Sweat Equity

Por Gazeta News

laptop-3190194_960_720
Por:Rodrigo Berretta
Antes de falar de forma mais abrangente do que vem a ser Sweat Equity e o que vem sendo praticado em várias oportunidades, aqui na Flórida, vamos recorrer à uma definição mais acadêmica: De acordo com web site Investopedia.com, Sweat Equity é o investimento não monetário que proprietários ou empregados contribuem para um empreendimento comercial. Startups e empreendedores costumam usar essa forma de capital para financiar seus negócios, compensando seus funcionários com ações, em vez de dinheiro, o que também ajuda a alinhar riscos e recompensas. O Sweat Equity é frequentemente usado para se referir ao esforço dos proprietários e funcionários de uma empresa contribuírem para uma empresa ou projeto. Em startups carentes de caixa, os proprietários e funcionários geralmente aceitam salários abaixo de seus valores de mercado, em troca de uma participação na empresa - da qual esperam lucrar quando a empresa for vendida.

Compensação de capital

Sweat Equity que é uma forma de capital não-caixa também é conhecido como compensação de capital, e pode assumir a forma de opções de ações, unidades de ações restritas e ações de desempenho. A sucinta definição acima, principalmente do último parágrafo, nos mostra que a participação em um negócio através de Sweat Equity é real e legal. Porém o que venho chamar atenção nesse artigo é como isso vem sendo praticado para levantar empresas novas ou aquelas já em operação, porém com necessidade de caixa. Apesar de ser uma prática à qual não me oponho, em quase 3 anos vivendo na Flórida, tenho presenciado e sabido de sociedades criadas aonde o conceito do sweat equity tem sido praticado de forma errada, irresponsável e muitas vezes desonestas. São inúmeros os casos onde pessoas que já estão aqui há mais tempo, vendem idéias e/ou negócios pré-formatados e não investem nenhum dinheiro, apenas seu próprio trabalho.

Idealização, formatação do novo negócio

De acordo com o que já presenciei nesses últimos anos, gostaria de ressaltar alguns pontos, os quais sugiro fortemente aos investidores que estiverem aportando dinheiro (cash) nos negócios apresentados pelos empreendedores, levarem em consideração. O primeiro ponto que venho ressaltar é a idealização, formatação do novo negócio. Até que ponto a idéia nova trazida é de fato nova, diferente ou original? Hoje, no mundo atual, onde temos todos os mercados super populados por empresas extremamente competitivas, é mais e mais difícil vermos alguma idéia diferente, inexistente, passar e bater à nossa porta, porém não é impossível. Sendo assim, se pararmos para refletir, muitas vezes somos apresentados a negócios novos, porém baseados em idéias já existentes no mercado com pequenas variações e muitas vezes bem apresentadas em formato de Business Plan.

Business Plan

O Business Plan sempre traz uma idéia de organização e profissionalismo. Porém não podemos esquecer que “papel aceita tudo”. Lembrem-se de duas coisas muito importantes! Primeira: nunca, nenhum empreendedor irá te apresentar e te convidar a investir em um negócio cuja análise econômico-financeira apresenta resultados negativos. A grande maioria dos projetos apresentados por empreendedores vem recheado de muita crença, paixão, convicção, etc. porém esses sentimentos e desejos não colocam dinheiro no negócio. Não fazem o negócio ser bem sucedido. Segunda coisa: quando o negócio não dá certo, é muito comum ouvirmos do empreendedor, “dono” da idéia, dizer: - Demos azar! “demos quem, Cara Pálida?”- Muitos bons negócios às vezes não decolam! - Isso é apenas um negócio, o relacionamento não deve ser afetado porquê o negócio não deu certo! E por aí a fora ... Porém, pelo que tenho pesquisado e observado, o investidor que coloca dinheiro geralmente sente mais dor do que quem aportou sua participação na empresa apenas com o seu trabalho. Devido a essas razões, é muito importante sermos frios e calculistas e aprofundarmos nossas análises, levantando vários questionamentos em relação às principais premissas que fizeram o plano de negócios mostrar que ele é financeiramente positivo e de como seremos capazes de atingir aqueles números. Não podemos subestimar o tamanho de um desafio! Em uma startup, o capital humano geralmente é escasso, o que obriga seus integrantes a exercerem múltiplas tarefas simultaneamente, aumentando assim o índice de erro sobremaneira.

