Tempo, o inimigo do craque - Show de Bola

Por César Augusto

Muhammad Ali e Pelé
[caption id="attachment_79428" align="alignleft" width="300"] Muhammad Ali e Pelé[/caption]

Essa semana o argentino Riquelme anunciou sua aposentadoria.

Nem acompanhei tanto a carreira de Riquelme, não o vejo jogar já faz um bom tempo, mas, quando li, lamentei.

Todas as vezes que vi Riquelme em campo, vi um jogador diferenciado. Um camisa 10 que trata a bola com carinho. Aí comecei a pensar o quanto o tempo é cruel.

Alguns atletas não deveriam se aposentar nunca.

Aposto que todo mundo já pensou em Pelé. Claro, o maior de todos os tempos não podia parar. Tinha que estar jogando até hoje. Tinha que olhar de canto de olho para o Neymar, que estaria, no máximo, sentado no banco de reservas, e falar: “Garoto, olha só o que é jogar bola, entende?”.

Rogério Ceni não é Pelé, mas admiro a maneira com que ele enfrenta o tempo. Está brigando com vontade e não se dá por vencido. Vai jogar até quando aguentar. Pode não ter a mesma força e os mesmos reflexos da juventude, mas ainda consegue, aos 42 anos, ser um dos melhores goleiros do Brasil. O tempo deveria dar uma chance para ele.

Para não falar só de futebol, pensei em atletas de outros esportes. No boxe, o tempo foi tão cruel quanto os socos para Muhammad Ali. Fico triste quando o vejo hoje. Claro que o mal de Parkinson agrava o sentimento, mas como pode aquele atleta que “flutuava como uma borboleta e picava como uma abelha”, que “desligava o interruptor na entrada do quarto e chegava na cama antes da luz apagar” (são frases dele), estar andando devagar? Como pode Muhammad Ali ter ficado velho?

No basquete, não vamos ver nunca mais um jogo entra Michael Jordan e Magic Johnson. Não teremos nunca mais o Celtics de Larry Bird.

No vôlei, a geração de ouro não salta mais. Não corta mais. Não saca mais. Alguns devem ter dificuldade para amarrar o tênis. Sempre vai aparecer uma dor nas costas quando tentarem esses movimentos “radicais”.

Michael Phelps parou. Tentou voltar, mas o tempo mostrou que não interessa quantas medalhas olímpicas o atleta tem, ele nada mais rápido. O tempo é mais forte, o tempo é mais rápido, o tempo é mais técnico, o tempo é mais preciso… O tempo é cruel.

Novos talentos nascem, mas serão cada vez mais comerciais. Cada vez menos “românticos”. É natural. O dinheiro tomou conta do mundo. Não existe mais a paixão. Até existe, mas hoje ela é facilmente negociada.

Ronaldinho (nem sou muito fã dele) é o craque do Querétaro. Você já tinha ouvido falar o nome desse time antes? Talvez nem Ronaldinho tivesse ouvido. Mas o Querétaro pagou e levou. Rivaldo, antes de se aposentar, foi jogar em Angola. Conca deixa o Fluminense, onde é idolatrado pela torcida, para jogar na China.

Alex, que acabou de parar e virou comentarista, só não foi presidente da Turquia porque não quis. Fez história e era amado pelos torcedores de um time que eu nem sei escrever o nome. Tive que procurar no Google e copiar. Alex, ídolo no grande Fenerbahçe S.K. O time é grande, tem uma torcida enorme, mas é na Turquia. Convenhamos, o país não tem uma grande tradição no futebol, certo?

O dinheiro faz isso? Sim, também. Mas quem faz isso, de verdade é o tempo. Um dia sei que vou ter que enfrentar o tempo também. Todos temos.

Mas não sou Pelé, não sou Muhammad Ali, não sou Magic Johnson. Esses 3 são meus grandes ídolos no esporte. Achei que nunca perderiam. Nem para o tempo.