Simbologia Psicológica da Páscoa

Por Adriana Tanese Nogueira

Páscoa é ressurreição. O corpo de Cristo ressurge do mundo dos mortos. Ele é real e palpável mas não é como antes. O que significa do ponto de vista psicológico, nosso, cotidiano, a simbologia da ressurreição de Cristo?

Um sonho ajuda a compreender: A sonhadora se vê caminhando junto a outras pessoas no leito seco de um rio. Eles estão subindo o leito, na direção da montanha, origem da nascente. Avançam cabisbaixos, cansados e desgastados.

O rio simboliza a vida, a vida que corre, que é movimento fluído, que nunca está parada. O rio está seco, só sobrou seu leito. Significa que a vida ficou “seca”, sem água vem a seca, tudo fica estéril, não ha vida. essa metáfora representa aquela condição em que a vida se tornou pesada, é quando nos arrastamos adiante por hábito, por necessidade de sobrevivência, mas sem alegria. Perdemos o sentido da nossa vida, não sabemos mais para onde estamos indo e por quê estavamos fazendo o que fazemos. Uma vida da qual não se entende o sentido vira labuta e sofrimento.

E quanto isso acontece, quando a realidade vira peso e repetição, tudo o que se almeja é... Chegando ao topo da montanha, o povo corre para o guichê com escrito: “Agência de tursmo”. Amontoados, todos querem sair de férias. Mas a moça do guichê diz: “Os bilhetes para as férias estão esgotados. Só temos bilhetes para a Páscoa.”

O inconsciente contém muita sabedoria e mais do que isso orientação, se somente lhe prestarmos atenção e aprendermos a dialogar com ele. Esse é um sonho de início de análise. A sonhadora já fez uma escolha importante: a de se conhecer e se cuidar. Por isso, pôde ter um sonho desses que questiona o comportamento anterior e lhe indica a razão de seu mal-estar.

O sonho fala que é tempo de ressurreição, ou seja de mudar o paradigma. Do ponto de vista psicológico, o corpo espiritual é o corpo que fala e é ouvido, significa darmos valor espiritual aos conteúdos interiores. Sintomas falam, desde a dor de cabeça à dúvida e medo. Lembranças, imagens, fantasias, sensações, pensamentos, sentimentos, intuições: tudo isso tem valor. Simbolicamente, o valor espiritual de uma coisa a torna mais universal do que as outras, ou seja tem um valor maior que transcende a questão individual. A ressurreição do corpo então significa abraçar com carinho todos seus conteúdos interiores (que não se identificam com os órgãos físicos mas com o que sente), mesmo que não estejam alinhados com suas crenças e desejos, sem condená-los e julgá-los mas querendo compreendê-los e estando dispostos a, assim fazendo, sermos transfigurados.

Mentalidades vão e vem, a história mostra que mudamos. Nenhuma cultura fica a mesma, portanto, o que muda é como pensamos. É nossa cabeça que precisa se abrir para o novo. As ideias novas vêm de dentro da gente, são intuições e percepções que trabalhadas se tornam novos pensamentos e entendimentos da realidade. O mal-estar que sentimos diante de algo é um sintoma importante, uma mensagem a ser ouvida e decifrada. O ser interior clama por evoluição, é o rio que precisa correr, que nunca está parado. Quando paramos, quem para é a nossa cabeça, mas o ser dentro da gente continua querendo correr adiante, se expandir, crescer.

Nos fecharmos a este processo produz sintomas físicos, emocionais e relacionais. É o leito seco do rio. É o corpo morto. E é o corpo que precisa ressurgir.