Ronaldo

Por Gazeta Admininstrator

Tirando de lado o sensacionalismo e a exploração a que todos os ídolos e celebridades são submetidos pela impren-sa, o “escândalo” protagonizado pelo ídolo Ronaldo que se envolveu em um programa sexual com travestis no Rio de Janeiro, teria pouca ou nenhuma importância se o pivô não fosse Ronaldo, um dos jogadores mais famosos na história do futebol mundial.
O “escândalo”, mais caricato e hilário do que qualquer outra coisa – afinal, só gente muito ingênua desconhece o fato de que, mundo afora, milhões de heterossexuais fazem programas com travestis – ocupou as manchetes dos jornais em todo o mundo.
Teria Ronaldo realmente procurado intencionalmente um encontro sexual com transexuais? Teria sido o ídolo brasileiro atraído para uma armadilha cuidadosamente planejada para lhe extorquir dinheiro em troca de silêncio?

Amantes do lixo
Honestamente, acho toda essa discussão em torno da vida pessoal, dos programas noturnos e das preferências sexuais de Ronaldo, de uma “desimportância” total e absoluta.
Pura matéria-prima para a sociedade amante do lixo cultural em que vivemos.
Mas algo de muito positivo emergiu desse pequeno e “picante” escândalo. Na entrevista concedida por Ronaldo à repórter Patrícia Poeta no “Fantástico”, na noite de domingo(4), o craque brasileiro deu uma formidável lição de caráter.
Mesmo garantindo que só tomou conhecimento de que as “garotas de programa” eram na verdade transexuais, ao chegar no local do encontro, Ronaldo admitiu, desde o primeiro instante da entrevista, ter cometido um ato estúpido. Mais: disse não estar sob efeito de álcool ou nenhuma outra droga e que, deliberadamente, foi a um encontro com garotas de programa. Para ele, o erro foi esse e não o fato de serem ou não travestis.
Ronaldo garantiu que é heterossexual. Nada de novidade para quem é carimbado como um dos maiores conquistadores da praça. A ponto de ter se transformado em “apelido” para as garotas ou modelos que “gravitam” em torno dos craques, as já famosas “Ronaldinhas”.

Respeito
Mas ao definir sua preferência sexual diante da câmera, ele não fez de forma agressiva ou preconceituosa. Em nenhum momento fez comentários contra os transexuais e apenas se defendeu dizendo estar sendo vítima de um golpe, afirmando que a própria polícia já teria elementos que comprovariam essa denúncia do craque.
Ronaldo deu uma lição de humildade que, muito raramente, os ídolos têm coragem de dar. O ego inflado das celebridades (em sua maioria pessoas totalmente deslumbradas pela adulação e irrealismo do mundo em que vivem) não dá espaço para a humildade, o pedido de desculpas e a consciência de que é com os erros que se aprende.
O craque foi mais adiante. Admitiu que algo de muito positivo emerge desse imbróglio em que se meteu num fim de noite carioca.
“Esse escândalo vai fazer com que as pessoas me vejam como uma pessoa humana, igual a todas, com todas as fraquezas e capaz de cometer os mesmos erros”, disse ele. Ronaldo lembrou à Patrícia Poeta que, por toda a sua vida, teve de conviver com a idéia alimentada pelos fãs de que ele é um ser sobrenatural, perfeito, incapaz de errar. As cobranças num nível como esse o isolam das pessoas que passam a vê-lo como sobre-humano.
Evidentemente, Ronaldo é uma pessoa como qualquer um de nós. E seu “erro”que, para muita gente, nada tem de novidade ou bizarro, é insignificante diante da infinidade de erros muito mais graves e que rondam as nossas vidas, inundando os noticiários de sangue e tragédias a cada minuto, como a da pequena Isabela, atirada pela janela de seu quarto.
Ronaldo deu show de bola na vida. Ao se mostrar humano. Até mesmo ao pedir desculpas por, em determinado momento, tratar a si mesmo na terceira pessoa, considerando isso um “desrespeito”. Nota 10. É isso aí.
O futebol brasileiro sempre teve e segue tendo ídolos de ouro. E muitos de papel. Bons de bola e péssimos de comportamento e até de caráter. O “escândalo dos travestis”, que vai acabar virando piada e folclore no país onde tudo acaba em pizza, serviu para revelar que Ronaldo é um ídolo de ouro. Capaz de ser humilde, simplesmente ser humano.