Rondônia também ?exporta? brasileiros

Por Gazeta Admininstrator

No final dos anos 50, foi o início da chegada dos mineiros que dominavam o panorama da imigração de brasileiros para os Estados Unidos até meados dos anos 70.

Aí, o perfil da imigração brasileira foi mudando, a princípio lentamente, e incorporando grandes contingentes de paulistas, cariocas e capixabas. No final dos anos 80, a diversificação se tornou total e, atualmente, não há sequer um estado brasileiro que não tem já a sua expressiva “colônia” made in USA.

A mais curiosa e possivelmente a mais nova dessas “colônias” é composta de rondonienses. Um dos mais novos estados da nação, originalmente um território criado em 1943 e elevado à categoria de estado em 1981, Rondônia se notabilizou no Brasil como um grande centro receptor de imigrantes de outros estados do país.

Foi justamente no “boom” da criação dos novos estados (ao lado de Rondônia, Roraima e Amapá também se tornaram estados no mesmo momento) que Rondônia floresceu como “eldorado” para imigrantes gaúchos, paranaenses, goianos e de todos os estados do Nordeste, em busca de terras férteis, da extração de madeira e muitas outras possibilidades econômicas que o então novato estado prometia.

Rondônia se desenvolveu de forma caótica, gerando “grandes cidades-mambembes” e desestruturadas como Vilhena, Rondonópolis e Ji-Paraná, viu sua taxa de criminalidade explodir e, em anos recentes, sua outrora promissora economia, “atolar” na mesma crise que contaminou e estagnou o Brasil entre 1994 e 2004.
Por isso, os rondonienses (nascidos lá ou não) passaram a engrossar as fileiras de quem procura uma saída, fora do Brasil.

O destino preferido, até agora, dos rondonienses são os estados de Massachusetts e New Jersey, graças à uma forte rede de tráfico pela fronteira dos Estados Unidos, que “garante” a entrada no país em troca de pagamentos que variam de 8 a 15 mil dólares.

Julival, 27 anos, é rondaniense e chegou a Somerville, cidade na região metropolitana de Boston, e que sozinha abriga uma população de mais de 30 mil brasileiros, há três semanas. Sem falar uma única palavra em inglês, nem sabe quanto teve sorte em atravessar a fronteira no Arizona sem sofrer nada, de forma até “tranquila” como ele mesmo revela:
“Paguei 10 mil (dólares) para atravessar. Foram 5 mil antes de sair do Brasil e 5 mil quando me deixaram na casa no Arizona. Uma das pessoas do grupo, uma senhora mexicana muito educada, viajou comigo de ônibus de Phoenix até Boston. Não tenho ninguém aqui, só um amigo de Vilhena que veio no ano passado e me disse que eu teria trabalho logo que chegasse. Não estava mentindo não, estou trabalhando de limpeza por enquanto porque eles dizem que no inverno não tem trabalho de pedreiro e ajudante, que eu sei me virar muito bem. Mas estou feliz de estar aqui”.

O rondoniense não assume que é de Rondonia, logo “de cara”. Para se enturmar mais fácil diz que é mineiro e torce para que não façam perguntas mais compro-metedoras:
“Os mineiros aqui se ajudam muito por isso se você diz que é mineiro, especialmente de Valadares, a galera dá uma força mais com vontade”, diz.

O custo da “travessia”
Julival dá detalhes de como foi a sua jornada:“Tudo começou quando esse meu amigo de Vilhena ligou dizendo que estava satisfeito, que havia trabalho e que eu deveria tentar vir. Ele me deu a dica de um pessoal em Minas que facilitaria as coisas para eu entrar. Viajei até Belo Horizonte e de lá fui para Itabira. Aí não posso mais dizer nada para não entregar as pessoas que, no meu caso, só me ajudaram. Foi um trato. Paguei o que me pediram e eles me colocaram aqui”.

O rondoniense diz ter ouvido, antes e depois de sair do Brasil, muitos casos “cavernosos” de pessoas torturadas, homens e mulheres estuprados e mortos durante a travessia:
“Tem uma garota que veio no mesmo ônibus que eu vim do Arizona, que perdeu a mãe dois meses antes na mesma travessia. Elas foram separadas no México e a mãe acabou morrendo no deserto, porque os coiotes abandonaram ela. A moça acabou esperando por uma nova chance, entrou e nem teve como assistir ao enterro da mãe, no Brasil. Ela estava muito triste, mas disse que fazia qualquer coisa para voltar para cá, porque ela vivia aqui e saiu para buscar a mãe. Acho que ela não tinha outro jeito de entrar a não ser pela fronteira”.

Ele confirma também que existe muita gente atuando como “agente de coiote” no Brasil:
“Tem pessoas que oferecem a travessia por 8, 10 mil e outras até por 15 mil. Mas eu já ouví falar de que, vindo direto para o México, tem gangues que garantem fazer o mesmo serviço por 3 mil dólares. Dá prá desconfiar, não é. Uma coisa tão arriscada com a polícia americana dando o maior duro, só 3 mil dólares? Eu preferi vir com o pessoal que meu amigo indicou e deu certo. Não estou aconselhando ninguém a fazer isso. Fiz porque era minha vontade e a vida em Rondônia estava muito ruim. Sem emprego, sem nada no futuro. Aqui eu sei que posso sobreviver, ter carro, juntar dinheiro e até, quem sabe, casar e ganhar o papel. Por que não?”