Tranca arrombada, porta de ferro - Via Legal

Por Jamil Hellu

santa maria

Ainda repercute em todas as partes do mundo a tragédia acontecida em Santa Maria, Rio Grande do Sul, onde um incêndio em uma boate causou a morte de 235 pessoas e deixou mais de 100 feridas, com muitos ainda correndo risco de vida. A maioria delas, jovens com idade média de 20 anos e, entre os falecidos, 101 eram universitários.

Santa Maria, com uma população de 270 mil habitantes, conta com importante e estratégica base aérea, além de uma universidade federal, que juntamente com a de Pelotas, no mesmo estado, está entre as mais bem equipadas e aparelhadas do país, graças as poupudas verbas a elas destinadas no período militar de Garrastazu Médice e Geisel.

O fogo, que começou por volta das 2 horas da madrugada do último domingo, dia 27 de janeiro, no interior da Boate Kiss onde se realizava um evento universitário, foi causado pela imprudência de um músico. Mas, logo se transformou em uma grande tragédia, em consequência de uma série de irresponsabilidades, omissões, descasco com a vida alheia, despreparo e ganância pelo lucro. Agravado, também, por  atos de improbidades cometidos por agentes públicos que, segundo o Ministério Público, receberam vantagens ilícitas para facilitar o funcionamento da boate, mesmo sem ter preenchido os requisitos necessários para tal. E, segundo destaca a imprensa local, estariam envolvidos funcionários, o prefeito e um deputado federal, que seria o proprietário “na sombra” da boate. Todavia, essa notícia carece de maiores informações.

Também, é unânime entre todos aqueles que conseguiram sair com vida da fatídica Boate Kiss, a participação dos seguranças da casa, que criminosamente, impediam a saída das pessoas  e que, certamente, fez aumentar e muito o número de vítimas fatais. Tornou-se comum no país, quando da realização de evento de quaisquer naturezas, a contratação de pessoas para a proteção daquele, os quais são denominados “seguranças”, mas que, infelizmente, a sua maioria desprovida de boa educação, formação e conhecimento. Tornam-se verdadeiros marginais quando no exercício desta “profissão”. Conhecidos como leões-de-chácara, nas portarias de casas de espetáculos e afins, diariamente ocupam colunas policiais das mais diferentes cidades, por crimes cometidos contra frequentadores daquelas.

Essa tragédia de Santa Maria vem se somar a outras similares ocorridas na Argentina, China, Rússia e Rodhe Island, aqui nos EUA, na triste estatística das mais mortais nos últimos 10 anos.

É por demais sabido que no Brasil existem milhares de casas de eventos dos mais diversos, de espetáculos, de convenções, igrejas das mais variadas profecias, ginásios de esportes, estádios de futebol e outros, que funcionam precariamente, fazendo vistas grossas às exigências legais, sanitárias e de segurança obrigatórias. Pois, haverá sempre a certeza da impunidade ou do “jeitinho” típico e característico para se resolver quaisquer questões com as autoridades correpondentes.

Infelizmente, somente agora, após esse lamentável acontecimento na Boate Kiss, quando Santa Maria chora as suas 235 mortes, é que as autoridades  brasileiras começam a despertar e a  tomar providências para que tragédias como essa não mais aconteçam. E inúmeras boates e similares já começam a ser proibidas de funcionamento, alvarás e licenças revogadas, exigências revistas e outras tantas acrescidas. Enfim, como diz o velho adágio popular:  - Porta arrombada, tranca de ferro.