Salve Simpatia! Jorge Ben Jor será destaque no JVC Jazz Festival em Miami

Por Gazeta Admininstrator

A música de Jorge Ben Jor tem uma importância única na música brasileira, por incorporar elementos de suíngue com muito soul, funk, jazz e também com toques árabes e africanos, influência de sua mãe, nascida na Etiópia. Foi sua mãe que lhe deu um violão, na adolescência, e seu pai, compositor carnavalesco, que lhe ensinou a levada do samba. Seu estilo vocal e originalidade instrumental influenciaram muito o samba, sambalanço, “soul music” brasileira, pop e rock nacional e a MPB, em geral. Jorge Ben Jor tem uma legião de admiradores e também de imitadores. Mas existe somente um Jorge Ben Jor. Ele continua alegre e criativo, como sempre. Liderando a Banda do Zé Pretinho há mais de vinte anos, Jorge Ben Jor é um jovem eterno, espalhando alegria com sua música e bom humor.

Carioca “da gema”, criado no Rio Comprido, na Zona Norte do Rio de Janeiro, Jorge queria ser jogador de futebol e chegou até a integrar e equipe juvenil do Flamengo. Seu talento musical falou mais forte e, depois de pouco tempo, tocando com amigos no famoso “Beco das Garrafas”, no Centro, Jorge Ben Jor foi contratado pela gravadora Philips. A partir daí começou uma jornada fantástica que resultou em clássicos como “Mas Que Nada”, “W/Brasil”, “Charles Anjo 45”, “País Tropical”, “Fio Maravilha”, “Taj Mahal”, “Que Maravilha” e muito mais. Certamente, Jorge Ben Jor junto com Antônio Carlos Jobim posuem a obra musical mais conhecida entre todos os brasileiros. Estas músicas representam a alma brasileira e espalham alegria pelo mundo.

O JVC Jazz Festival Miami 2008 vai homenagear o Brasil e dois de seus maiores nomes: Jorge Ben Jor, um dos compositores mais talentosos de todos os tempos, e Sérgio Mendes, que está lançando o novo CD Encanto, produzido por will.i.am, do grupo Black Eyed Peas. Na semana passada Jorge Ben Jor recebeu o Lifetime Achievement Award durante o Brazilian International Press Awards, em Fort Lauderdale.

Além da amizade pessoal que une Sérgio Mendes e Jorge Ben Jor, eles também são ligados pelo clássico. “Mas Que Nada.”, uma das músicas mais conhecidas do planeta. Jorge Ben Jor escreveu esta canção que se tornou um sucesso instantâneo no Brasil e no mundo, e nos Estados Unidos, foi a versão de Sérgio Mendes que conquistou os americanos no final dos anos 60. Nos últimos 40 anos, Sérgio Mendes tem sido uma figura essencial na divulgação da música brasileira. No ano passado ele gravou “Mas Que Nada” mais uma vez em versão hip-hop com o grupo Black Eyed Peas e expôs outra geração de americanos à música que Jorge Ben Jor escreveu em 1963. Ter Sérgio Mendes e Jorge Ben Jor no mesmo festival aqui em Miami será realmente histórico.

Em entrevista exclusiva a Gene de Souza, Jorge Ben Jor falou de sua carreira.

Gene: Desde os anos 60, já se notava que a sua música era diferente, que você estava abrindo seu próprio caminho. Você foi o primeiro a participar do programa “No Fino da Bossa” e também de “Divino Maravilhoso”. Nas suas primeiras gravações, a gravadora não sabia exatamente se você tocava samba, bossa, ou jazz e você teve que mudar de músicos e gravar com um quinteto de jazz.

Jorge: O primeiro discos eu gravei com o quinteto de jazz “Os Copa Cinco”. O Meirelles, líder do grupo, quando leu a partitura falou que era um samba 2/4, mas tinha ele-mentos de jazz. Quando os puristas ouviam, eles não entendiam bem. Esse grupo enten-deu e fez um ótimo trabalho no meu disco. Na gravação de “Mas Que Nada”, o grupo não tinha certeza que batida colocar, então o chamamos de “samba esquema novo”.
Gene: A música “Mas Que Nada” é sem dúvida uma música marcante na sua carreira, especialmente em relação à sua fama internacional. Como foi feita esta música e o que ela significa para você, hoje?
Jorge: O “Mas Que Nada” seria como um pai ou uma mãe pra mim. É por causa dela que estou aqui nos EUA, aqui em Mia-mi falando com você. É por causa dela que eu todo ano faço turnê pela Europa. É uma música que eu tenho que cantar, não pode faltar no repertório. Essa música foi feita na minha adolescência, em Copacabana, ali no Posto 3. Na minha rua tinha uma menina que hoje é casada, cheia de filhos, a Rosa. A Rosinha era da minha turma naquela época e ela tinha umas frases muito engraçadas. Tudo que ela falava com você, terminava com “mas que nada”. Eu dizia “Rosinha vamos ao cine-ma?” e ela respondia: “Que isso Jorge, mas que nada!” Ela gostava também de dançar e de música, então dali surgiu a inspiração do “Mas Que Nada”.

