A solidão do imigrante - Editorial

Por Marisa Arruda Barbosa

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Em uma vida individualista, é muito fácil que o imigrante seja uma pessoa sozinha. Viemos, trabalhamos muito, e, em muitos casos, são poucos que fazem amigos íntimos na correria de uma vida marcada por vários trabalhos. Quando uma emergência acontece, constata-se que ninguém sabe nada sobre aquela pessoa.

Isso aconteceu na última semana, quando amigos de um casal que tentou cometer suicídio, no qual o marido morreu e a esposa foi internada em estado grave (veja matéria na página 23). Amigos relataram que o casal deixou cartas de despedida, mas não deixou telefones de contato. Finalmente, a filha foi notificada para cuidar dos detalhes, mas caso contrário, seu pai poderia ser enterrado como indigente, sem as últimas homenagens.

Em um caso no início de março, algo parecido aconteceu, quando Cleudson Silva morreu afogado em Deerfield Beach. Como não encontrou sua carteira ou celular, sua irmã, Cláudia Silva, mal pode ter acesso a seus amigos, muito menos a uma possível poupança que ele tivesse. Como Cleudson não tinha documentos para residir nos EUA, não foi possível ter acesso algum as suas informações.

É comum pensarmos que nada irá acontecer conosco. Mas é importante pensar em formas de notificação a familiares que se preocupam conosco. Um amigo próximo, o chefe, ou mesmo a carteira de matrícula consular podem auxiliar pessoas a montarem o quebra-cabeça de uma vida em mais de um país.

Nesta semana, como sempre, mostramos uma mudança, não nas leis imigratórias como tanto se espera, mas no comportamento do imigrante. Uma matéria na página 29 mostra que a colheita de maçãs pode ser afetada pela falta de mão de obra de imigrantes em Washington. Já vimos notícias similares em estados em que leis contra a imigração ilegal ficaram mais rígidas e a demanda de mão de obra foi prejudicada. A época de colheita de maçãs este ano está mais esperada, já que a seca recentemente afetou vários pomares no país, com execeção de Washington, um dos estados que alcançou a melhor safra.

Interessantemente, isso não se deve somente às leis imigratórias rígidas contra imigrantes naquele estado, mas também a certa recuperação econômica, que dá aos que permaneceram no estado melhores oportunidades de trabalho.

Em pleno debate eleitoral com a aproximação das eleições no dia 6 de novembro, fatos como este devem ser mais que divulgadas, uma vez que abrange os principais temas debatidos: recuperação econômica e imigração.

Ainda falando em imigração e comportamento de imigrantes, muitos se perguntam por que a medida para adiamento de deportações, assinada por Barack Obama, em junho, não está provocando tanto movimento quanto se espera? Alguns arriscam analisar que muitos esperam pela definição das eleições, com medo que, com a vitória do republicano Mitt Romney, sejam usados os dados desses jovens para deportá-los, juntamente com suas famílias (veja matéria na página 28).

No dia 16 ocorreu o segundo debate entre os dois candidatos à presidência da república, no qual muitos falam que quem teve a vitória desta vez foi o presidente Barack Obama. Agora, com empate no debate e nas pesquisas, as próximas semanas prometem agitar principalmente o sul da Flórida, que será o cenário do terceiro e último debate, no dia 22.