Tap Into Heaven.

Por Gazeta Admininstrator

(Carta Aberta ao 44° Presidente dos Estados Unidos da América)

Prezado Presidente Obama.

Desculpe a pouca formalidade, mas me dou ao luxo de considerá-lo “um dos nossos”, por tudo o Tap Into Heaven. que o Sr. falou durante a campanha, pelas promessas que fez, pelos compromissos que assumiu, pela esperança que disseminou.

Somos brasileiros, e como já dizia o genial teatrólogo Oduvaldo Vianna Filho, o brasileiro tem a esperança como profissão. Disso nós entendemos muito bem. Como bem entendemos de sacrifícos.

Sacrifícios que já estão sendo pedidos a todos os que vivem neste país, para ajudar a “consertar” uma economia estraçalhada pelos predadores de Wall Street. E esperamos que as medidas que Obama tome, não apenas restaurem o vigor da economia, mas muito mais que isso, restabeleçam a fé do povo americano em suas instituições.

Nesta semana, o Sr. entra para a História não apenas como o primeiro negro a assumir a presidência do país que segue sendo o mais poderoso do mundo. Poder nem sempre significa uma coisa boa, especialmente quando se analisa a forma com que ele é exercido.

O Sr. traz a promessa de resgatar a imagem da Nação norte-americana. E nós cremos que o Sr. tem todas as condições morais, éticas e logísticas para fazer isso, até rapidamente, porque o mundo quer esse resgate. O mundo não quer e não pode odiar o país que, durante décadas, foi o ideal, o exemplo e o sonho de bilhões.

Torço fervorosamente para que o novo governo encerre uma longa, injustificável e “burra” política externa de desimportância com relação aos vizinhos de continente. Nesse ponto, até que o ex-presidente Bush deu passos tímidos, mas é preciso que Washington encare de uma vez por todas que só uma verdadeira união continental poderá fortalecer as economias da região em fazer face aos blocos poderosos hoje formados pela União Européia e os países asiáticos.

Eu espero que o Sr. tire a sociedade norte-americana do atraso em algumas áreas que há muito precisam de uma verdadeira revolução. A primeira, pelo menos no meu ponto de vista de imigrante, é uma ampla reforma imigratória que resgate a dignidade e reconcilie o “país dos imigrantes” com seu próprio passado, com sua própria História e com os atuais mais de 12 milhões de indocumentados.

A questão do Seguro Social também é crucial e igualmente afeta a todos, especialmente os imigrantes que, em sua maioria, têm uma renda anual menor que o restante do país e difícil acesso ao Helth Care privado.

Tenho esperanca que Sr. possa investir mais na qualidade de ensino nas escolas de base (High School) dando aos nossos filhos a possibilidade de uma educação mais universalista e menos voltada apenas para o que acontece dentro dos Estados Unidos. A falta de cultura geral dos jovens americanos é, como diria Bóris Casoy, uma vergonha nacional.

É justo ansiar também pelo retorno a uma política de incentivo às artes e cultura que, nos últimos 8 anos, tiveram quase 75% de suas verbas estraçalhadas por uma política de “privatização” da produção cultural, ceifando, com isso, mais de metade das iniciativas e projetos que garantiam diversidade e pluralidade nos palcos, galerias, salas de exibição, e outros segmentos de expressão cultural.

Rezo para que a influência da nova e brilhante primeira-dama Michelle Obama possa ser sentida de uma forma que deixe as mulheres – não apenas as norte-americanas – orgulhosas de um papel ativo e importante na política do país, encerrando de vez com a era das “primeiras-damas-donas-de-casa”.

Que as políticas nacionais de saúde, especialmente no combate à AIDS, possam ser revitalizadas. Que, pelo menos, sigam o exemplo do Brasil, que segue tendo, segundo a Organização Mundial de Saúde, o melhor, mais eficiente e completo sistema de prevenção e combate à Aids em todo o mundo. O Brasil deve servir de exemplo também nos combustíveis alternativos.

Pessoalmente creio que o Sr. vai melhorar o panorama para todas as minorias: os gays, imigrantes e outros segmentos que ainda não desfrutam, em igualdade de direitos, o hoje tão surrado, mas ainda vivo, “americamn dream” .

Parece muita coisa para ser alcançada por um presidente só, não é mesmo ?

Mas, se o novo governo tiver vontade política e coragem para cumprir no poder o que prometeu nos palanques, o povo, em sua maioria, estará a seu lado e o ajudará, fazendo os sacrifícios que forem necessários.

Sim, se pode.