Risco Sistêmico - Negócios & Empresas

Por Gazeta News

Luiz H. Perlingeiro Economista e Contador Representante do BBG / Brazilian Business Group no Brasil

O erro cometido pelo mercado na precificação, julgamento de riscos e prática de juros baixos na primeira década, produziu bolhas no setor imobiliário e crescimento explosivo na tomada de empréstimos pelo setor privado. A rapidez e a violência com que foram rompidos os mecanismos de crédito depois da quebra do Lehman Brothers, expuseram a real natureza da rede financeira internacional: um enorme emaranhado de interconexões difíceis de mapear, dominado por grandes instituições financeiras ou os chamados ‘hubs’, que comprometeriam todo o funcionamento da rede, caso viessem a falhar, e composto por agentes interessados em maximizar ganhos e minimizar riscos sem, no entanto, enxergar a malha de interrelações do sistema financeiro.

Nos Estados Unidos, os grandes bancos foram socorridos pelo governo dentro da máxima – “grande demais para quebrar”-, e o sistema foi irrigado com uma enxurrada de dólares para aumentar a liquidez. Mas, hoje os bancos estão cautelosos para emprestar, o consumidor cauteloso para comprar e as empresas cautelosas para investir, já que a demanda é fraca. Resumindo, a crise hoje é de “confiança” e para gerar empregos e aumentar o consumo, o Governo terá que investir em obras e serviços no setor público, o que não será fácil com o tamanho da dívida pública atual.

Diferentemente na Europa, a crise é de liquidez com enormes dívidas externas. Na Grécia - €328bn/143% PIB, Irlanda -€148bn/96%PIB, Portugal - €161bn/93%PIB, Espanha - €637bn/60%PIB e Itália - €1,842bn/119%PIB, além da “contaminação” de títulos destes países nos bancos da França e Alemanha. A zona do euro está correndo contra o tempo para solucionar os problemas de iliquidez e insolvência em cascata, que podem ocorrer rapidamente, na medida em que metade da dívida soberana exibe elevado risco de crédito.

No Brasil, o real foi a moeda que mais se desvalorizou frente as demais, com 18,14% de queda. As perdas da Bolsa de 24.5% no ano e os ganhos em dólar são o retrato do mercado em turbulência. O mês foi marcado por revisões no crescimento da economia global e, principalmente no impacto das exportações de commodities para os países asiáticos, principalmente a China, que tem previsões de desaquecimento. Mesmo com os bancos pouco alavancados e com as medidas prudenciais já praticadas, a porta de entrada da crise poderá ser via inflação e crédito, na medida em que a poupança interna é pequena, de aproximadamente 20% do PIB, e dependemos de capitais externos não só para financiar a dívida pública interna, de R$1.7 trilhões e 60% do PIB, mas também dos “diversos fundos” que suportam financiamentos imobiliários e de bens de consumo durável.

Todas as fragilidades resumidas aqui estão relacionadas tanto ao tamanho e à interconectividade das instituições e países, quanto ao estudo mais aprofundado das redes de crédito. Portanto, nenhum esforço de reforma regulatória que desconsidere todas as dimensões do risco sistêmico, será capaz de reduzir sensivelmente a probabilidade de ocorrência de crises financeiras de severidade semelhante a de 2008.

Assim, aos nossos leitores recomendamos prudência em suas atividades, procurando manter o equilíbrio de seus negócios, procedendo à revisão de metodologias aplicadas, logística, capacidade de mão-de-obra, além, claro, da reavaliação do pessoal empregado, tanto qualitativa, quanto quantitativamente. Este comentário pode soar assustador ou depressivo/pessimista, mas reflete a prudência que o momento, coberto de incertezas, nos obriga a seguir.

Porém,em uma nota final mais otimista, a análise do momento que atravessamos nos indica estar os Estados Unidos, apesar dos grandes problemas que tem a sua frente, mais uma vez, em seus melhores círculos, cuidando de seus interesses, preparando-se para novos desafios, através da ampla e transparente discussão da problemática que nos cerca: a Europa envolvida em profundos desequilíbrios, incapaz de se modernizar e enfrentar as condições do mundo contemporâneo.

A China, por sua necessidade absoluta de manter elevado índice de desenvolvimento se apavora, temendo medidas a serem tomadas pelo gigante americano que poderá levá-la a mirar-se no espelho e verificar sua impotência para resolver os problemas de 900 milhões de chineses, em confronto com a luxúria e gastos muitas vezes inconsequentes de seus 300,000 habitantes abençoados, que moram no Leste do país. Os circos parecem estar pegando fogo. Assim, mais uma vez o mundo olha para os Estados Unidos como a grande locomotiva que a todos , com seu crescimento, ajudará a conhecer melhores dias.