Transtorno de Déficit de Atenção: uma resposta saudável diante de uma educação doentia

Por Adriana Tanese Nogueira

Concordamos com Claudio Naranjo, o psiquiatra chileno considerado um dos pioneiros da ponte entre psicologia e tradições espirituais, que hoje as escolas não educam para a sabedoria e compreensão da realidade, mas para passar provas.

Este tipo de educação exige da criança e do jovem que se tornem robôs, executando tarefas sem pensar ou questionar, mas meramente repetindo as respostas que lhe disseram ser as certas, ou seja, as esperadas pelo sistema educacional do qual o professor é mero representante.

Educação hoje é negócio e está voltada moldada no mesmo estilo de um negócio, impessoal, sem relação (“objetiva”) e sem sentimento (“fria”). Ou seja, desumana.

Para a Unesco, a função da educação é a de promover a atitude do aprendizado que se distingue em: aprender a aprender, aprender a fazer e aprender a conviver. Estamos muito longe disso.

Outra carência gigantesca do sistema educacional é a falta de atenção dada à inteligência emocional. Está provado que saber entender as próprias emoções para ser uma pessoa mais equilibrada e feliz e, assim, compreender as dos outros promove relacionamentos mais saudáveis e sucesso profissional. Infelizmente, os próprios educadores têm se mantido ignorantes a respeito da vida emocional de seus alunos (e sua própria), talvez por lealdade à divisão competitiva entre os trabalhos de psicólogos e sacerdotes ou por preguiça mesmo de penetrar nesse universo no qual sua subjetividade seria chamada em causa. Mas, esta escolha é míope e fadada ao insucesso, pois de emoções está impregnada toda relação, em particular aquelas com crianças e jovens.

Segundo Naranjo, apelar para estudos experimentais, para as chamadas “provas científicas”, é mais uma forma para desconsiderar o assunto, definindo-o ainda pouco apurado, pois “com estudos experimentais”, diz Naranjo, pode-se provar una coisa e seu contrário, da mesma forma como os advogados têm metade da biblioteca jurídica a serviço de seu cliente e a outra metade contra. Perde-se, assim, o bom senso, a intuição, o “olhar clínico”, como aquela diretora de escola privada que, diante da menina de dois anos que se masturba toda tarde para tirar a soneca ou mesmo durante o sono, desconsidera o assunto definindo-o “normal”.

As próprias educadoras passaram pela mesma educação que transmitem a seus alunos, uma cultura que parece ter sido desenhada para roubar a consciência das pessoas, mantendo-as ocupadas com coisas estúpidas. Enquanto isso, o que importa é ignorado. Não se presta atenção ao essencial que é: promover o desenvolvimento da independência de pensamento e liberdade individual, da espontaneidade e criatividade, daquelas coisas, enfim, que são fundamentais para que uma criança se compreenda e possa, dessa forma, ser sujeito ativo e criador no mundo.

Assim, os próprios educadores, cuja consciência foi deformada pelo sistema educacional do qual estão impregnados, não reconhecem que os transtornos de déficit de atenção não são nada mais que uma reposta sã à uma educação patológica e patologizante.

Lembro-me quando cursei o Master em Mental Health Counseling na FAU de Boca Raton, Flórida, classificado como o sexto melhor dos EUA. As aulas eram para mim tão entediantes e superficiais que só sobrevivia porque, enquanto acompanhava e participava ativamente, também trabalhava, respondia e-mails e cuidava dos meus negócios. Mas eu era uma adulta já profissional há muitos anos. Se tivesse sido uma criança, sem meios para extravasar a inquietação que conteúdos vazios produzem numa mente criativa e viva, teria sido diagnosticada com TDAH (ou AD/HD em inglês) e teria sido obrigada a me drogar com Rivotril.