Um beco sem saída - Editorial

Por Marisa Arruda Barbosa

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Nós tentamos ignorar, no dia a dia, o grande beco sem saída que podemos ficar quando a questão é sistema de saúde para quem não tem seguro – e documentos – nos Estados Unidos ou em qualquer lugar do mundo. Infelizmente, os brasileiros na Flórida foram bem lembrados disso com a indignação que estão sentindo depois da morte da jovem Dimitria Rocha, de 21 anos, como pode ser visto em detalhes na página 29.

Dimitria sofreu um acidente grave de moto no início do ano e ficou 10 meses internada, com uma conta astronômica e, ao fim, sua mãe foi informada ainda que o hospital a mantinha somente para sua sobrevivência, sem tratamento algum, já que sua filha não tinha seguro saúde.

Ela foi colocada em um avião e enviada para o Brasil sem o consentimento nem de sua mãe nem de seu médico, segundo sua mãe, já que ambos sabiam dos riscos de tal viagem. Dimitria não resisitiu e faleceu no caminho, quando o avião especial parou para abastecer em Manaus, a caminho de São Paulo.

Uma tragédia anunciada poderia ter sido evitada se houvesse um sistema de saúde inclusivo nos Estados Unidos ou, pelo menos, uma reforma imigratória com mais contribuintes.

Aconteceu com Dimitria um dos maiores medos que o imigrante sofre no dia a dia de trabalho exaustivo: ir parar em uma cama hospitalar, que para muitos, assim como para a jovem, vira um beco sem saída.

Além da triste história de Dimitria, esta semana o GAZETA traz a história de mais duas brasileiras em situações completamente opostas. Uma, é acusada da fraude. A outra serve de inspiração àqueles que seguem uma carreira profissional.

Egli Diana Pinto é acusada de se passar por advogada, sendo que nunca se formou em direito para poder exercer a profissão na Flórida, e de roubo de identidade, ao usar o número da ordem dos advogados de outra pessoa, com um nome similar ao seu (matéria na página 23). O GAZETA cumpre aqui seu papel jornalístico e ético de informar a comunidade sobre a acusação e alertar pessoas de que isso ainda existe. Assim como em outras situações, a suspeita terá, assim que for possível, seu espaço para mostrar o outro lado da história. Enquanto isso, nós “reportamos” simplesmente o que está nos documentos da corte, falando com pessoas envolvidas que reforçam a acusação ou se defendem dela. Mas todos os lados foram escutados.

A outra brasileira é um motivo de orgulho (página 18). Fernanda Santos é, além da única e primeira jornalista brasileira a atingir um cargo do “New York Times”, uma brasileira espontânea e expressiva, algo que torna, para nós, o alcance de um sonho nos Estados Unidos algo um pouco mais próximo e mais real. Assim como qualquer imigrante, ela batalhou muito e enfrenta muitos desafios até hoje. Mas seu segredo é de usar os desafios a seu favor.

Para terminar, reescrevo aqui uma frase da própria Fernanda Santos para os brasileiros que vivem nos Estados Unidos: “mantenham a ética de trabalho dos americanos e o amor à vida dos brasileiros”.