Strike a Pose: a história dos dançarinos da Madonna 25 anos depois

Por JANA NASCIMENTO NAGASE

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O ano é 1991. Os republicanos conservadores controlam a Casa Branca pelo décimo primeiro ano seguido. A epidemia de AIDS só aumenta e o homosexualismo ainda é um tabu. Esse era o cenário onde sete jovens dançarinos foram selecionados para fazer parte da turnê mais controversa da cantora Madonna, Blond Ambition, além de participarem do documentário Madonna: Truth or Dare (Na Cama com Madonna, título em português), de 1991, que mostrava os bastidores dessa jornada.

A cantora americana que se autoproclamou ‘mãe’ desses seis dançarinos gays e um hétero, usou o filme-documentário para se posicionar sobre os direitos dos homossexuais e da liberdade de expressão. A polêmica turnê e o documentário completaram 25 anos e, além da liberdade de expressão, o documentário Madonna: Truth or Dare também mostrou os bastidores misturando com imagens do show, que na época era uma novidade.

Vinte cinco anos depois, os cineastas europeus Ester Gould e Reijer Zwaan embarcaram no projeto de um documentário sobre o documentário, mas desta vez quem brilhou foram apenas os dançarinos. Salim Slam Gauwloos, Kevin Stea, Carlton Wilborn, José Gutiérrez, Luis Camacho, Gabriel Trupin e Oliver Crumes, o único dançarino hétero, compartilham suas histórias de vida durante e depois da turnê, através de Strike a Pose.

Nesse mesmo período, viu-se o surgimento de uma subcultura, onde os LGBT da cidade de Nova York competiam entre si em locais chamados houses. Uma categoria da competição que emergiu dessas houses foi o novo estilo de dança conhecido como voguing. Tanto Luis Camacho como José Gutiérrez eram especialistas nessa modalidade vogue na house latina Extravaganza. Os dois se conheceram na High School of Performing Arts em Nova York e se envolveram com essas houses ainda adolescentes.

"As houses eram como uma família/fraternidade gay. No início, quando comecei a frequentar, era realmente sobre a emoção de estar na competição," disse Luis Camacho, que cresceu em Lower East Side em Nova York e, agora, vive em Los Angeles. As houses eram “uma cópia das houses europeias da época. Tinham voguers, modelos, designer de roupas. Havia muita criatividade”.

[caption id="attachment_141633" align="alignright" width="300"] Grupo em ensaio durnate a turnê Blond Ambition[/caption]

Foi assim que Luis e José souberam que Madonna estava procurando dançarinos (voguers) para um novo projeto, então eles gravaram uma fita e enviaram para a produção dela. Luis, que tinha apenas 18 anos na época, disse que Madonna viu a fita e programou um teste privado em uma discoteca chamada Trax, onde ela confirmou que estava procurando dançarinos para um videoclipe e uma possível turnê. "Foi bastante surreal", explicou Luis, durante a nossa conversa por telefone. "Foi também estranho porque o teste foi no meio da tarde. As portas estavam todas abertas, a danceteria estava vazia e sem luz. Nada glamouroso ou estimulante. Mas, quando a música começou a rolar e começamos a dançar... o resto você já sabe, virou história".

Após esse teste inicial, Luis e José foram convidados para um teste aberto, onde os dançarinos tinham mais experiência em jazz e hip-hop. Luis comentou que quando Madonna percebeu que ele e José eram dançarinos experientes, ela "fechou” com eles. "Eles foram informados que tinham sidos contratados para estrelar e coreografar o novo vídeoclipe de Madonna e sua nova música Vogue, que era uma homenagem ao novo estilo de dança.

Luis, assim como os outros seis dançarinos, viajaram para Los Angeles para uma filmagem de dois dias, com o diretor David Fincher. "Eu era um garoto de Lower East Side e de repente eu estava em um set de filmagens com uma estrela, uma famosa", comentou Luis.

Foi também durante a gravação de Vogue que eles descobriram que estariam acompanhando Madonna em sua próxima turnê mundial, Blond Ambition. "Isso mudou totalmente a trajetória de minha vida", falou Luis. "No momento em que entrei no avião para ir a Los Angeles pela primeira vez, senti que estavam me levando a sério". Depois de mais de quatro meses na estrada com a turnê, Luis disse que foi para casa e dormiu por "quase três dias."

Logo após a conclusão da turnê, Luis e os outros dançarinos continuaram a trabalhar com Madonna até perderem o contato. Eles fizeram a apresentação de Madonna como Marie Antoinette, no MTV Video Music Awards, de 1990, e um videoclipe para Rock the Vote, ao lado da estrela. Luis e José também lançaram uma música, Queen’s English, que chegou às paradas de sucesso e tinha a participação de Madonna, como backing vocal.

A princípio, Luis ignorou os e-mails dos cineastas europeus, achando que seria mais um documentário de como Madonna comia salada ou se portava. Mas, depois de ser convencido por Kevin, ele resolveu conversar com os diretores do documentário. "Nós nos conhecemos em Los Angeles e, depois de escutar o que eles tinham a dizer, eu falei que pensaria sobre o assunto". No final, assim como todos os outros dançarinos, ele aceitou como "uma chance e a oportunidade de contar apenas a minha própria história".

Strike a Pose, dirigido por Ester Gould e Reijer Zwaan, busca apresentar a história de resiliência desses sete jovens que, assim como Madonna, queriam conquistar o mundo. Serve também como a resposta para “onde estão eles agora?” ou “o que estão fazendo?”. O enredo trata de assuntos dramáticos e sensíveis, como a dependência de estar no spotlight, o uso constante de drogas e álcool e até como um deles consegue ocultar a notícia, por um tempo, que é portador do vírus HIV. Se Madonna: Truth or Dare foi um filme que inspirou a comunidade LGBT a aceitar o quem eles são, Strike a Pose é um filme que dá crédito a esses garotos que ajudaram a abrir e quebrar esse tabú para a sociedade.

Strike a Pose estreia nesta quinta-feira, 6 de abril, no canal Logo, às 8:00PM ET/PT e reprisa às 11:00PM ET/PT). E o documentário Madonna: Truth or Dare, de 1991, também será exibido como um bônus para os telespectadores, às 5:30PM ET/PT, com reprise à 1:00AM ET/PT.

Luis Camacho hoje e na época do primeiro documentário: