Situação das caixas: um belo “welcome back” - Editorial

Por Marisa Arruda Barbosa

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Só de imaginar a situação de quem resolveu voltar ao Brasil com suas mudanças e foi lesado pelas companhias de mudança e o fato de ter que recorrer à Justiça, já causa indignação.

Esta semana, publicamos uma matéria com as primeiras histórias de muitas que devem estar por vir, de pessoas que tiveram suas mudanças apreendidas e foram abandonadas a sua própria sorte pelas empresas de mudança. Elas contrataram despachantes também sem nenhuma especialização e, com isso, seu dinheiro foi derramado para o ralo.

Os gastos são muitos, e poucos resolvem ir até o fim de uma jornada de anos de paciência e com muito estômago para encarar a Justiça brasileira – pagando pelos brasileiros que vivem nos Estados Unidos e contam com um sistema “quebrado” para ter o próprio lucro: as empresas de mudança que não são idôneas.

Foram milhares de reais e dólares gastos por esses brasileiros que resolveram ir até o fim. Foram inúmeras viagens aos portos, à Polícia Federal, aos Estados Unidos para descobrir que, por motivos diversos, seus processos foram parados.

Recentemente, falamos de grupos de brasileiros que, durante manifestações feitas no sul da Flórida, apresentaram  reivindicação dos brasileiros no exterior. A situação das caixas, que já ocorre desde 2005, mais ou menos, deveria abrir um precedente para que a Justiça seja feita com maior facilidade. Nos casos desses brasileiros na matéria desta semana, entendemos como “justiça” o ato de conseguir os bens. Mas isso não é justiça.

Quem irá pagar por fazer irregularidades, como enviar caixas e não mudança, que todos sabem que não se pode enviar e muitos continuam enviando e oferecendo tal serviço? E, pior, quem irá pagar pela descoberta de artigos de contrabando dentro da mudança do contêiner de Maurício em 2009, cuja história, contamos na matéria?

Talvez entre as reivindicações dos brasileiros deva estar um pedido de maior cooperação e vontade da Justiça dos dois países.

Orlando, que teve sua mudança apreendida, disse uma frase que muitos que foram lesados por empresas de mudança devem sentir. “Fiquei muito chateado. Eu me sentia como uma pessoa que foi condenada à morte, que ficou no corredor da morte sem ter matado ninguém ou não ter feito nada errado. Vivi uma grande injustiça. O Ministério Público não faz nada para ajudar a resolver esse grande problema de centenas de pessoas”, disse Orlando. “E aí, na América do Norte, também. Os órgãos responsáveis não fazem nada. É cada um por si”.

Ou seja, a volta para o Brasil desses emigrantes que resolveram voltar, nos últimos anos, com a crise econômica, foi marcada pelo grande “welcome back” à Justiça brasileira. Eles sentiram também o que é cair no limbo jurídico entre os dois países, onde não há leis e nem justiça.

Por isso, eis a importância de tornar público qualquer esforço ou resultado no sentido de trazer à luz essas histórias de brasileiros que construíram algo nos Estados Unidos e tiveram suas histórias esquecidas dentro de caixas abandonadas nos galpões, com diplomas, fotografias e artigos comprados com o resultado do trabalho suado do imigrante.