Solidariedade : A capacidade de se colocar no lugar do outro

Por Rosana Brasil

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Efetuamos escolhas durante todos os momentos de nossas vidas. Muitas destas escolhas são feitas quase que inconscientemente. Outras escolhas requerem mais atenção. Escolhemos onde vivemos, o que fazemos e com quem fazemos. Efetuar escolhas é parte natural do ser humano, talvez por isso seja fácil esquecer que o ato de escolher requer a responsabilidade de responder pelas consequências geradas pelas ações tomadas. Uma das escolhas que fazemos diariamente é a escolha de ser solidário com o outro.

Vida em família com certeza requer compreensão e solidariedade, especialmente diante de situações que afetam a dinâmica familiar. Sendo assim, é importante estar atento à oportunidade de efetuar mudanças no tocante a comportamentos considerados inadequados, quando esta se faz presente no dia a dia. Por exemplo, quando uma filha adolescente toma a frente dos afazeres domésticos quando sua mãe sofre um acidente, e ao fim da semana declara que não tinha ideia de como era trabalhosa a vida de sua mãe como dona de casa. Possivelmente, com esta experiência, ela irá valorizar mais a experiência da mãe ao invés de fazer críticas, talvez ela vá se esforçar em ajudar, ao invés de esperar que a mãe continue fazendo tudo sozinha.

De acordo com Antoine de Saint-Exupéry, “uma pessoa para compreender tem que se transformar”. Essa oportunidade de compreender como vive a outra pessoa leva à transformação do indivíduo. Destarte, “Ninguém pode ver nem compreender nos outros o que ele próprio não tiver vivido” (Herman Hesse). Como pais, se conseguirmos instituir em nossos filhos a capacidade de se por no lugar do outro, estaremos contribuindo para que se tornem solidários e compreensíveis, que desenvolvam a capacidade de compreender a realidade do outro. Ou seja, os preconceitos criados pelos modelos sociais vigentes só se dissolvem à medida que podemos mudar a nossa atitude com relação ao outro. Por exemplo, quando dizemos: “Joana ganhou na loteria. Por que ela e não eu?”, talvez isso posso ajudá-lo a perceber que ganhar na loteria é um privilégio, e que o outro não merece tal privilégio. Ou seja, aprender com os pais, com a família, valores que permitem maior equilíbrio no trato social está cada vez mais imprescindível diante das condições adversas de indiferença ao outro, seja este outro um membro da família ou não.

Para fazermos nossa parte, temos também que nos colocarmos no lugar do outro, seja ele nosso pai, nosso irmão, nossa esposa, nosso enteado, a nora, o padrasto ou o filho pródigo.

Cada qual tem sua história a partir de onde origina suas ações. Que nosso encontro com o outro possa ser dócil e compreensivo, não para julgar, mas para estimular o bem; para que pratiquemos afeto e a solidariedade ao outro, pois estes “são os únicos bens duráveis, imutáveis e sem preço” (Isabel Vieira) que podemos deixar aos nossos filhos.