Um alerta para quem pensa em voltar

Por Gazeta Admininstrator

Com a crise econômica norte-americana (e agora, mundial) a cada dia mos-trando mais e mais suas “unhas ferinas”, mais brasileiros se questionam sobre a possibilidade de retornar ao Brasil. Não só para atender àquele desejo íntimo que muitos têm de retornar, mas de forma pragmática, apostando no momento inegavelmente positivo que a economia brasileira vem vivendo nos anos do governo Lula.
É fato que, sob o comando de Lula e também beneficiando-se de uma inteligente política econômica desenvolvida em oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso, a economia brasileira vem desfrutando de inédita estabilidade e credibilidade internacional.

Lula vem sendo extremamente hábil e inteligente em manter as bases da política econômica desenvolvidas nas gestões anteriores e, baseado no seu incomparável índice de aprovação popular (batendo na casa dos 80%, de matar de inveja ao seu colega George W. Bush), implementando medidas que, sejam popu-

listas ou não, têm modificado a vida de milhões de brasileiros antes totalmente à margem da cidadania em nosso país.

Mas Lula e nem ninguém no Brasil tem o poder de eclipsar, muito menos evitar, os devastadores efeitos que a crise econômica mundial terá sobre o Brasil, e de forma bem imediata. O nosso presidente tem constantemente passado uma mensagem positiva de que “a crise não é tão grave assim”, sugerindo que o Brasil poderia sofrer apenas arranhões nesse processo.

Eu adoraria acreditar nisso. Mas a História prova que as chances do Brasil escapar ileso de uma hecatombe como a que se avista, são quase nulas. Até porque a interdependência na economia mundial, que já era um fato concreto nos anos 70, quase 40 anos depois, é uma realidade irrefutável. Com os fluxos de capitais e investimentos secando, com uma redução drástica da disponibilidade de crédito, todas as economias sofrem e, mais ainda, o famoso “lado mais fraco da corda”.

O lado da corda
O Brasil tem dado passos importantes em direção a se tornar menos vulnerável. Mas ainda estamos longe de não estarmos do “lado fraco da corda”. As exportações brasileiras, que têm acumulando recordes e lastreando a fase de positivismo econômico (mantendo e gerando empregos, injetando dinheiro e alavancando a expansão do consumo interno, entre outros benefícios), podem sofrer baques imediatos.
O povo brasileiro, em razão da própria estrutura econômico-social e do histórico “abismo” entre pobres e ricos, é um povo que não tem poupança e apenas tateia em direção à “cultura do investimento interno”. Lula tem defendido essa tese com unhas e dentes, mas esse é um processo que, como diria Lulu Santos, “caminha a passo de formiga e sem vontade”.
Portanto, quem pensa em voltar para o Brasil agora, baseando essa decisão na idéia de que a economia “pujante” em nosso país o reabsorverá com facilidade, deve pensar duas vezes, refletir e analisar perspectivas lá e cá. Converse com seus familiares e tente colocar as irrefutáveis “paixões e saudades” de lado. Faça seu “dever de casa”, projetando com crucial realismo, sob que condições você estaria voltando. É certo que fatores como saudade, incompatibilidade cultural, proximidade da família, são poderosos e extremamente relevantes. Mas o fator econômico é quase sempre o mais importante no dia-a-dia das pessoas e especialmente de uma família.

É certo que nós, que permaneceremos nos Estados Unidos, iremos enfrentar uma crise “braba”. Imagina-se quadros que vão desde uma recessão severa, que dure de 18 a 24 meses, a uma recessão menos duradoura, mas que, na pior das hipóteses, duraria de oito a 12 meses.

Serão tempos de desemprego, escassez de oportunidades e um duro teste de resistência e determinação. Mas não há como negar que os Estados Unidos com sua formidável máquina econômica tem muito mais elementos e armas para reemergir rápida e eficazmente, do que qualquer outra nação no mundo.
Aqueles que adoram frases de efeito e adotam a “cultura do pânico” estão semeando a idéia de que estamos presenciando “a queda do império norte-americano”. Será mesmo?
Quem viver, verá.