Planejamento financeiro

Outro fator importante é o planejamento financeiro. Temos que programar um fluxo de caixa considerando três cenários: ótimo, normal e ruim. Gerenciar a empresa nos cenários normal e ótimo é muito mais fácil do que encontrar soluções para o cenário ruim. Por isso, o valor de investimento a ser captado tem que ter alguma previsão financeira (extra cash) para suportar a empresa no cenário ruim. Entendam que o cenário ruim não quer dizer que o negócio não deu certo. Muitas vezes o início do faturamento pode atrasar, os preços dos serviços e produtos podem demorar a serem aceitos pelo mercado e, por isso, descontos e promoções precisam ser aplicados, frustando o faturamento previsto no cenário normal, sem contar também que mesmo tendo um bom planejamento, custos inesperados às vezes acontecem. É nessa hora que se a empresa não tiver uma reserva financeira ou acesso à capital de giro no mercado, pode acabar quebrando mesmo antes de entrar em operaração. E isso acontece com um número enorme de startups de estrangeiros aqui na Flórida. Deixando a parte financeira do negócio momentaneamente um pouco de lado, é imprescindível discutir como será a participação e a relação entre os sócios investidores e os sócios que aportam o sweat equity. O sweat equity, sem dúvida, tem que ser valorizado, porém devemos lembrar que o sucesso do passado não garante ao empreendedor sucesso no novo negócio que está sendo estabelecido. O alinhamento entre incentivos e motivações nessa hora é muito importante. Neste caso também temos que pensar no momento de abundância onde teremos dividendos para partilhar e na fase da escassez onde teremos que aportar dinheiro para pagamento de contas e obrigações. Tudo o que for acordado é imprescindível constar no Acordo de Acionistas, chamado de Operating Agreement aqui nos EUA.

Startups

Neste artigo, me refiro, na maioria das vezes, às empresas não existentes (startups) e que começam do zero, geralmente com investidores pequenos e pessoas físicas. Esses casos, na minha experiência, são os que mais dão problemas. O custo de advogados para estabelecer um acordo de acionistas, geralmente pesa muito e as partes acabam adiando essa tarefa e terminam não a fazendo nunca. É importante que os sócios compartilhem seus documentos (passaporte, identidades, cpf brasileiro, social security e qualquer outro que se faça necessário) entre si e permitam que seja feito um background check de todos os sócios. Às vezes seu sócio nunca cometeu um crime, porém está com o nome comprometido em termos de inadimplência, falências de empresas anteriores, credit score americano baixo, etc. Se isso acontecer, pode prejudicar muito a empresa a captar investimentos ou tomar qualquer tipo de financiamento ou empréstimo em bancos. Esse é um momento onde surpresas podem aparecer! E essas surpresas podem dizer muito dos valores e caráter dos sócios. Aí eu pergunto: como se associar a pessoas com caráter e valores diferentes dos seus? Pensando pelo lado positivo agora, se o resultado dos background checks for um belo sinal verde para todos os sócios, o grupo se fortalece e segue em frente ainda mais forte. Esse momento pode ser ou parecer constrangedor, mas precisa ser feito.

Divisão de tarefas e responsabilidades

Outro item importantíssimo é definir a posição de cada um na sociedade. É a famosa divisão de tarefas e responsabilidades. Quais dos sócios além daqueles que estão aportando o sweat equity irão trabalhar? Se forem trabalhar, os sócios investidores têm que ter uma posição muito profissional e não inibir o empreendedor na execução das tarefas já acordadas, porque vai gastar mais ou menos verba. O investidor não pode mais olhar para o dinheiro investido como seu dinheiro e sim como dinheiro da empresa. Apesar do gerenciamento das contas bancárias da empresa assim como dos relatórios contábeis e financeiro terem que ser cristalinos para todas as partes desde do primeiro dia, o sócio investidor não pode mudar de idéia sozinho no meio do caminho, prejudicando assim a execução do plano de negócios. Nos meus últimos anos como empresário e consultor de negócios, tenho visto bons e maus exemplos aqui na Flórida. Infelizmente o número de exemplos ruins é bem grande, o que tem me deixado bastante preocupado. Devido à isso venho aqui fazer uma provocação para que os empreendedores não abram mão de planejarem seus negócios da forma mais profissional possível em termos negociais e legais para assim mitigar os riscos de insucesso dos negócios. Autor: Rodrigo Bereta rodrigo@trexusconsulting.com berretta.rodrigo@gmail.com