Sexo na terceira idade

Por Gazeta Admininstrator

Do bolso do microempresário Nelson Oliveira, 66, não sai um tostão para comprar Viagra. E ele garante que, desde que se casou, há 48 anos, transa diariamente com a mulher. Ao lado, Néia, 65, só confirma. “É sim, é sim.”

Quando o assunto é desempenho sexual, com frequência se apela a uma testemunha - ainda mais quando quem fala é alguém do sexo masculino e de terceira idade.

Feitas as contas, Oliveira teve com a mulher 17.540 relações nesses quase 50 anos, pontual como um relógio cuco e sem ajuda química.

Esse índice de “abstenção zero” pode gerar polêmica, mas, a julgar pelo Datafolha, a vida sexual, após os 60, é mais movimentada do que prega a maledicência popular, que costuma enxergar na terceira idade o fim do erotismo.

Quase metade dos idosos ouvidos na pesquisa declara ter relações sexuais - um quarto deles, uma vez ou mais por semana. Mesmo na faixa dos maiores de 75, 24% se revelaram sexualmente ativos.

Os mais afoitos podem dizer que, com o advento das drogas para disfunção erétil, agora é fácil. Só que 88% dos homens entrevistados dizem nunca ter usado remédio, embora até admitam alguma mudança no desempenho.

Exemplo: o músico Jurandir Bueno, 62, jura que nunca tomou nada e que vai transar até o fim da vida; confia no próprio corpo, diz. Só faz uma ressalva: “O processo é demorado”. “Gosto de conhecer bem a pessoa, preciso estar envolvido. Não sou uma máquina!”

Jurandir “pesquisou” a bailarina durante quatro meses, até irem para a cama. “Eu também não estava com pressa. Com a idade, as coisas ficam mais tranquilas”, conta a bailarina Sônia Arakaki, de 62, namorada de Bueno, e que foi casada durante 20 anos e tem três filhos.

Reféns do machismo
Em qualquer faixa etária, é previsível uma dose de exagero ou, digamos, de inverdades sobre o desempenho sexual, afirma o geriatra Wilson Jacob Filho, colunista da Folha. Ain-da mais quando mexe com alguns tabus da masculinidade. “O que se espera deles é que se mantenham viris, e os que não são suficientemente esclarecidos associam a dificuldade sexual à incompetência, e não a doenças como diabetes, hipertensão, depressão ou problemas na próstata”, diz o geriatra.

Jacob dá um exemplo de como a imagem é fundamental. “Quando o HC tinha o Laboratório da Impotência, atendia dez pessoas. Mudaram o nome para Laboratório da Disfunção Erétil, e o número de pacientes foi para uns 10 mil”, conta.

Na pesquisa Datafolha, a diferença de visão do sexo entre homens e mulheres revela um dado paradoxal: 74% dos homens afirmam ter vida sexual ativa, enquanto 76% das mu-lheres dizem exatamente o contrário. Considerando que o índice de casados de terceira idade é 47%, com quem eles transam?

Existem várias possibilidades, dizem os especialistas: sozinho (masturbação), com companhias eventuais ou usando outras formas de atingir o orgasmo, sem penetração peniana. E as esposas? “Muitas mulheres consideram sua missão sexual cumprida, depois da procriação, e acabam consentindo tacitamente que o marido se mantenha ativo”, diz Dorli Kamkhagi, da USP.

Embora faça questão de sexo, a cabeleireira Sônia Maria Gonçalves, 63, casada três vezes, três filhos, conta que, com a menopausa, dispensou temporariamente os “serviços” do segundo marido. “Acabou a euforia. Ele foi o homem que mais me ensinou coisas, mas mesmo assim eu não queria saber de sexo. Até disse: ‘Pode procurar outra, que comigo não rola’.”

Há seis meses, Sônia descobriu um câncer de mama e retirou o seio direito, mas diz que isso não atrapalhou em nada o relacionamento entre ela e o atual marido, que tem 54 anos. “No começo fiquei constrangida, mas ele disse que isso era bobagem e pediu para ver o curativo.”

A palavra-chave é compreensão, define o empresário Wanderlei Marques, 62, casado há 32 anos. “Quando você é recém-casado, toda hora é hora. É aquela loucura. Mas, como a gente faz muitas vezes, a qualidade fica pra depois.” Ele conta que, em todos esses anos, o período sexual mais difícil foi quando nasceu o primeiro filho. “A mãe, ali, é só da criança. Se você estiver com vontade, vai continuar.”

