Série especial sobre agrotóxico - Especial 4

Por Gazeta Admininstrator

Especial 4 - Metade dos agrotóxicos aplicados não atinge o alvo, diz pesquisador da Embrapa.

Lucas do Rio Verde (MT) - Aldemir Chaim, pesquisador da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa) em Jaguariúna (SP), afirmou que, em média, metade dos agrotóxicos aplicados não atingem o alvo. Essa metade se perde no solo ou no ar.

Segundo o pesquisador, dependendo das condições do vento e de temperatura, as gotas do agrotóxico pulverizado podem simplesmente ser levadas para outras plantas, rios ou mesmo populações que se encontrem próximas às grandes lavouras. No dia 1º de março, o município de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, foi pulverizado por uma nuvem de agrotóxicos que caiu sobre as casas, alimentos e pessoas.

"Outro fator que pode prejudicar a aplicação do agrotóxico pode ser a regulagem dos bicos pulverizadores. No caso da pulverização feita por aviões, essa gota pode se perder na atmosfera e não chegar às plantas. Essa gota é uma gota leve e pode ser levada pelo vento e atingir áreas muito distantes. Dependendo das condições de aplicação, essa perda pode ser de 20% a 70% só para a atmosfera", afirmou Chaim.

Para culturas de feijão, quando as plantas estão ainda novas, com quatro ou cinco folhas, os agricultores geralmente fazem uma aplicação generalizada, como se toda a superfície do terreno estivesse coberta de folhas. Se as plantas ocupam apenas 10% do terreno, cerca de 90% do agrotóxico vai diretamente para o solo ou para o ar.

Para o cientista da Embrapa, as pesquisas na área de tecnologia de aplicação não são incentivadas, até por desconhecimento do problema. "Muito se fala dos problemas dos agrotóxicos, mas muito pouco se conhece. O agrotóxico se torna problema a partir do momento que ele é diluído em uma solução de água ou num óleo e é pulverizado. A maneira como se pulveriza é que é o problema. Por falta de pesquisas nessa área, o Brasil desperdiça milhões", diz.

Para Chaim, nossos agricultores não estão devidamente capacitados para trabalhar com os agrotóxicos. "O despreparo dos agricultores é mundial. Na Inglaterra, para o produtor poder utilizar agrotóxicos, tem que ter um curso que demora meses. No final, ele é avaliado e recebe um certificado. Só a partir desse momento é que pode usar agrotóxicos", compara.

"Em algumas situações, de cada R$ 100 gasto com agrotóxicos, cerca de R$ podem estar sendo desperdiçados. Isso vai influenciar no custo final dos produtos, além de contaminar o solo, a água e o ar", afirmou.

O Brasil consumiu em 2005 cerca de R$ 10 bilhões em agrotóxicos, segundo o Sindicato Nacional das Industrias de Defesa Agrícola.

Agência Brasil