Gene: Essa música foi feita na época que você era conhecido como Jorge Ben. Muita gente se confunde hoje com a sua mudança de nome, especialmente estrangeiros. É verdade que a mudança ocorreu devido à mudança de gravadora e também devido ao guitarrista americano George Benson?
Jorge: Quando eu mudei de gravadora, primeiro para a Polygram e depois para a Warner, foi o André Midani que sugeriu a mudança. Eu expliquei para ele que muita gente no exterior achava que “Mas Que Nada” era uma música de George Benson, pois ele tinha uma música chamada “Masquerade”, então as pessoas faziam confusão na Europa. E tambem, nós sabíamos que outras gravadoras pelas quais eu já tinha passado, estavam esperando eu lançar um disco novo para eles poderem lançar uma compilação junto. Assim, eles não gastariam nada em divulgação, venderiam os discos e confundiriam o público. Então o processo todo demorou três anos. Uma pesquisa foi feita, muito bonita e que eu fiquei muito orgulhoso. A Warner, na época, era uma gravadora de rock, então eles fizeram uma pesquisa para ver se eu seria bom para eles, para o público jovem. Todo mundo aprovou a minha entrada, mas ainda tinha a questão do nome. Eu não podia perder o nome “Jorge Ben”, não podia mudar radicalmente. Então brincamos com meu apelido “Jojo” ou também colocar “Jor” atrás do nome “Ben”. Fizeram outra pesquisa, e foi aceito o nome Jorge Ben Jor e assim ficou.

Gene: Você vai estar aqui para o JVC Jazz Festival no Bayfront Park Amphitheater no dia 17 de maio com a Banda do Zé Pretinho. Fale um pouco da sua banda e o show que vocês irão trazer:

Jorge: Bom, é um show totalmente brasileiro, para dançar mesmo. Tem um pouco de tudo:samba, funk, afoxé, um pouco de rock também. Essa é a tendência da Banda do Zé Pretinho, fazer uma mistura boa de tudo. E também músicas com letras urbanas e suburbanas que as pessoas conhecem e gostam de ouvir, gostam de sentir. Há vinte anos que nós estamos fazendo isso e sempre deu certo.

Gene: A sua letra é uma poesia carioca. Você fala muito do Rio. O seu suíngue é uma coisa bem carioca mesmo.

Jorge: A gente fala do Brasil, mas fala de uma maneira carioca, de uma maneira urbana, da cidade, do subúrbio, o que se fala, o que se veste, das situações que são bacanas de sentir e eu passo isso para minhas músicas. No “W/Brasil” são situações da cidade e do subúrbio, a música “Engenho de Dentro” também, “..quem não saltar agora, só em Realengo”, é uma música mais suburbana. E principalmente também, as minhas musas. Eu faço muita música para minhas musas..

Gene: Como na música “Mulher Brasileira”?

Jorge: (rindo) É, essa é pra todas! “ Mulher brasileira, aonde é que está você?/ Mulher brasileira, eu quero você pra mim..”. Modéstia à parte, as mulheres brasileiras são as mais lindas e as mais gostosas.
Gene: Jorge, o belo projeto Acústico MTV você fez em duas partes, uma com sua primeira banda “Admiral Jorge V”, e a segunda com a “Banda do Zé Pretinho”. O CD e o DVD têm uma qualidade e produção fantásticas. Como foi esse projeto para você?

Jorge: Bem, essa experiência do Acústico para mim foi estranha. Eu não queria fazer, juro. Eu achava que era uma coisa de fim de carreira ou uma jogada só para vender mais disco. Aí eu conversei com meus filhos que viam muita MTV e eles falaram “Pô pai, faz aí. Vai ser super legal”. Aí começou a conversa com a gravadora e eu pedi para reunir a minha primeira banda, já que a gente fazia uma jogada acústica naquela época, o “Admiral Jorge V”. A gente não se via e nem tocava junto há mais de 20 anos. A gente se via assim, um aqui, um ali, ao longo do tempo, mas não tocávamos juntos há 20 anos. Então, foi bacana que a gente só ensaiou com essa banda por três dias, e no quarto dia, nós gravamos o DVD. As outras músicas, tocamos com a “Banda do Zé Pretinho” que foi fácil. O arranjador, Lincoln Olivetti, que já tinha trabalhado com a gente, fez um trabalho maravilhoso. Foi uma experiência muito boa fazer esse disco.

