Técnica ensina bebês de colo a irem ao banheiro

Por Gazeta Admininstrator

Com seis semanas, Flora já começava a fazer o que algumas crianças perto do segundo ano de vida não conseguem. Sentada no troninho, fazia o “número dois” sob o olhar atento da mãe e dos irmãos. Hoje, aos seis meses, fraldas são coisa de seu breve passado.

A menina, que mora em Shoreline, Washington, foi treinada pela mãe, Nadine Martinez, 27, para a EC (elimination communication, ou comunicação para evacuar). A técnica ensina crianças que sequer balbuciam suas primeiras sílabas a dar dicas de quando querem fazer cocô e xixi.

A EC é baseada na habilidade natural da criança de “avisar” quando precisa fazer suas necessidades. A técnica consiste em prestar atenção aos sinais e estabelecer um marcador (um chiado, por exemplo) que o bebê relacione ao ato de evacuar. A partir daí, segundo especialistas, a criança passa a entender que o marcador é um sinal verde para usar o banheiro.

Quando Flora nasceu, Nadine decidiu usar fraldas de pano - que voltaram a ga-nhar espaço nos Estados Unidos e Europa recentemente. Mas, cansada do trabalho de lavá-las, procurou uma alternativa e passou a treiná-la para a EC, sob orientação da Diaper Free Baby, entidade com base em Massachusetts.
“Já tinha ouvido falar disso, mas a idéia parecia ridícula. Só depois de ir a um encontro da ONG é que entendi o conceito”, diz a mãe.

Com seis semanas, Flora já usava o penico, mas incidentes ocorriam com freqüência. Um mês depois, as fezes já não “escapavam” e quase todas as urinações estavam sob controle.

“No começo, tirei as fraldas e mantive uma manta sob o bumbum. Eu ficava alerta para os sinais de que ela queria evacuar, e percebi que ela fazia um ruído e se contorcia, além de empurrar as pernas para cima”, relata. “Passei então a erguê-la sobre um penico e fazer um barulho, um ‘psss’.”

Segundo a mãe, Flora pareceu entender o que deveria fazer quando ouvia o chiado - mesmo quando era alarme falso. “Se eu me enganasse e a colocasse no penico sem necessidade, ela fazia sons e tentava evacuar. Ficava maravilhada quando via aquilo.”

Segundo os defensores da idéia, não é necessário dedicar-se à EC em tempo integral. Mesmo treinamentos ocasionais podem ser eficazes. “Tenho três filhos, e tanto eu quanto meu marido trabalhamos fora”, ressalta Nadine.
Técnica ancestral

Ingrid Bauer, autora do livro “Diaper Free - The Gentle Wisdom of Natural Infant Hygiene” (“Sem Fraldas - A Sabedoria da Higiene Infantil Natural”), afirma que, quando o treinamento começa antes dos seis meses de vida, os resultados aparecem mais facilmente. Segundo ela, a técnica é ancestral e bastante usada na Ásia, África e em algumas regiões da América do Sul.
Linda Sonna, outra especialista em IPT (“infant potty training”, treino para usar o penico, conceito vinculado à EC), afirma que o uso massivo e contínuo de fraldas não passa de um mau hábito estabelecido pela indústria de produtos infantis. “Adiar [o uso do penico] tem sido muito bom para as empresas. A verdade sobre essa habilidade dos bebês deve ser um dos segredos mais bem-guardados dos Estados Unidos”, defende a psicóloga.

Assim como a amamentação - no passado considerada algo natural, décadas atrás preterida e atualmente de volta às rodas de discussões maternas -, a técnica representa uma volta ao passado. Laurie Boucke, que já lançou livros e DVDs sobre o assunto, afirma que, antigamente, os bebês eram enfaixados com tecidos que também tinham a função de conter suas fezes. No século 19, “quando higiene se tornou uma virtude”, as crianças passaram a ser erguidas sobre o penico até aprenderem a utilizá-lo. Mas há controvérsias quanto à eficácia e aos benefícios dessa prática. Segundo a Academia Americana de Pediatria, crianças com menos de um ano não têm controle dos músculos da bexiga e dos intestinos. Psicólogos contrários à idéia também afirmam que se trata de mais uma tentativa de “adultizar” os bebês. Ainda não foi relatado, porém, nenhum caso de dano físico ou emocional relacionado à prática da EC. “Não podemos imaginar nossa vida sem isso”, diz Nadine. “No futuro, começaremos a praticar a partir do nascimento.”