Adriana Nogueira: Tratemos os bebês com delicadeza

Por Adriana Tanese Nogueira

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Bebês merecem respeito. O que é respeitar um bebê? É tratá-lo levando em consideração suas condições. Bebês são sensíveis, muito mais do que um adulto. São sensíveis a barulhos fortes, gritos, confusão, tensão, agitação e movimentos bruscos. Bebês sacudidos, jogados pro altos, sujeitos a chacoalhões podem sofrer da chamada síndrome do bebê sacudido, que pode ter consequências muito sérias para a saúde dele, inclusive.

Segundo Christian Muller, neuropediatra do Hospital Santa Lúcia e coordenador de Pediatria do Comportamento e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira de Pediatria do Distrito Federal, a síndrome é caracterizada por sangramentos cerebrais, consequência de movimentos bruscos - em particular da cabeça sacudida para frente e para trás. Em casos extremos, pode haver hemorragias muito graves, que ocorrem tanto quando o bebê é vítima de maus-tratos como por consequência de pais que sacodem as crianças na tentativa de fazê-las parar de chorar.

Não só, brincadeiras bruscas, como jogar a criança para o alto achando que ela vai se divertir, deveriam estar fora de cogitação. Fazer isso é estar completamente desconectado do bebê e de sua realidade. Até os dois anos, o cérebro infantil não está totalmente formado e é muito sensível a lesões, que desencadearão quadros futuros de irritabilidade, alteração de memória e convulsões.

Mas a síndrome do bebê sacudido não se resume a ser sacudido, ela ocorre também quando a criança é sustentada pelas extremidades ou pelos ombros, podendo alterar a coluna com traumas na região cervical e causar sangramentos – tanto hemorragias retinianas (nos olhos) quanto cerebrais.

Em geral, a síndrome do bebê sacudido pode ocorrer em crianças até os dois anos, mas mesmo até os cinco anos podemos observar o distúrbio. Portanto, cuidado com a forma como se pega uma criança e mais cuidado ainda com as nossas reações quando perdemos as estribeiras.

Bebês dão trabalho, exigem adultos em condições de tomar conta delas, isto quer dizer que possam ter o equilíbrio psicológico necessário para entender o que eles precisam, acudi-los e cuidá-los. Chacoalhar uma criança para ela parar de chorar e, finalmente, dormir (e nos deixar em paz) pode aparentemente obter o efeito desejado, mas também outros efeitos colaterais, como o terror na criança que se sente assim à mercê de burtos, de alguém não confiável, que a ameaça diante do qual precisa se calar porque não há outra escolha. Isso tudo, lá na frente (ou no presente se houver, hemorrargia interna), dará seus frutos – amargos.

Segundo o perito criminal do Instituto Médico Legal de Santa Catarina e dermatologista Marcelo Francisco dos Santos, “estima-se que de 100 mortos por violência, 13% sejam pela síndrome”.

Então, pais, aprendamos a nos controlar e a nos antenarmos antes de lidar com uma criança pequena. O choro infantil aponta para um problema que a criança está sentindo, nenhuma criança chora à toa. Mas é importante se dar conta que a criança pode estar sentindo um problema geral da casa, ou melhor, da relação com seus pais e, em particular, a mãe. Sabe-se que crianças com bom vínculo choram menos.

Crianças choram porque: têm fome, sede, fraldas encharcadas, sono, medo. O medo não precisa ser concreto (por exemplo, medo de um animal), elas sentem o medo no ar, o farejam por assim dizer (como qualquer animal, somos mamíferos, lembram?). Podem estar sentindo o medo da mãe, a insegurança dos adultos, o estresse, a raiva, a rejeição. Sentem na carne viva e reagem. Percebem-se ameaçadas, pois se o ambiente e seus cuidadores não estiverem em harmonia e a quererem (!), ela estará em perigo. E o que uma criança pequena pode fazer? Fugir de casa? Ir para um spa relaxar? Só lhe resta chorar.