Gene: E as músicas que vocês irão tocar no JVC Jazz Festival? Vai ser um passeio pela sua grande carreira?

Jorge: Ah, vai ter todas. Vai ter desde “Mas Que Nada”. “Chove Chuva”, “País Tropical” , “Que Maravilha”, “Taj Mahal”, “A Banda do Zé Pretinho”, “Que Pena”, e também “Namorado da Viúva”. “Mulher Brasileira” não pode faltar e mais algumas surpresas. Eu e a “Banda do Zé Pretinho” vamos chegar para animar a festa!

Gene: A ultima vez que você fez um grande show em Miami foi em 2003, na mesma época que o GRAMMY Latino fez uma homenagem ao Gilberto Gil. Você fez uma participação maravilhosa e deu para notar que vocês têm uma forte amizade. Como se conheceram?

Jorge: No começo dos anos 70, o empresário de Gil era Guilherme Guimarães, que também era empresário de Caetano, Gal Costa e os baianos todos. Ele me convidou a participar do programa “Divino Maravilhoso”, que era com todos os baianos. Foi aí que me convidaram a participar da Tropicália e o movimento do Tropicalismo. Foi uma época que passamos todos os dias juntos e ficamos amigos, e amigos musicais também. Foi uma época maravilhosa para mim de contato, de inspiração, de abertura. Coisas que eu queria e que antes era impossível.

Gene: Lembro que na festa no Loews Hotel você cantou “Filhos de Gandhi” com a banda do Gil. Foi sensacional.

Jorge: Pois é, cantei “Filhos de Gandhi”, que foi uma música que a gente tocou e gravou juntos no disco “Gil e Jorge”, no LP. Ah, que saudade daquele vinil! Aquele som foi uma coisa incrível. Aliás, essa história do disco “Gil e Jorge” é muito boa e eu vou contar rapidinho. Na época, o presidente da Polygram era o André Midani e ele me convidou para uma festa para o Eric Clapton, que era da Polygram internacional. O Midani convidou os melhores da Polygram, que era eu, Gil, Caetano, Chico Buarque, Gal, um grupo imenso que foi jantar lá no apartamento lindo dele, na Lagoa. O Midani pediu o Eric Clapton para tocar. Todos queriam ver o considerado monstro da guitarra, pô. Ele fez doce e não tocou, não quis tocar pra gente. Aí, o Midani falou assim :“ Já que ele não quer tocar, toca vocês aí e mostra pra ele como é que é”. Aí, eu e Gil, começamos a tocar e a coisa foi esquentando. O Midani ficou animado e sugeriu que a gente fizesse aquilo no estúdio, improvisação mesmo, tipo ensaio. Na semana seguinte, fomos ao estúdio e gravamos tudo em alguns dias e saiu o disco “Gil e Jorge”. Foi só dois violões, um baixo e percussão.
Gene: No CD “23” , no finalzinho do CD, depois da última música tem umas gravações de você brincando e fazendo umas vozes engraçadas. O que foi aquilo?

Jorge: Na época do “23”, meus filhos tinham 8 ou 9 anos e os amigos deles vieram ao estúdio para gravar o coral de “Alcohol”, que é um coral de criança. Eles nunca tinham visto um estúdio na vida e o técnico de som, em vez de receber bem as crianças, deixaram elas inibidas. “O gordinho fica queto aí!” e “Não toca em nada”, essas coisas. Eu vi isso e comecei a brincar, contar piadas e fazer vozes no microfone. As crianças riram, gostaram e o técnico de som estava gravando tudo.

Gene: Algum recado para os brasileiros que vão te ver no dia 17 de maio?
Jorge: Olha, um recado para todos os brasileiros para comparecerem lá no show dia 17. Eu quero dar muita bala, muito doce para as crianças aqui de Miami. Espero contar com todos vocês lá, porque a “Banda do Zé Pretinho” vai chegar para animar a festa!

JVC JAZZ FESTIVAL MIAMI 2008 Um Show Histórico com Dois dos Maiores Nomes da Música Brasileira SERGIO MENDES, JORGE BENJOR, ANTHONY HAMILTON, LEDISI
Sábado, 17 de maio, às 5pm
(portão abre 4pm) Bayfront Park Amphitheater 301 North Biscayne Blvd., Downtown Miami Ingressos: $40 gramado, $65 cadeira, $85 VIP www.MIAJazzFest.com ou pelo telefone 1-877-655-4849.