Somatizar ou renascer?

Por Adriana Tanese Nogueira

Somatizamos quando transformamos nossos conflitos psíquicos em afecções de órgãos ou em problemas psicossomáticos. São suspeitas de somatizações sintomas sem uma causa médica por exemplo, mas também as idas demais a médicos ou até mesmo a terapias de todo tipo sem obter resultados. Por que ocorrem as somatizações? Ocorrem para “desabafar” um conflito interior que é inconsciente e que a pessoa tem dificuldade para trazer à consciência, ou seja para encarar de frente. Nenhum problema encarado de frente é somatizado, muito pelo contrário. Somatizamos somente o que não queremos ou podemos ver.

Por que não queremos ver? Porque enxergar o conflito nos coloca na posição de ter que resolvê-lo. Parece óbvio, não? Imagine que você vive numa casa cujo chão da cozinha está constantemente molhado porque há uma perda num dos canos. Imagine que você convive com este problema há anos e meio que “considera normal”. Imagine que um dia entra alguém em sua casa e não topa fazer de conta que é “normal”. E você “de repente” toma consciência de que há uma perda! O que vai ter que fazer? Consertar, chamar um encanador, dedicar tempo e dinheiro a resolver o problema.

Algo assim já aconteceu a todo mundo, uma vez ou outra sempre empurramos certos problemas com a barriga porque não temos tempo/vontade para resolvê-los na hora. Mas, infelizmente os conflitos psíquicos são ainda mais complicados do que isso, porque o “conserto” dos mesmos envolve geralmente desafios grandes, como mudar o nosso modo de pensar, nosso estilo de vida, nossas relações, deixar alguém, começar algo, desacatar crenças, tradições, o passado, assumir atitudes ativas, tomar coragem, encarar verdades... Enfim, ufa, que esforço!

Para alguns, melhor então somatizar. Aí se vai ao médico, o qual prontamente receita umas pílulas – que não vão resolver o problema – e assim a doença serve para mascarar a realidade interna que não se pode ver. Há uma alternativa a esta triste perspectiva? Sim e é simples.

Ventilar a cabeça e o peito com novas ideias e pontos de vista. A cabeça precisa arejar, adquirir novos pontos de vista para olhar para a realidade, ou seja: estratégias de comportamento, novos códigos de interpretação, mais criatividade e liberdade. O peito precisa fazer circular as emoções no lugar de estancá-las dentro, na formação de vulcões que certamente irão explodir um dia.

Quem duvida que estresse acumulado, preocupações, sentimentos e pensamentos negativos não nos atingem e prejudicam a nível físico? Quem duvida que a tensão psicológica faz ombros doloridos? Você sabe que afecções aos pulmões estão ligadas à tristeza? Você está cuidando de sua tristeza? E sabia que a raiva pode migrar para a cabeça causando violentas dores? E ainda que até a infertilidade pode ser o resultado de uma proibição interna inconsciente a engravidar?

Pense somente na liberação ou inibição de hormônios como adrenalina, cortisol e serotonina que estão diretamente relacionados às nossas emoções e vice-versa. Pense nas muitas problemáticas do sistema endocrinológico e imunológico que surgem a partir do que vivemos e, sobretudo, da forma como vivemos, ou seja de como enfrentamos os problemas. Porque um problema sério para um pode ser um problema pequeno para o outro: tudo depende de como enxergamos, processamos e percebemos as coisas. Tudo está na nossa cabeça!

A realidade é diferente para cada um, não existe algo lá fora igual para todos. Nossos olhos – as lentes que usamos para enxergar o real, e incluo a realidade psíquica, – fazem toda a diferença. Então, bora cuidar da nossa cabeça! Bora arejar um pouco as ideias, refletir, repensar, reavaliar, aprender, libertar-se e renovar-se!