A sociopatia, ou distúrbio antissocial de personalidade, é uma condição psicológica ainda pouco compreendida, pois sua realidade é mais complexa do que parece. Só a menção da palavra assusta e se tende a recuar diante de um sociopata. Entretanto, por incrível que pareça, o sociopata não necessariamente tem sentimentos malévolos com relação aos outros. Seu problema é que ele tem muito pouco sentimentos verdadeiros com relação aos outros em geral. O efeito disso é que seu comportamento acaba sendo indubitavelmente malévolo, mas não porque ele teve esta intenção.
As causas da sociopatia são ainda desconhecidas. Parece que uns 50–65% dos casos podem ser atribuídos à hereditariedade, enquanto a percentual restante é relacionada a um complexo e confuso conjunto de fatores ambientais. Note-se, porém, que um histórico de violência e abuso na infância nem sempre está presente entre os sociopatas. A sociopatia é uma patologia que diz respeito à dimensão social. O indivíduo não sabe conviver em meio aos outros, de forma harmoniosa ou mesmo que permita que o coletivo, o conjunto humano, sobreviva e prospere. Por que? Porque ele está focado em si e em seu interesse imediato. Esta atitude é infelizmente muito comum, mas no sociopata transborda na patologia. Quais são os principais traços do sociopata? • Desprezo pelas leis e costumes sociais • Incapacidade de reconhecer o direito dos outros • Incapacidade de sentir remorso ou sentimento de culpa • Falta de empatia • Dificuldade nos relacionamentos • Manipulação • Engano • Hostilidade • Tendência a assumir comportamentos e atitudes violentas • Irresponsabilidade • Impulsividade • Comportamentos arriscados
As causas da sociopatia são desconhecidas. 50–65% dos casos podem ser atribuídos à hereditariedade O traço comum de muitos desses distúrbios reside em um defeito de consciência. Isso significa que o sociopata não se dá conta do que faz, e apresenta uma condição psíquica que, de alguma forma, lhe impede de se dar conta do que faz. Logo, ela continuará cometendo atos que prejudicam os outros potencialmente para sempre, se não for impedido por força externa. Ele não aprende com os seus erros, não reconhece o sentimento ferido da outra pessoa, não percebe a dor que causa, não tem empatia com as lágrimas que vê escorrendo no rosto da pessoa que o ama. O sociopata não tem nenhum verdadeiro vínculo com a outra pessoa, não sabe o que é amar e confiar, termina frequentemente numa prisão sem saber muitas vezes o porquê. Não entende, separado como está das pessoas “normais”. A terapia pode ajudar a suavizar alguns sintomas e efeitos colaterais da sociopatia, sobretudo nos casos menos graves. Mas não é comum que um sociopata busque ajuda profissional e isso justamente porque há de base um defeito de consciência. Ele pode perceber que tem algum problema, vê que acaba sempre em situações difíceis, que sua esposa não está feliz com ele e no trabalho há atritos, mas... ele culpa os outros ou as circunstâncias. A sociopatia como distúrbio psiquiátrico é, a meu ver, o caso extremo e triste, de uma realidade presente no nosso dia-a-dia e que chamaria de “sociopatia cultural”. Quando somos socializados a não prestar atenção à dor nossa e alheia, quando somos criados para desviar o olhar da injustiça, quando seguimos valores que implicam em crueldade e ausência total de empatia para com o planeta e todas suas criaturas: nós estamos endossando e sofrendo de “sociopatia cultural”. Toda vez que não nos importamos com aquilo que não nos atinge diretamente, ou que não fere nossos interesses imediatos, e que podemos, portanto, descartar, nós somos pequenos sociopatas. Da mesma forma, nos acostumamos com cenas violentas na televisão, filme ou notícias. Sabemos de guerras e tratamentos absurdamente desumanos com todo tipo de ser e permanecemos indiferentes. Anestesiados, seguimos a vida. Pequenos sociopatas que formam o terreno fértil para os grandes, os que depois são estudados pelos psiquiatras.