O que a Serra Gaúcha e a Califórnia têm em comum?

Por Simone Raguzo

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Para quem aprecia um bom vinho, a chegada do outono, e logo mais do inverno, é uma boa pedida. Friozinho – ou ao menos um clima mais ameno, como é o caso da Flórida, e uma taça de um bom vinho para esquentar. Melhor ainda se for em uma vinícola, onde o clima é ideal para a produção e degustação.

Quem está no Brasil, o ideal é visitar a Serra Gaúcha, o grande destaque brasileiro em volume e qualidade de vinhos. A produção das vinícolas do Vale dos Vinhedos, onde está a cidade de Bento Gonçalves – “Capital Brasileira do Vinho”, a 109 quilômetros de Porto Alegre -, surgiu juntamente com a chegada dos imigrantes italianos à região. Os descendentes dão continuidade à produção, feita de uma maneira ainda bastante artesanal, mas que não deixa a desejar na qualidade, influenciada também pelo clima favorável à vinicultura. A produção do Vale dos Vinhedos representa mais de 50% da produção brasileira.

Somente Bento Gonçalves conta com 36 vinícolas, onde anualmente são produzidas mais de 127 mil toneladas de uva e o equivalente a 91 milhões de litros de vinho. Também a primeira região do Brasil a obter a Indicação de Procedência pelo Vale dos Vinhedos. Este certificado qualifica a origem do produto em nível mundial.

Para quem estiver disposto a conhecer a região, as vinícolas são abertas aos visitantes, que podem apreciar todo o processo, desde as parreiras de uvas à fabricação do vinho, além, de degustá-lo. Algumas vinícolas oferecem até cursos degustação para grupos.

Vale a pena “perder” um ou dois dias para conhecer a Serra Gaúcha, não somente pelas vinícolas, mas também pelo charme da arquitetura colonial inspirada em construções italianas.

Califórnia Para quem está nos Estados Unidos e aprecia tomar um bom vinho (ou vários bons vinhos), há pelo menos 2,7 mil vinícolas no estado da Califórnia. A combinação de clima e solo faz da região um dos principais destinos do mundo para enólogos e amantes do vinho.

Segundo dados do California Wine Institute, o estado é responsável por 90% da produção de vinho dos Estados Unidos e é a quarta produtora mundial da bebida, depois de França, Itália e Espanha. Anualmente, de acordo com o órgão oficial de turismo, California Travel and Tourism Commission, o estado atrai cerca de 20 milhões de turistas para as regiões dedicadas à vinicultura.

Todo esse interesse advém da qualidade do produto fabricado e da grande variedade de uvas cultivadas no estado - aproximadamente cem. Cada variedade de uva tem aroma e sabor próprios, o que contribui para o resultado final da bebida.

Orgulhosos de sua produção, vinicultores californianos dizem que o estado é a melhor região do mundo para degustar vinhos. Além de Santa Barbara, pelo menos oito regiões californianas se dedicam quase que totalmente à vinicultura - Napa, Sonoma, Mendocino, Lake, Amador, Monterey, Santa Cruz, San Luis Obispo.

Duas cidades muito procuradas por turistas, que aproveitam a viagem a San Francisco ou Los Angeles para ‘esticar’ até às vinícolas, são Napa - que fica a menos de uma hora de carro de San Francisco - e Santa Barbara, a cerca de uma hora e meia de Los Angeles. Ambas apresentam grande variedade de uvas e de vinhos.

As vinícolas também são abertas à visitação para quem quiser conhecer as instalações e todo o processo de produção da bebida. A melhor época para fazer degustação de vinhos na Califórnia é do final de agosto ao final de setembro, quando a maioria das vinícolas faz a colheita das uvas.

Do Sul do Brasil à Califórnia

Os gaúchos Filipe Guerim e Bianca de Azevedo, que há cinco anos vivem em Pompano Beach, na Flórida, são apreciadores de um bom vinho. Naturais do estado que concentra uma grande quantidade de vinícolas, Filipe e Bianca por várias vezes visitaram a Serra Gaúcha e suas vinícolas.

Morando nos Estados Unidos, o casal já vinha planejando conhecer também as famosas vinícolas californianas. A visita foi feita no início de setembro. Eles voaram até a Califórnia, onde alugaram um carro para percorrer a costa californiana. De San Francisco, aproveitaram para ir até Napa, onde visitaram as vinícolas Bell Wine e Chandon.

De acordo com Filipe, em cada vinícola o visitante degusta aproximadamente oito vinhos. “No caso da Chandon é mais limitado porque ela não tem uma grande variedade de espumantes”, explica.

Com a experiência de ter conhecido as duas regiões referências quando o assunto é vinho, o gaúcho aponta as diferenças e semelhanças.

“Na Serra Gaúcha, a produção é mais artesanal, mais rústica, e sem muita tecnologia.

Os produtores são pessoas que já nasceram e cresceram fazendo isso, é bem familiar. Além de muita gente não saber fazer outra coisa, muitos continuam produzindo vinho para manter a cultura”, conta. “Já na Califórnia a vinicultura é um grande business.

esmo que as vinícolas sejam pequenas, elas criam uma estrutura para concorrer uma com as outras. A produção não é cultural. Investe-se na qualidade da uva, se aproveita a temperatura, a terra”, aponta.

“Mas as duas regiões têm vinhos de qualidade. Tanto na Serra Gaúcha, quanto na Califórnia, você pode visitar e receber explicação sobre as parreiras mais adequadas, sobre o tipo de uva, o solo, processo de produção”.

Outra diferença apontada pelo brasileiro é que no sul do Brasil a visitação e a degustação são gratuitas e o visitante pode chegar à vinícola a qualquer momento. Na Califórnia elas podem variar de $30 a $200 dólares e é necessário fazer reserva. Porém, ambos lugares valem a pena conhecer!