Trabalho escravo

Por Marcelo Mello

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Mais uma marca de roupas de luxo brasileira foi pega utilizando mão de obra escrava. As confecções que produzem exclusivamente para elas contratam bolivianos recém-chegados ao Brasil. Tenho absoluta certeza de que a esmagadora maioria faz a mesma coisa. É inaceitável, mas não sejamos hipócritas, muito menos assistencialistas: Permite-se escravizar quem quer. Ponto final.

Aposto que você aí, caro leitor, não se deixaria escravizar. Não aceitaria trabalhar recebendo 5 reais por dia. Ou, já que estamos aqui na América, 5 dólares por dia, aceitaria? Pois é, imagino que não.

Entendo que propor essas condições de trabalho a um ser humano é deplorável, mas também entendo que pessoas deploráveis possam propor o que bem entender, aceita quem quiser. Chega dessa história de vitimização porque isso estragou duas gerações brasileiras. A que está aí no auge da vida e a próxima, a que vem chegando. É muito mimimi, como dizemos no Brasil. Too much drama, como dizem os americanos.

Até porque, deixando a hipocrisia de lado, o mundo todo faz a mesma coisa e esse sistema cruel só não entra em colapso definitivo porque há pouca denúncia. China, Paquistao, Vietnã e tantos outros países conseguem produzir a baixo custo por quê, afinal? Por que são bonzinhos? Ora, façam-me o favor, ingenuidade tem limite.

As marcas se aproveitam disso. Utilizam essa terceirização de mão de obra para diminuírem seus custos, conseguirem manter preços competitivos e, no caso das supergrifes, aumentarem substancialmente seus lucros e, consequentemente, os valores de suas ações. Não há inocentes nessa cadeia de operação, apenas culpados.

No caso brasileiro há sempre a desculpa de que os impostos e o famoso “custo Brasil” inviabilizam qualquer tipo de negócio. O que também é verdade.

O que isso tudo quer dizer? Sendo direto e reto como costumo ser, quer dizer que em tempos de desonestidade intelectual fofa não dá para explicar que existam seres capazes de propor esse tipo de trabalho. Se só há gente boazinha – em teoria –, como pode existir tanta gente ruim? Vejam que a equação não fecha.

Quem propõem a contratação dessa gente humilde a preço de banana são as mesmas pessoas que colocam em suas mensagens nas redes sociais que o mundo precisa de mais amor, mais igualdade de direitos, mais equilíbrio na distribuição de renda, blá, blá, blá.

O que o mundo precisa é de gente menos hipocritamente correta. O que de fato precisamos é ser menos cara de pau e assumir que quando compramos uma camiseta ou um telefone, estamos contribuindo para a continuidade daquilo que condenamos. Sejamos justos, ou paramos de comprar ou paramos de abrir a boca para reclamar. As duas coisas juntas não dá.

Voltando à raiz da questão, que é como se deve fazer para resolver problemas, temos é que começar tudo de novo. Mas quem é que quer colocar o dedo na ferida, não é mesmo? Seres humanos são, antes de tudo, covardes.