Wanderlei não se incomoda em dizer que usa remédio. “Não adianta dizer que a disposição sexual não cai com a idade. Por sorte, a medicina está a nosso favor.”

E manda seu último recado: “Não existe Viagra pra mulher. Então, se você toma o comprimido, mas ela está fria, não adianta nada”.

Os vários aspectos envolvidos
A função sexual envolve processos biológicos básicos que se iniciam com a concepção e prosseguem na maturidade. Recebe influências que variam de cultura para cultura de acordo com valores próprios, estereótipos de masculinidade e de feminilidade e tabus sobre comportamento sexual. Aspectos psicológicos e emocionais afetam de maneira acentuada o comportamento sexual.

A função sexual continua por toda a vida. O adulto jovem utiliza seu relacionamento sexual como importante meio de expansão emocional de acordo com seus valores culturais. O casamento traz nova dimensão à função sexual, envolvendo a relação síncrona entre duas pessoas. Os filhos trazem novo estágio ao desenvolvimento sexual com o aparecimento da figura do pai e da mãe com todas as suas repercussões.

Climatério e impotência
O climatério para algumas mulheres é um período de problemas psicológicos em que o fato de não poder mais gerar filhos propicia sentimento de desvalorização pessoal. Outras mulheres, entretanto, descobrem nesta fase uma nova liberdade. O homem não tem o problema da diminuição da fertilidade. Alguns tiveram filhos com noventa anos de idade. Mas o homem pode experimentar crises emocionais que se refletem no seu vigor sexual. O homem idoso não perde a sua função sexual sendo um mito em nossa cultura o fato de a terceira idade ser assexuada.

Com o avanço da idade, há uma tendência à diminuição da função sexual, havendo uma queda na frequência das relações sexuais. Após a menopausa, a mulher pode apresentar problemas se-xuais como a diminuição da libido, falta de orgasmo, diminuição da lubrificação da vagina e dor, durante a relação sexual, distúrbios estes plenamente corrigidos com o uso de medicação apropriada (reposição hormonal). O homem pode apresentar impotência devida a pro-blemas circulatórios e à diminuição da sensibilidade na região do pênis, mas, na grande maioria das vezes, a impotência se deve a fatores emocionais. A utilização de determinados medicamentos (antihipertensivos, tranquilizantes, etc ) podem provocar a impotência no homem. O álcool e o fumo também podem diminuir a potência sexual.
Os aspectos psicológicos decorrentes de alguma doença formam a situação mais comum geradora de impotência. É a pessoa sabedora de ser portadora de diabetes, por exemplo, que passa a ter impotência unicamente devido a problemas emocionais. O sentir-se velho pode constituir por si só uma causa da impotência. Aqui deve ser destacada a depressão, a ansiedade e a angustia.

A impotência atinge profundamente o homem gerando baixa autoestima e infelicidade. Toda situação de impotência deve ser avaliada clinicamente, com destaque para aspectos circulatórios e urológicos. Os cuidados psicológicos são fundamentais e devem estar sempre presentes. O idoso, em geral, apresenta componente orgânico associado ao psicológico. Recentemente, surgiu um medicamento para uso oral,denominado “sildenafil”, que é efetivo e bem tolerado no tratamento da impotência.

A atividade sexual permanece na terceira idade, havendo somente uma diminuição na sua frequência. O sexo na terceira idade, além da satisfação física, reafirma a identidade de cada parceiro, demonstrando que cada pessoa pode ser valiosa para a outra. Junto ao sexo também estão valores muito importantes na terceira idade: a intimidade, a sensação de aconchego, o afeto, o carinho, o amor.

Tanto o homem quanto a mulher continuam a apreciar as relações sexuais, durante a terceira idade. As alterações que ocorrem na mulher - como a secura da vagina, por exemplo - ou, no homem - como a diminuição no tempo de ereção, ou a diminuição da fase de excitação para ambos - não são fatores que chegam a preju-dicar o prazer sexual. A boa adaptação sexual é o principal fator que determina o prazer sexual.

A atividade sexual em qualquer idade é demonstração de um estado de boa saúde tanto física quanto mental.