Série Cruzando Fronteiras-Imigrantes Vítimas de violência doméstica.

Por Gazeta Admininstrator

Por Silvana dos Santos

Uma brasileira residente de Fort Lauderdale-FL casou-se com um americano que transformou a vida da mesma em um verdadeiro pesadelo. O marido a agredia verbalmente, fisicamente e psicologicamente, com apenas 4 meses de casada o marido sempre a ameaçava dizendo que iria chamar a imigração para deportá-la. O agressor desta vítima não deu entrada no processo de legalização da mesma na imigração, deixando –a em situação ainda mais difícil do que ela já se encontrava antes de se casarem. Hoje a vítima divorciou-se do agressor mudando para uma outra localidade. Mesmo estando divorciada e morando em outro endereço o agressor continua a persegui-lá. Outra brasileira permaneceu casada por 4 anos com um cidadão americano que segundo a vítima não a agrediu fisicamente mas teve de abrir mão a qualquer bem material que pudesse ter neste casamento. O advogado que a família do marido contratou para cuidar da legalização da mesma, recebeu o pagamento e nunca mais retornou para assistir a vítima em sua legalização. Hoje o marido que era viciado em drogas e colocou a vitima sob quatro anos de sofrimento ,decidiu abandonar a mesma. A brasileira agora procura uma forma de ficar legalmente no país.

A esperença de uma vida feliz , tranquila e segura, ficou no sonho para várias brasileiras que se casaram com cidadãos americanos agressores. As vítimas mencionam que o comportamento de seus maridos no começo de seus relacionamentos eram de verdadeiros cavalheiros, até que um dia a verdade veio á tona com a primeira agressão.
O abuso acontece gradualmente, o mesmo aumenta quando a vítima decide defender-se de forma física ou verbal, aumentando assim o ódio no agressor. A violência doméstica atravessa as linhas de raça,idade,nacionalidade,orientação sexual ou religião. 95% das vítimas são mulheres e 95% dos agressores são homens.

Ao casar-se com um cidadão americano, este dará entrada no processo de legalização de sua esposa(o) sendo o mesmo o( “petitioner”-pessoa que da entrada do processon de legalização ou mudança de estatus) . Infelizmente alguns cidadãos americanos, usam de abuso do poder que possuem por serem parte importante neste processo de legalização, e ameaçam reportar seus cônjuges para a imigração. Por medo desta ameaça a maioria dos imigrantes ficam com medo de reportar este tipo de abuso para a polícia ou outras autoridades.

Com o Ato violência contra a mulher (VAWA) aprovado pelo congresso em 1994, esposas(os) , filhas(os) de cidadão americano ou residente permanente legal(LPR), podem auto peticionarem-se para obter residência permanete. A imigração permite que vítimas de violência doméstica iniciem o processo independente da ajuda do agressor. Oficiais de imigração do USCIS(Serviço de imigração e cidadania americana) informam que as vítimas de violência domésticas casadas com cidadão americano, precisam provar que sofreram violência, com testemunhos de pessoas que tenham presenciado atos de violência contra a vítima. Boletins de ocorrências policiais são cruciais neste tipo de processo.Cada vez que ocorrer um incidente em casa , no trabalho ou qualquer local em que a vítima esteja, é necessário que este incidente seja reportado ao departamento de polícia. Relatório psicológico de um psicólogo que esteja tratando a vítima, conta para dar entrada no processo I-360 (Self Petition Spouse or Child of an Abusive U.S. Citizen: File at the Vermont Service Center – Auto petição de cônjuge ou filho de cidadão americano abusivo, que deve ser dada entrada no Centro de serviços do Estado de Vermont) a taixa do formulário custa $260.00(duzentos e sessenta dólares, não estando incluídos os honorários de um advogado).
Os requerimentos para dar entrada neste processo são :

