Será que dessa vez vai?

Por Gazeta Admininstrator

Quem assistiu ao pronunciamento do presidente Barack Obama na última terça-feira durante o tradicional “State of the Union Address” tem razões para acreditar, ainda que com a necessária e recomendável cautela, que os ventos começam a soprar favoravelmente em Washington no sentido de uma solução para o vergonhoso entrave imigratório norte americano.

Como já se esperava, Obama, de modo inteligente, usou o tom da concórdia e do bipartidarismo, conclamando os congressistas a trabalharem em conjunto, no sentido de encarar de frente e sem demagogia, os graves problemas que a nação enfrenta.

A realidade política norte americana é hoje bem diferente daquelas que há dois anos atrás levou o primeiro negro ao poder máximo da nação mais poderosa do mundo.

Sabiamente, Obama fez um discurso para satisfazer a maioria republicana na Câmara de Representantes e a maioria (ainda que precária) democrata no Senado.
A questão imigratória é, segundo muitos analistas, quase tão crucial e volátil quanto a própria questão da economia. O atentado contra a vida da congressista Gabrielle Giffords no Arizona, causou o impacto que todos imaginavam.

O que se viu no “State of Union Address” foi um clima menos belicoso, e até o impensável, que foi ver, sentados lado a lado, e amigavelmente congressistas democratas e republicanos. Pode ser que tenha sido só teatro, mas de qualquer forma, em tempos de tanta agressividade e radicalismo, é um bom sinal.

Mesmo com a recente crise econômica, adicionada ao pânico imigratório, o que gerou um retorno em massa de imigrantes ilegais aos seus países de origem, a população de indocumentados e seus familiares nos EUA segue passando das 12 milhões de pessoas, em dados tidos como seguramente “confiáveis” pelo departamento de segurança interna.

Adiar indefinidamente a solução legal para essa gigantesca população, além de ser humanitariamente e eticamente condenável, já provou que pode ser um barril de pólvora.

Estados onde a população imigrante indocumentada é muito expressiva temem com todas as razões, pelo radicalismo a outros atos de barbárie, tanto pró quanto contra a causa imigrante, como acaba de acontecer no Arizona.

Os Estados Unidos são “o país do pragmatismo”, o que significa estar sempre buscando a solução mais lógica, mais produtiva, mais adequada e que acomode todos os interesses.

Obama aposta que esse pragmatismo prevalecerá em muitas questões que hoje são bandeiras de divisão entre republicanos e democratas. O presidente está ganhando tempo ou usando a estratégia correta?

O grande desafio para Obama agora é a reeleição em 2012. Caso os dois partidos entrem em um acordo quanto a reforma imigratória, ambos vão querer capitalizar esse trunfo eleitoralmente e aí é onde reside uma das maiores chances de que o processo avance já em 2011.

Porque imagina-se que os dois partidos desejariam ver essa questão resolvida antes do início da campanha eleitoral, em janeiro de 2012, de forma a capitalizarem o feito para si mesmos.

Para os imigrantes, o que importa verdadeiramente é que deixem de ser joguetes inocentes da retórica e do teatro de Washington e possam ter sua dignidade e sua contribuição econômica, social e cultural a esse país reconhecidos da maneira mais simples e básica, que é o direito de viver em paz, sem os fantasmas da perseguição e da destruição de tudo aqui já construído.