Último cubano a entrar nos EUA lamenta por quem não conseguiu

Por Gazeta News

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[caption id="attachment_135145" align="alignleft" width="300"] Yuniesky Marcos Roque, de 32 anos, e o filho Kevin, de 7.[/caption]

O engenheiro eletrotécnico Yuniesky Marcos Roque, de 32 anos, e o filho Kevin, de 7, foram os últimos cubanos a cruzar a fronteira entre o México e os EUA sem um visto e ainda se enquadrar na lei "Wet foot, dry foot" ("pés molhados e pés secos"). "Estou muito emocionado. Eu vim por ele, para que possa ter um futuro melhor. Estou aliviado por termos conseguido, mas triste pelos outros que estão à espera na ponte", disse ao jornal El Nuevo Herald.

Logo após o anúncio do fim da política "Wet foot, dry foot", 15 cubanos foram pegos já sobre a ponte que liga Nuevo Laredo, no México, a Laredo, no Texas, que nos últimos anos tem sido a principal porta de entrada nos EUA dos que saíram da ilha. Muitos mais ficaram no caminho.

"Imagine como me sinto depois de ter estado seis dias e seis noites a correr pelo rio, pela selva, na umidade", disse à Reuters José Enrique Manreza, num refúgio para imigrantes em Tapachula, no sul do México. O cubano que administrava um armazém em Havana antes de partir, calcula ter gasto dez mil dólares na viagem, incluindo um voo para a Guiana Francesa, guias para atravessar a América do Sul e subornos para se defender de agressores. "Perdemos tudo", desabafou.

A política "Wet foot, dry foot" foi aprovada pelo ex-presidente Bill Clinton em 1995, em plena crise dos balseros. Estabelecia que só os cubanos que pisassem solo norte-americano podiam ficar. Aqueles que eram apanhados ainda no estreito da Flórida, eram devolvidos à ilha ou a países terceiros. Na realidade, diminuía o alcance da Lei de Ajuste Cubano, de 1966, que dizia que todos eles podiam pedir a autorização de residência um ano e um dia após chegarem aos EUA.

"Com efeitos imediatos, os cubanos que tentem entrar ilegalmente nos EUA e não se qualifiquem para receber ajuda humanitária estarão sujeitos à remoção, de acordo com a lei dos EUA. Ao dar este passo, estamos tratando os migrantes cubanos da mesma forma que tratamos os migrantes de qualquer outro país", disse num comunicado o presidente norte-americano, Barack Obama.

Washington e Havana reataram relações diplomáticas em julho de 2015, depois de mais de meio século de costas voltadas. Desde então, temendo a decisão agora tomada, o número de cubanos arriscando suas vidas para chegar aos EUA aumentou consideravelmente em 2015 e 2016.

O governo cubano comemorou a decisão de Obama, algo que já reclamava há anos: "A política 'Wet foot, dry foot' constituía até agora um estímulo à imigração ilegal, ao tráfico de imigrantes e às entradas irregulares nos EUA", referiu o executivo de Raúl Castro. Ao abrigo do acordo, negociado ao longo de um ano, Havana compromete-se a acolher os cubanos que sejam expulsos, assim como agora aceita o regresso dos que são intercetados no mar.

Mais de dois milhões de cubanos deixaram a ilha depois da Revolução de 1959, tendo cerca de 80% partido para os EUA - em especial à Florida. O presidente da Câmara de Miami, Tomas Regalado, um exilado cubano, criticou Obama por ter dado a Castro "um presente de despedida", explicando que isto não vai travar o fluxo de cubanos. Mas organizações de exilados, como a Fundação Nacional Cubano-americana, não criticaram a decisão. Só a eliminação do programa que garantia passagem segura para os médicos e profissionais de saúde que Cuba envia para outros países e que consideram ser "escravos modernos". Só em 2015, entraram 1.663 profissionais de saúde cubanos nos EUA.

Com informações do El Nuevo Herald, Reuters e DN.