• Ser legalmente casada com um cidadão Americano ou residente permanente legal agressor. A auto petição deve ser iniciada se o casamento for terminado com o falecimento do agressor (não sendo este causado pela vítima) dentro de dois anos de casamento. A auto petição deve ser iniciada se o casamento com o agressor foi terminado através de divórcio dentro de dois anos que a petição foi iniciada devido aos abusos do agressor.
• A vítima deve ter sido agredida dentro dos Estados Unidos.
• A vítima deve ter sido agredida ou sujeita a extrema crueldade durante o casamento, ou deve ser pai ou mãe de uma criança que tenha sofrido agressão e exposta a extrema crueldade por um cidadão americano ou residente permanente legal durante o casamento.
• É necessário ser uma pessoa de bom caráter moral.
• A vítima deve provar que casou-se de boa fé, não somente para obter benefícos imigratórios.
As vítimas que se perguntam o porquê desta atitude agressiva e humilhante vindo de seus parceiros, devem saber que o objetivo, é ter controle total. A psicóloga e assistente social Dam Smith, explica que o agressor normalmente possui baixo auto-estima e este foi uma vítima de violência doméstica quando ainda criança, vindo a ser agressor quando adulto. A violência doméstica não acontece somente em casa, grande parte acontece no trabalho ou na escola onde a pessoa estuda.

O ciclo da violência doméstica

O agressor passa por um ciclo de tenção que começa com: medo, auto-piedade e resentimento. Os medos do agressor o permitem sentir auto-piedade durante um tempo em que este estará lembrando de suas frustrações e sofrimentos vividos em sua vida. Esta fase é chamada de faze de reflexão anormal, esta fase causa resentimento repentino que virá ser espressado externalmente. O ciclo é classificado da seguinte forma: Acúmulo de tenção,explosão violenta e fase de lua de mel e fase de reinício do ciclo. A tenção começa a ser criada gradualmente chegando ao ponto da explosão violenta , onde o agressor faz sua vítima, seguindo para a fase lua de mel onde pode ser o tempo mais difícil para a mulher, que se sente confusa e desorientada. Seria mais adequado chamar-lhe período de “manipulação afetiva” porque o agressor se sente contrariado depois de cometer o abuso. Neste momento de “desdobramento emocional”, sente remorsos pelas suas atitudes. Pede perdão, chora, promete mudar, ser amável, bom marido e bom pai. Esta atitude costuma ser convincente porque o agressor se sente culpado. E a vítima tende a acreditar numa mudança. Por fim a fase de escalada e reinício do ciclo.

Uma vez perdoado pela companheira, começa de novo a fase da irritabilidade, a tensão aumenta e termina a fase relativamente agradável. Quando ela tenta exercer a autonomia recém-conquistada, ele sente de novo a perda de controlo sobre ela. Tem início uma nova discórdia e com ela o reiniciar do ciclo da violência.A violência doméstica tem mulheres em seu maior número de vítimas, mas é importante resaltar que homens também podem ser vítimas de violência doméstica. Pois a vítima pode tornar-se agressor após sofrer vários abusos em sua infância ou na fase adulta.

Tipos de violência doméstica

a. Violência física:
De acordo com estatísticas do FBI a cada 15 segundos uma mulher é agredida fisicamente, 21% das mulheres que chegam em hospitais sofreram abuso físico. Anualmente cerca de 4000 mulheres são agredidas a té a morte.

b. Abuso Verbal: Usando palavras que destruam a auto-estima da mulher, criticá-la simplesmente pelo desejo de humilhar, ameaçar e intimidar verbalmente. Mulheres brasileiras vítimas de abuso de cidadão americano, normalmente são criticadas por sua cultura e escutam seus maridos abusivos chamarem-as de protitutas por serem brasileiras.

c. Abuso economico: Usar o poder financeiro para fazer com que a parceira(o) humilhem-se para obter dinheiro para todas as necessidades que precisem de cobertura monetária. Se a esposa estiver em situação financeira menos privilegiada do que seu marido, este pressiona a esposa a gastar o que tem e se pede dinheiro para algo básico que falta na casa, o marido a acusa de querer somente o dinheiro. Há maridos que forçam esposas abrirem mão de seus direitos em bens que ambos construiram juntos. Outros não permitem que a esposa tenha conta bancária, fazendo com que a mesma deposite todo seu dinheiro na conta bancária do esposo. O objetivo é ter poder para ameaçar de jogar a esposa na rua sem dinheiro algum.
d. Abuso psicológico: O agressor manipula sua vítima por semanas ,dizendo o quanto ela é incapaz de fazer coisas simples e de repente ele traz um bouquet de rosas. Situações como estas são comuns em relacionamentos de abuso psicológico onde o agressor manipula a mente da vítima.

e. Abuso Moral: culpas e chantagem emocional – Abuso do caráter da vítima ,convencendo-a de que esta é imoral e não merece ser bem tratada, fazendo com a mesma sinta-se culpada. A chantagem é um forte instrumento de manipulação onde o agressor utiliza para ameaçar a vítima de que se esta não fizer exatamente o que ele quer , a vítima sofrerá as consequências. Maridos de mulheres imigrantes usam o processo de legalização americana para chantageá-las de que irão retirar o processo da imigração não permitindo que a mesma obtenha nem mesmo documentação legal básica para trabahar.
A anistia internacional publicou um quadro com oito principais tipos de coerção utilizados por agressores para oprimirem suas vítimas.

