Trajetória de Bezerra da Silva vira documentário

Por Gazeta Admininstrator

Aonde Dorme a Coruja - ou Straight to the Point, na versão em inglês - é o título do documentário dos diretores Márcia Derraik e Simplício Neto, que será atração no Miami International Film Festival 2007 nos dias 9 e 10 de março. O filme recebeu menção especial no Rio Film Festival de 2006.

O documentário mostra o crescimento de uma lenda da música brasileira. Conhecido como o pai do “sambandido”, Bezerra da Silva tornou-se o porta-voz de cronistas que retratam uma realidade quase sempre cruel.

De origem humilde, sua ligação com o mundo musical se deu por causa do “medo da fome”. A única saída que tinha era “lutar por dias melhores”, pois “tinha dias que trabalhava e não comia”. Bezerra da Silva sempre atirou contra as injustiças sociais. Uma boa demonstração disso é a faixa “Partideiro Sem Nó na Garganta” do disco “Presidente Caô Caô”, na qual canta:

“Dizem que sou malandro, cantor de bandido e até revoltado porque canto a realidade de um povo faminto e marginalizado”.

Ou então a faixa “Vítima da Sociedade” de seu disco “Malandro Rife”, na qual afirma:

“Se vocês estão a fim de prender o ladrão / Podem voltar pelo mesmo caminho / O ladrão está escondido lá embaixo / Atrás da gravata e do colarinho”.

Suas músicas são quase sempre de ou-tros compositores ou então de parcerias que ele cultiva há muitos anos. Seus parceiros são poetas dos morros. Nas letras dos sambas desses compositores se expressam os conflitos sociais de uma população marginalizada. Tudo através de uma ótica bem humorada, mas também áspera. São letras com palavras afiadas, de gente que tem uma visão sociológica amadora, porém lutadora e inconformada.

O documentário será mostrado em combinação com uma homenagem musical de estrelas brasileiras do Hip Hop, R’n’B e Samba.
Os direitores do filme estão entusiasmados com a participalção no Miami Film Festival. “Bezerra da Silva é tido com grande estima pelo povo brasileiro e queremos trazer sua música para os EUA e mostrar o mundo de inspiração por tráz de seu lirismo”, afirma Márcia Derraik.

Biografia
Foi de Pernambuco para o Rio de Janeiro aos 15 anos escondido em um navio, e lá ficou trabalhando na construção civil. Tocava percussão desde criança e logo entrou em um bloco carnavalesco, onde um dos componentes o levou para a Rádio Clube do Brasil, em 1950. A partir daí passou a atuar como compositor, ins-trumentista e cantor, gravando seu primeiro compacto e 1969 e o primeiro LP seis anos depois. Inicialmente gravou côcos sem sucesso.

Mas a partir da série Partido Alto Nota 10 começou a encontrar seu público. O repertório de seus discos passou a ser abastecido por autores anônimos (alguns usando codinomes para preservar a clandestinidade) e Bezerra notabilizou-se por um estilo “sambandido”, precursor mesmo do “gangsta rap” norte-americano.

Antes do hip hop brasileiro, ele passou a transmitir do outro lado da trincheira da guerra civil não declarada: “Malandragem Dá um Tempo”, “Seqüestraram Minha Sogra”, “Defunto Cagüete”, “Bicho Feroz”, “Overdose de Cocada”, “Malandro Não Vacila”, “Meu Pirão Primeiro”, “Lugar Macabro”, “Piranha”, “Pai Véio 171”, “Candidato Caô Caô”. Em 1995 gravou pela Sony “Moreira da Silva, Bezerra da Silva e Dicró: Os Três Malandros In Concert”, uma paródia ao show dos três tenores, Pavarotti, Domingo e Carreras. O sambista virou livro em 1998, com “Bezerra da Silva - Produto do Morro”, de Letícia Vianna, e agora é tema de documentário.