Trágica obsessão pela beleza

Por Gazeta News

A brasileira Adriana Paula da Silva Toledo, residente em Framingham, Massachusetts (uma das maiores concentrações de população brasileira nos Estados Unidos), foi enterrada na última quinta-feira. Ela morreu um dia depois de ter se submetido a uma operação de aumento dos seios. Adriana caiu no banheiro de sua casa e, segundo a família, os médicos que a socorreram teriam encontrado um coágulo em seu coração. Coincidência? Tragédia? Erro médico?

Por trás dessa nova e trágica circunstância, cada vez mais frequente entre mulheres brasileira – com várias ocorrências nos Estados Unidos , fica cada vez mais evidente que as mulheres, - que ainda correspondem a 90% das pessoas que procuram cirurgias estéticas – estão cada vez mais obcecadas pela aparência, levando a busca do “corpo ideal” ou “aceitável pelos padrões locais” como uma paranoia sem limites.

Os apressados que não sigam correndo em direção ao costumeiro “erro médico”. Pode ter existido sim, mas o que também precisa ser lembrado é que, por circunstâncias econômicas, pressa ou simples “desleixo”, muitas pacientes de cirurgias plásticas, “dispensam” uma série de requisitos pré e pós-operatórios. Não estou dizendo que o caso específico da brasileira de Framingham se encaixa nessa hipótese.

Só será possível especular sobre as causas da morte, depois do resultado da autópsia que, as autoridades policiais já previram, demorará pelo menos duas semanas para serem divulgados. Os advogados dos médicos que operaram Adriana já adiantaram que seus clientes não têm “nenhum antecedente de erros médicos”. O que não anula a possibilidade de que possam ter errado justamente no episódio com a brasileira. Mas voltemos à “obsessão pela beleza”.

Fica cada vez mais evidente que a linguagem básica e tirana dos tempos em que vivemos é a da beleza e da juventude. Se até pouco tempo, apesar de predominante, o culto à estética e à juventude tinham contrapontos socialmente fortes, como a maturidade e a diversidade, o que se vê hoje, nos quatro cantos do mundo, é uma enlouquecida corrida em busca de um “modelo estético” que, no lado feminino, é anoréxico e clonado das “top models”. No lado masculino é atlético e tatuado. Cada vez mais tatuado. E quanto mais tatuado, mais “cool”.

De nada adiantam os discursos de “diversidade”, “valorização de todas as idades”, etc e tal. Podem gerar belas e tocantes campanhas institucionais. Mas quando é para “vender” mesmo, o que se tem como modelo é, 100% de corpos jovens enxutésimos ou malhadíssimos, sem nenhum espaço para outro tipo de “beleza” que não seja a que nos é enfiada goela abaixo pelo marketing via TV, Cinema, Mídia impressa e etc.

Quem não se deixa afetar por essa sandice (e olha, que é realmente difícil, já que o “massacre estético” é poderoso e atinge todas as faixas de público, indistintamente) assiste de fora a um espetáculo de busca aloprada pelos “seios da moda”, “barriga tanquinho” , “six pack” e zilhões de outros rótulos bobocas. Pior: se antes a excessiva preocupação com a estética pessoal era um atributo quase que exclusivo de gente alienada e menos culta, isso, definitivamente, é coisa do passado. A doença se espalha e atinge todos.

A “doença” alimenta uma poderosíssima indústria. Imagine aí os trilhões gerados por todas as dezenas de setores que se beneficiam direta ou indiretamente de tudo o que se refere a beleza. E como toda a indústria, o objetivo é vender e crescer, ainda que seja preciso, em muitos casos, fazer “vistas grossas” a procedimentos exigidos pela lei, como os exames pré-operatórios e acompanhamento pós-operatório.

Como a demanda por “embelezamento” cresce muito mais do que a oferta de fornecedores testados e acreditados, floresce uma legião de clínicas “meia-boca” povoadas de charlatões ou, no mínimo, maus profissionais, sem nenhum respeito ou zelo pela saúde de seus pacientes.

Essas clínicas “meia boca” e seus profissionais inescrupulosos, são as que vem alimentado com tenebrosa frequência, as páginas policiais dos jornais e noticiários da TV.

Volto a repetir que não estou insinuando que o que aconteceu à brasileira de Framingham se enquadre em uma situação de erro médico ou clínica “meia boca”. Usei apenas o exemplo de mais essa morte para retratar o que nos parece um dos indicadores mais penosos do momento “lobotomizado” em que vive a raça humana. Onde um par de “seios-melancia” é tudo o que conta para uma mulher se sentir bonita. Onde a necessidade de aceitação chegou a limites que expõe a baixíssima de milhões de mulheres.

Ana Paula Toledo, a imigrante brasileira que morreu um dia depois de sua sonhada operação para aumentar os seios, teria dito, segundo depoimento de seus amigos, que tinha decidido fazer a cirurgia “para ficar mais bonita ao chegar aos 40 anos”. Infelizmente, o sonho de Ana Paula durou menos de 24 horas.