alegando que a criança sofria abuso no Brasil. As fotos eram de Joseph com uma faixa em volta da clavícula, com o rosto roxo e umas marcas na pele. “Assim como ele tentou fazer no Brasil – o que levou a uma investigação de um ano – ele disse que as fotos demonstravam ferimentos de abusos que ele sofria. Mas a explicação sobre esses ferimentos é que, no caso da clavícula, ele caiu da cama; no caso da marca no rosto foi brincando com o filho e as marcas da pele se tratam de uma dermatite”, explicou Cintia. “Mas o juiz mal considerou o pouco que pude me defender – e sem falar inglês. Ele deu a guarda ao pai, com a alegação de que Joseph sofre maus tratos e corre riscos no Brasil”.

O pai alega ainda que o menino sofreu abuso físico e sexual de seu meio irmão de 9 anos no Brasil. Cintia relata que essa acusação desencadeou numa longa batalha judicial no Brasil e mesmo o afastamento do menino e da mãe por um ano. A concessão da guarda definitiva a Cintia se deu justamente quando foi comprovado que o menino não sofria nenhum tipo de abuso.

Reviravolta

Agora, Cintia, que tem visto de turista e nenhum dinheiro para enfrentar uma batalha judicial nos EUA, tem 20 dias para apelar o caso. Até agora, ela tinha os advogados da Convenção de Haia, mas como o caso foi encerrado, ela precisa de um advogado novo e de preferência que fale português.

Ela tem direito de visita ao filho três vezes por semana em uma clínica com supervisão, mas é obrigada a falar somente inglês com o menino. Acontece que Cintia não fala inglês e a clínica não tem ninguém que fale português para traduzir.

“Eu não tenho condições e nem permissão para ficar muito tempo nos EUA, a família dele é conhecida na cidade de Provo, ele está no país dele, fala a língua dele, seu pai tem dinheiro.  Eu me sinto injustiçada tendo que estar em um país que não é meu e tendo que provar algo que foi feito no meu país. Ele morava lá, tinha um trabalho e uma vida no Brasil, não é que estava de passagem quando passamos pela batalha judicial”.

“Eu preciso de ajuda. Quero que o meu país, o Brasil entre nessa comigo. Porque eles estão desmerecendo o meu país. Meu país precisa ajudar a prevalecer a sua decisão. Estou sendo humilhada como mãe, como pessoa, como cidadã brasileira. É como se meu país não valesse nada”, disse Cintia. “Parece que não temos credibilidade em nada como brasileiros. Os profissionais brasileiros foram descartados”.

Uma conta foi criada no GoFundMe para que Cintia possa continuar a batalha.

Conheça a história no seguinte vídeo: