Esta tem sido, possivelmente, a mais “falada” das muitas “crises” ou “altos e baixos” vividos pela comunidade brasileira nos Estados Unidos.
Como somos originários de um país que convive há décadas com a palavra “crise”, seja econômica, social ou de moralidade, parece que a tendência em exagerar nas tintas do momento de inegáveis dificuldades, está se manifeastando até de forma folclórica.
Os fatos que apontam para a crise são óbvios:
1 - É certo que há mais de um ano o mercado imobiliário - não só da Flórida, mas em todos os Estados Unidos - experimenta uma recessão aguda. Mas não é a primeira nem será a última vez que uma “bolha” de valorização fictícia, explode e causa vítimas.
2 – É fato que o desânimo causado pelas sucessivas recentes derrotas das leis de legalização que beneficiariam cerca de 16 milhões de indocumentados, entre os quais seguramente mais de 1 milhão de brasileiros, jogou uma espécie do “pá de cal” no otimismo de grande parte da nossa comunidade. Isso afetou individualmente as pessoas, as famílias, os negócios e os investimentos. Mas ninguém de sã consciência e conhecimento de causa tem a menor dúvida que a legalização em massa é uma questão de tempo. Todos, até mesmo sos políticos radicias de extrema-direita, sabem que algum tipo de legalização desses indocumentados terá que ser aprovada.
3 – Ninguém discute que após uma sequência de anos onde a comunidade brasileira se expandiu espetacularmente no Sul da Flórida, e nas regiões de Boston, Newark, Atlanta, Philadelphia, New York e em diversas cidades de Connecticut, o que antes se apresentava como “Eldorado para empregos” acabou se tornando um mercado saturado de oferta de imigrantes procurando trabalho. Isso pressionou convenientemente (para os patrões, é claro) o valor da hora trabalhada. Muita gente que chegou, para sobreviver, aceitou executar tarefas que antes pagavam até 18, 20 dólares por hora, por até um terço desse valor. Resultado: muita gente sem trabalho.
Não é a primeira vez que, desde 1987 (que é quando se pode, de fato, estabe;ecer o início de um fluxo mais estável de chegada de brasileiros imigrantes aos Estados Unidos) que se testemunha uma quantidade expressiva de “retornos” ao Brasil.
Da mesma forma que as “bolhas imobiliárias” se repetem em ciclos, as “bolhas do retorno” ocorrem toda vez que as condições de sobrevivência aqui parecem testar a limites muito desconfortáveis, a disposição do imigrante brasileiro em persistir na conquista de seu espaço, como se diz, alcançar seu “American Dream”.
Muitos empresários que investiram e investem 100% de seu tempo, energia e dinheiro no florescimento da comunidade brasileira, se confessam assustados, desanimados, ou no mínimo confusos. A questão aí é um mix de falta de informação, perspectiva histórica, visão macro do mercado e muita impaciência (isso aí já por conta de nossa histórica necessidade de ficar rico da noite opara o dia e viver cada momento como se não houvesse amanhã).
Passada a tempestade, sempre vem a bonança. Tem sido assim a milênios e tudo indica que seguirá sendo. Salvo se ninguém tomar providências contra o aquecimento global, esse sim, o “mostro devastador” contra o qual a humanidade toda tem que se unir.
Como num jogo de relatividade matemática e lógica, o que estamos passando, especificamente nós, da comunidade imigrante brasileira nos Estados Unidos, é por mais um momento de ajustes naturais e lógicos.
Creio que de há muito a comunidade brasileira superou a fase de “transitoriedade” na América. É absolutamente normal que uma fatia dos que aqui vieram com a cabe;ca cheia de ilusões e idéias errôneamente pré-concebidas, retornem ao Brasil e reavaliem sua decisão de ter saído. Mas à grande parcela que de há muito já decidiu por ficar aqui, criou e cria novas raízes a cada dia, se junta mais e mais gente que enfrenta as dificuldades de agora na certeza de que uma concreta opção de futuro para suas famílias está é aqui mesmo.
Não que não haja futuro no Brasil. Obviamente que há. Ainda que tenhamos que ver nosso país subemtido a terríveis “dores do crescimento”, sabemos que o destino maior do Brasil é de grandeza. Mas a objetividade que rege a vida que vivemos, aqui e agora, aponta, para os que já tantos sacrifícios fizeram para estar aqui, para um futuro muito mais promissor vivendo nos Estados Unidos.
Para os que estão sofrendo com a crise, a retração no consumo, a incerteza quanto a seguir investindo na nossa comunidade, tenho apenas a dizer que acredito piamente no futuro de nossa comunidade. Esses ajustes são importantes – apesar dos prejuízos a um e outro – e necessários para melhorar a própria performance da comunidade, de nossos empresários e lideranças.
E que a tal da “crise” seja para nós brasileiros como é sempre para todos os povos civilizados e desenvolvidos: um desafio à criatividade, à produtividade, seriedade e busca de soluções mais coletivas e menos individuais. Aproveitemos o que de excelente a crise pode nos dar, que é abrir nossos olhos, nos tornar mais previdentes e profissionais.

