Em suas conversas, os residentes da Flórida sempre deixam transparecer em suas palavras que aqui é o Paraíso, onde convivem o desenvolvimento, a civilidade do primeiro mundo com o clima tropical e a atitude descontraída e praieira de quem está mais interessado em “viver a vida” do que mergulhar no estresse da vida moderna e ultra-competitiva.
Sob certos pontos de vista, a Flórida pode mesmo ser considerada um Paraíso.
Há inúmeros indicadores de alta qualidade de vida. O ar sem poluição, a relativa e pequena margem de pobreza absoluta e muitos outros elementos, quase sempre ligados à bela natureza e ao espírito de vida.
Mas, recentemente, algo profundamente perturbador está expondo lados nada “paradisíacos” da Flórida, o estado que mais recebe populações migrantes internas dos Estados Unidos, onde a ocupação de território se dá de forma avassaladora e sem nenhuma preocupação com elementos básicos de equilíbrio ecológico. Onde a gana por lucro imediato e a qualquer preço representam uma gravíssima ameaça a
um sistema ecológico-social extremamente frágil. E mais: a praga da violência urbana, que já havia tornado os condados de Miami-Dade e Broward nacionalmente famosos nos anos 80 e 90, parece ter retornado com furor nas últimas semanas.
O índice de crimes hediondos está em crescimento e, como se não bastasse, a recente onda de crimes na comunidade brasileira se viu repentinamente acrescida, em setembro, de ocorrências nunca antes registradas. Apartamentos e casas invadidos, conhecidas figuras de nossa comunidade tomados como reféns, roubados e maltratados por bandidos, assaltos a mão armada, estupros e até sequestros-relâmpagos.
Essa “onda” pode ser atribuída de maneira lógica a um fator econômico: o desemprego. A escassez de postos de trabalho está em alta em todo o País, mas de uma forma mais acentuada nos condados de Miami-Dade e Broward.
Mas ninguém deve atribuir o crescimento da violência ao aumento da massa de desempregados. Seria ingenuidade pensar assim.
Alguns políticos que se opõem aos atuais governantes em Miami-Dade e Broward, apontam para um perigoso desvio de enfoques prioritários da Polícia em ambos os condados.
Há mais policiais dedicados a atividades burocráticas e não prioritárias, do que viaturas patrulhando as ruas, especialmente em horários críticos.
Há uma desmedida atenção em perseguir imigrantes indocumentados em vez de dedicar a vital atenção e repressão policial, por exemplo, a um dos maiores ninhos de violência no Sul da Flórida que é o hediondo tráfico de drogas.
Certamente Miami, Fort Lauderdale, Pompano, Deerfield Beach, Weston, Margate, Tamarac, Coral Springs, Doral, Miami Beach, Key Biscayne, enfim, nenhuma das áreas em que residem milhares de brasileiros no Sul da Flórida, podem ser comparadas, em termos de violência cotidiana, ao que ocorre nas grandes cidades brasileiras.
Que ninguém venha agora repetir as imbecilidades ditas por alguns secretários de Segurança do Brasil, que respondem com descarado cinismo quando confrontados com as estatísticas da guerra civil urbana em nosso País. “Isso acontece em qualquer grande cidade do mundo”. Nós, que conhecemos a violência do Brasil e a daqui, sabemos que não é bem assim.
Mas que a recente onda de violência no Sul da Flórida é preocupante, ninguém deve ser ingênuo em negar. E que as mazelas do “Paraíso” estão cada vez mais expostas, sem a menor dúvida.