1.Isolamento: A mulher é isolada do convívio de familiares , amigos ou qualquer meio social, estando desta forma sucetível a lavagem cerebral que o marido fará.
2.Monopolização de percepção: Isso significa eliminar telefonemas, atividades e até mesmo assistir TV,pois isso daria á esposa visão da vida normal.
3. Indução de fraqueza física: A vítima é permitida dormir pouco fazendo com que sua resistência física enfraqueça.
4. Ameaças: Manter a vítima com medo perpétuo
5. Permissão occasional: Manter a mulher confusa e esperançosa sobre a mudança de controle do marido.
6. Demosntrando onipotência: Quando o marido esconde as chaves do carro, nega qualquer quantia em dinheiro, bloqueia chamadas telefônicas de longa distância, recusa-se em comer a comida que a esposa prepara. Tudo para demosntrar que o poder e controle que ele tem.
7. Degradação: Isso significa que o esposo fará a esposa acreditar que ela é gorda, stúpida,feia, sem nenhum talento ou habilidade, para que a auto-estima da mesma diminua até o ponto da vítima fique convencida de que não merece um tratamento melhor
8. Reenforçar exigências insignificantes: fazendo isto, o agressor condiciona a vítima á obedecer exigências maiores.

Para as vítimas de violência doméstica que estiverem casadas com cidadãos americanos e forem dependentes de seus maridos para obterem legalização é importante que saibam se estão vivendo uma situação de violência doméstica, se alguns dos ítens explicados acima ecaixarem em suasituação é preciso buscar ajuda de orgãos governamentais especializados no caso, estes orgãos oferecem abrigo em caso a vítima não se sinta segura em permanecer em sua residência e indicam um advogado a baixo custo para cuidar do processo de divórcio e legalização da vítima. Os centros de apoio as vítimas de violência doméstica dão tratamento psicológico e orientação, como planos de segurança que as vítimas devem seguir ao estarem vivendo uma situação onde temam por sua segurança. Abaixo estão algumas dicas de segurança ensinadas pelo Advocate for Victms em Maimi:

• Mantenha um telefone celular disponível para ligar para 911.
• Se a vítima estiver em um relacionamento violento e estiver com medo, peça ao vizinho ou amigos próximos para ligarem para a polícia se eles escutarem violência, pois talvez a vítima não tenha condições de telefonar. Se a vítima tiver filhos maiores de 3 anos de idade, esta precisa ensinar a criança a ligar para a polícia ou buscar ajuda.
• Mantenha-se em quartos que possuam mais de uma saída para que não fique presa.
• Fique fora de quartos que tenham objetos cortantes.
• Use seu julgamento e intuição e mantenha uma bolsa de emergência com suprimentos em caso de ter de sair rapidamente.
• Aprenda os sinais de violência e procure sair quando perceber que a tensão esta aumentando.
• Remova todos os objetos cortantes da linha de visão do agressor.
• Permita que amigos de confiança e familiares e o trabalho saibam o que esta acontecendo ,para que estes possam ajudar em caso de emergência.
• Mantenha cópias de documentos importantes, como conta bancária,certidão de nascimento, cartão de seguro social, número de seguro etc, e entregue-os para alguém de confiança fora de sua casa.
• Ensaie sua partida.
As vítimas devem saber que há ajuda disponível atavés da Linha Nacional de Violência doméstica 1800-799-7233. Há assistência para todos os idiomas. Para abrigos nos Condados de Broward – (954)961-1133, Dade Advocate for victms (305)758-2546, Palm Beach YWCA (561)640-9844. É importante que as vítimas que tenham filhos, informem a idade dos mesmos,pois alguns abrigos possuem limite de idade.