Ser como todo mundo: prós e contras do estereótipo

Por Adriana Tanese Nogueira

triste

Quem alguma vez não desejou não ter certos sentimentos e pensamentos? Quem já não fingiu que não tinha aquelas dúvidas que surgem sem permissão? Quem já não evitou, a custo do ridículo, questionar coisas que se quer deixar quieto porque difíceis de se lidar?

Há momentos em que se daria tudo para poder dizer que, sim, gostamos de fazer tal coisa, de ir a tal lugar, de parecer ser feliz… Há momentos em que ser nós mesmos é sentido como um azar, ou uma maldição ou um esforço danado! Seria tão mais simples se pudéssemos simplesmente eliminar aquelas características, pensamentos e sensibilidade que nos tornam diferentes!

A diferença gera desconforto. Muitas vezes produz puro e simples sofrimento, bullying, maus-tratos, rejeição. Muitas vezes, basta um singelo grão de diferençapara estragar tudo, um olhar oblíquo, um sorriso amarelo, um gesto descontrolado que nossa máscara cai atraindo olhares constrangedores. Pia e ingenuamente lutamos para ser como achamos que os outros nos querem e assim nos enfiamos à força no estereótipo, sufocando a rebelião interior.

E se acontecer de decepcionarmos as expectativas, fazemos de tudo para apagar a marca da “desonra” e convencer aos outros (e a nós mesmos) que houve um engano, que foi tudo um mal entendido. Asseguramos, assim, nossa fidelidade ao modelinho, ao papel assumido e prometemos sua eterna repetição como se fosse uma questão de vida ou de morte.

Estereótipos são confortáveis, macios e acolhedores. Induzem o sono da consciência e por isso permitem um trânsito pela vida sem grandes sacudidas... porque se vive adormecidos. A pequena variedade de comportamentos e escolhas que um estereótipo oferece é nada comparada à infinita variedade psicológica e à unicidade de cada ser humano e não só: à sua tendência natural para uma evolução infinita! Estar no estereótipos evita as responsabilidades de quem assume o que pensa e o que é. Evita ter que fazer escolhas que podem gerar conflitos e dificuldades porque exprimem nossas verdades.

Estereótipos atendem às mais diversas fraquezas humanas: o medo de dizer o que se pensa, o medo de sentir o que se sente, o medo de expressar a própria visão das coisas, o medo de não ser amado e aquele de estar só. Mas também a ignorância, o orgulho e a preguiça. Sobretudo, os estereótipos nos poupam do esfoço de ter uma vida interior, de pensar com a própria cabeça e criar nossa própria realidade. Vestindo estereótipos entramos no fluxo da vida sem ter que parar para pensar. Tudo é “bom”, todos são “amigos” e de todos “gostamos”, e se não gostamos, fingimos, e está “tudo bem”.

No embalo dos estereótipos, esquemos de quem somos e nos deixamos moldar conforme as situações requerem. Passeamos descontraídos e alienados pela vida. E tudo seria realmente perfeito se não fossem aquelas coisinhas que fogem ao nosso controle: uma gastrite e uma dor de cabeça, uma ansiedade “incompreensível”, um filho agressivo, um pesadêlo recorrente, um corpo que engorda, aquelas lágrimas que inexplicavelmente escorrem enquanto se afirma que “se está bem”, as notas medíocre na escola e incapacidade de se concentrar no trabalho e assim vai...

Tão confortáveis são os estereótipos que nos fazem esquecer que somos Seres Humanos. Os seres humanos se diferenciam das demais criaturas por seu altíssimo grau de criatividade. Um ser humano possui um potencial imprevisível e riquíssimo de possibilidade que precisam e devem ser realizadas. Seres humanos sem autorealização são seres infelizes. A felicidade é diretamente proporcional à capacidade de liberdade de ser que cada um consegue expressar. Logo, jogue fora os estereótipos e descubra quem você realmente é. Faça amizade consigo mesmo e se abra para novos caminhos e novas soluções.