Seu filho finge que não te ouve? - Parte I

Por Adriana Tanese Nogueira

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Ignorar seu filho quando ele não te ouve não é uma boa ideia. É, aliás, tão ruim quanto gritar para ele para que te ouça. Vivemos hoje na gangorra entre autoridade zero e autoridade autoritária. Filhos ouvem, sim, porém, eles às vezes fingem.

Da cozinha a mãe diz, “Felipe, dá uma ajeitada no teu quarto antes que as visitas cheguem”.

Felipe tem 8 anos e continua brincando com os seus carrinhos ou está assistindo a televisão e continua sentado. Após 15 minutos, a mãe repete a mesma injunção. Nada acontece. Ela repete novamente, nada. Está atrasada, bufa, solta um “Quando seu pai chegar, quero ver...”. Felipe continua jogando seu videogame e a mãe continua na cozinha preparando o jantar.

Resultado: Felipe acabou de demonstrar que pode fazer o que quer e a mãe de Felipe perdeu mais uma batalha no fronte do respeito.

Comportamento alternativo: Da cozinha a mãe diz, “Felipe, dá uma ajeitada no teu quarto antes que as visitas cheguem”.

Felipe finge que não ouve. A mãe de Felipe para o que está fazendo, olha para o filho, confere se ele está por acaso tão distraído ao ponto de não ter mesmo ouvido. Uma mãe conhece seu filho, mas é preciso sempre dar um pouco mais de crédito. Ela se dá conta que Felipe está simplesmente desconsiderando o que ela fala. Então, ela sai da cozinha e vai até ele. Isso tudo tem que acontecer nos primeiros dois minutos no máximo após a primeira chamada.

Vai até a sala, olha pro filho. Ele continua na frente da TV. Ela se aproxima, se agacha na frente dele – isso para estar à altura dele, assim podem fazer contato olho no olho. Pega na mão do filho, ou no braço – isso porque estabelecer contato físico faz com que sua presença seja impossível de ser ignorada, por outro lado amortiza o medo da violência (você vai bater nele?) nos dois. Uma vez que você tem a atenção do filho, repita o que lhe pediu antes. Sua fala tem de ser séria, tranquila, segura. E continua no mesmo lugar, ou seja, marca seu território. Fique nessa posição, de olhos nos olhos dele, até ele se mexer, o que eventualmente vai acontecer.

A criança pode rapidamente se levantar, demonstrando que foi um descuido e que está pronta a alinhar-se ao pedido da mãe; ou ela pode se arrastar até o quarto. Nesse caso, você, mãe, continue na sua posição, deixe seu filho se levantar sozinho e ir na direção do quarto e... vá atrás dele. Você precisa se certificar que o pedido será levado adiante.

Por que a criança se arrastou? Ela pode estar com algum problema na escola, pessoal dela, e todos nós temos dias assim. E quando temos dias assim, precisamos de um suporte, não? Dê esse suporte a seu filho acompanhando-o até o quarto e mantendo sua postura firme e calma, enquanto ele começa a arrumar o quarto. Vendo que tudo procede bem, encoraje-o, mostre sua apreciação (sem exageros!) e volte ao que estava fazendo. Ao permanecer um momento no quarto, você faz o papel de uma bengala: a força de vontade e disciplina de seu filho se apoia em você para se fortalecer e vencer a tendência depressiva e inerte que certas emoções produzem. Ou – e isso é mais comum – seu filho está bravo com você, com ou sem razão (ele pode ter razão, sim). Nesse caso, você continue em sua posição-bengala na entrada do quarto e preste atenção ao comportamento dele. Sua firmeza deve ser redobrada, sem virar autoritária. Porque o quarto precisa ser arrumado de qualquer jeito! (Continua na próxima coluna)