Sem imigrantes, quem vai reconstruir o Texas?

Dez dias após a passagem do furacão Harvey, no Texas, a questão imigratória ganhou força devido à decisão de um juiz estadual, que ordenou o bloqueio temporário da lei anti-imigrante SB4 - Senate Bill 4. A lei estabelece penalidade para prefeituras e departamentos locais de polícia que se recusem a colaborar com o Departamento de Imigração, fornecendo informações sobre imigrantes. A SB4 foi sancionada em maio e deveria entrar em vigor no dia 1 de setembro. A decisão veio em meio ao desastre que causou mais de $190 bilhões de prejuízo e resultou em 200 mil casas atingidas. Os trabalhos de reconstrução do Texas devem levar meses e a todos ocorreu uma dúvida pertinente: quem vai reconstruir o Texas? A dúvida se dá pelo fato do setor de construção ter perdido mais de 50% da sua mão de obra, no último ano, por causa da caça aos imigrantes que se instalou em vários estados norte-americanos, especialmente no Texas. Uma semana antes do desastre no Texas, a Associação Nacional de Construtores (National Association of Home Builders) se queixava da evasão de trabalhadores do setor por causa das duras leis do Texas. Em maio, foi a Associação de Contratistas Hispânicos (U.S. Hispanic Contractors Association) lamentar o problema. Empreendores da Residential Strategies, Inc. foram mais longe, e afirmaram que a falta de trabalhadores é a responsável pelo aumento de mais de 30% no valor final das casas no Texas, já que os construtores estão tendo que pagar mais caro pela mão de obra. De acordo com Pew Research Center, os imigrantes representam 17.1% do total da Força de Trabalho nos Estados Unidos - 27.6 milhões de trabalhadores dentre os 161.4 milhões que ocupam a força. Dos 27.6 milhões, 19.6 milhões vivem no país legalmente. E quando se fala de imigrante indocumentado, o setor que mais abriga trabalhadores ilegais é exatamente o de construção, com 16% de todos os indocumentados. No Texas, o número é ainda mais impressionante: 50% dos trabalhadores da construção são indocumentados. Tais números diante do panorama de 200,000 casas danificadas pelo furacão Harvey tem incomodado as empresas líderes de construção do país, que já se mobilizam para fechar contratos de reconstrução do Texas e acreditam não haver trabalhadores norte-americanos ou imigrantes legalizados em número suficiente para reconstruir o estado, na velocidade necessária. Alguns empreiteiros esperam um alívio do governo federal em relação aos imigrantes, como aconteceu durante a reconstrução de News Orleans, após a passagem do Katrina, em 2005, quando o então presidente George W. Bush autorizou um relaxamento nas fiscalizações imigratórias de trabalhadores contratados para reconstruir a Louisiana. Estima-se que cerca de 30% dos trabalhadores eram indocumentados. Até agora, porém, o governo presidente Donald Trump não acena com qualquer possibilidade. Mas as empresas de construção, que precisam dessa mão de obra, mantem a esperança. Esperança que também se acende dentre os mais de 1,5 milhões de indocumentados que vivem no Texas – 600 mil somente em Houston- e os 10 milhões de imigrantes restante em todo o país, que enxergam no problema uma chance de serem olhados de forma diferente pelos governos estaduais e federal, e serem enxergados como o que são de fato: uma força motora que só fortalece a economia dos Estados Unidos.