“Talvez a única legislação que o nosso Congresso passará este ano é uma que deporta crianças?”. Esta frase foi postada pelo jornalista, ativista de imigração e imigrante indocumentado, Jose Antonio Vargas, em sua página do Facebook, um dia antes de ser detido por agentes da fronteira no Texas. Ele foi para a região de McCalen, onde jovens indocumentados estão abrigados, colocando fogo no debate político da reforma imigratória sobre como deportar aproximadamente 60 mil crianças que atravessaram a fronteira ilegalmente para os Estados Unidos.
Com o intuito de mudar a imagem e a cobertura sobre a história desses jovens que fugiram da violência na América Central, Vargas foi com uma equipe de câmeras para documentar essas histórias que são mais de “refugiados” do que de “ilegais”.
Na última semana, a própria ONU fez uma reunião pressionando para que esses jovens sejam considerados refugiados. O “ping pong” político da imigração, bem definido por Vargas, é um dos motivos pelo qual muitos criticam o governo americano, de olhar demais para o próprio umbigo ao chamar esses jovens de “imigrantes ilegais” caso não os considere “indocumentados”.
Esta semana, um avião com aproximadamente 40 mulheres e crianças foi enviado de volta para Honduras, um dos países que está sofrendo com a violência das gangues nas ruas. Vídeos feitos pela equipe de Vargas mostram crianças que mal começaram a andar. Antes de serem indocumentadas, elas são, sim, vítimas de violência. As histórias de suas famílias não poderiam ser piores: assassinatos, pedidos de “pedágios” de membros de gangues, estupros, e assim por diante. Em uma história publicada por algum jornal que li esta semana, uma mãe dizia que preferia tentar enviar seus filhos para a perigosa travessia da fronteira do que vê-lo morrer em frente a sua casa.
Ira Kurzban, professor adjunto de Direito de Imigração e Nacionalidade na Universidade de Miami, escreveu um artigo publicado no “Miami Herald”, intitulado “Crianças migrantes merecem status de proteção”, em inglês, “Temporary Protective Status”. O professor e advogado coloca os números de refugiados no mundo em perspectiva.
“Hoje, o mundo tem mais de 50 milhões de refugiados e pessoas deslocadas. O governo do Líbano atualmente tem mais de 856.500 refugiados em uma população de 4.4 milhões, representando 19.4% de sua população. A Jordânia tem 641 mil refugiados em uma população de 7.3 milhões, representando 8.79% de sua população”, escreveu o colunista. “Aceitar 60 mil crianças em uma população de 317.2 milhões de pessoas – o equivalente a 0,02% de nossa população, não causaria muito impacto em nossos recursos”.