Tratamento de saúde não impede que brasileira de 13 anos siga a vocação de pianista

Por Marisa Arruda Barbosa

2 Fernanda concerto carnegie hall

O presente de Natal chegou um pouco antes da hora para a brasileira Fernanda Miranda e sua família. Há aproximadamente duas semanas, a jovem pianista de 13 anos descobriu que ficou em primeiro lugar em sua categoria em um concurso internacional de piano. O prêmio: apresentar-se no Carnegie Hall, uma das principais salas de concertos em Nova York.

“Apresentar-se no Carnegie Hall é o sonho de qualquer pianista”, disse sua mãe, a paulista radicada em Miami, Ana Paula Nascente, que a acompanha em todas as apresentações.

A paixão pelo piano surgiu na vida de Fernanda na mesma época em que foi diagnosticada com uma grave doença autoimune que atinge os rins. Ela tinha seis anos de idade quando recebeu o diagnóstico de nephrotic syndrome, que causa o mau funcionamento dos rins. Na época, ela estava muito inchada e precisou ser hospitalizada.

O hospital recomendou Fernanda para a fundação “Make a Wish”, que realiza o sonho de crianças doentes. Ela podia pedir qualquer coisa à fundação e, para o espanto dos pais, pediu um piano. Não era um simples piano, mas branco e de cauda.

Fernanda nunca teve contato com música antes e por isso os pais ficaram surpresos com o pedido. No ano do diagnóstico, ela tinha acabado de entrar em na escola privada Conchita Espinosa Academy, em Miami, onde hoje cursa a 8ª série. A escola tem um conservatório com um piano branco de cauda que era da fundadora. “Esse foi o primeiro contato que ela teve com a música. Acreditamos que seja isso que ficou registrado”.

Fernanda foi matriculada em aulas de piano antes que o seu presente chegasse. “Desde que o piano chegou em nossa casa, ela não deixou de praticar um dia”, relata Ana Paula.

Hoje, a doença é controlada com medicamentos. Fernanda toma um remédio que ajuda seus rins a funcionarem normalmente, mas, a cada dois anos, precisa se “desintoxicar” do medicamento e muitas vezes necessita ser hospitalizada. “Ela tem restrições, como fazer exercício e esforço físico, mas tem uma vida normal”, explicou Ana Paula.

Nada impede a jovem pianista de seguir o sonho de se tornar concertista. Fernanda já venceu concursos, tocou com orquestras, viajou pela Europa dando recitais.

Com a saúde controlada, ela se dedica à carreira e aos estudos. Todo ano, nas férias de verão, ela passa dois meses na Europa acompanhada de sua mãe. Esse ano, Fernanda tocou em festivais na Itália e, no ano passado, na Áustria. Há três anos, a jovem começou a estudar na Manhattan School of Music e, este ano, conseguiu bolsa de estudos na Universidade de Miami.

CARNEGIE HALL

No dia da apresentação no Carnegie Hall, Ana Paula acompanhou a filha, como sempre. “Ela geralmente estuda uma música por um ano antes de se apresentar na Europa. Dessa vez, ela ensaiou um difícil noturno, do polonês Frédéric Chopin, por dois meses”, disse a mãe. “Ficamos tensas no começo, mas logo vi que ela pegou confiança. Foi impressionante! Ela fechou os olhos e foi... Depois me contou que colocou seu coração e alma na música e assim conseguiu tocar até o fim”.

No mesmo fim de semana, as duas foram acompanhadas por um repórter da Globo. Fernanda já havia dado entrevistas ao programa “Planeta Brasil”, mas dessa vez apareceu no “Jornal Nacional”. “Foi maravilhosa a forma como sua história foi apresentada”, disse a mãe, orgulhosa.

A mãe de Fernanda conta que até o presidente do festival ligou para a professora russa (com quem ela faz aulas em Nova York, uma vez por mês) para contar que também ficou impressionado. “Disseram que enquanto muitos têm técnica, Fernanda não toca, mas acaricia o piano”, conta a mãe.