Um Brasil de bom senso

Por Gazeta Admininstrator

Uma pesquisa divulgada pela respeitada BBC de Londres, na semana passada, lança uma luz menos turva sobre a capacidade da opinião pública brasileira discernir sobre certos fatos internacionais. Apesar da alta taxa de analfabetismo do Brasil, nosso país sempre teve uma elite e mesmo uma larga faixa de classe média, bem atenta ao panorama internacional. Sempre foi muito mais comum encontrar um brasileiro de cultura “média”, muito mais bem informado do que um americano de similar grau de escolaridade.

Para ser sincero e refletir a opinião de muitos brasileiros que eu conheço e com quem converso sobre esse tema, chega a espantar o níveld e desinformação e falta de cultura geral da esmagadora maioria dos norte-americano, para quem via regra, a super especialização num único tópico da vida, parece ser uma regra aceita com prazer.

Entretanto, nos últimos anos cresceu fortemente no Brasil a tendência de encarar certos fatos internacionais unicamente sob o ângulo da paixão ou da anarquia. Me lembro que durante os horrendos episódios do 11 de setembro de 2001, houve até manisfetações no Brasil a favor da ensandencida estratégia de Bin Laden para mostrar força aos “infiéis norte-americanos”. A retórica do atual presidente Bush não ajudou muito e dissipar essa confusão reação de brasileiros incautos.

Enfim, se tornou muito comum até recentemente que, movidos por um sentimento anti-americano que só agora vai - aos poucos - cedendo terreno, ver e ouvir brasileiros defendendo as táticas sanguinárias e odiosas do terrorismo, como “justificáveis” diante do imperialismo americano. Mesmo brasileiro imigrantes que vivem nos Estados Unidos, esquecendo-se de que estão cuspindo no prato que comem, falam abertamente contra este país e a favor de qualquer estratégia terrorista em opisição aos interesses norte-americanos.

Mas há sinais de mudança e a pesquisa da BBC revelou isso de forma bem clara. Segundo esse levantamento, a iniciativa da coalizão liderada pelos Estados Unidos de tirar o ex-presidente iraquiano Saddam Hussein do poder em 2003 foi “uma decisão correta” na opinião de 65% dos entrevistados no Brasil. Entretanto, 29% dos entrevistados consideram errada a decisão de ingleses e norte-americanos em invadir o Iraque.

A falta de provas da existência de armas nucleares de destruição em massa no Iraque continua sendo o “ponto central” da condenação à invasão dos aliados. 67% dos entrevistados dizem que as tropas dos Estados Unidos e de seus aliados deveriam se retirar do Iraque o mais rapidamente possível.

Para contrabalançar essa defesa da retirada imediata, 51% aprovariam a permanência das tropas, caso o atual governo do Iraque pedisse a permanência das tropas do país como “fundamentais” para manter o processo de democratização do país. Os brasileiros em imensa maioria – 89% dos entrevistados – consideram a implantação da Democracia como o fator mais importante para salvar a população Iraquiana da guerra civil.

Mesmo sem ser alvo dessas ações, o terrorismo político é um temor real para os brasileiros. Mais da metade dos entrevistados (56%) acreditam que a guerra no Iraque aumentou o risco de ataques terroristas em todo o mundo. Uma grande parcela (37%) acredita que em algum momento o Brasil também poderia ser alvo de alguns desses atentados, embora 63% considerem “improvável” ou “extremamente difícil”.

A pesquisa realizada a pedido da BBC foi aplicada em 35 países, mas o que nos interessa mesmo são os dados colhidos no Brasil que, se analisados de forma mais apurada e interrelacionada com a realidade sócio-política interna do país. Se engana quem pensa que o Brasil nunca conviveu com terrorismo. Nos anos 60, as lutas de grupos de opisição à ditadura militar realizaram, especialmente entre 1965 e 1970, diversos ataques isolados, nenhum deles causando vítimas em massa, mas criando um clima extremamente tenso na população, especialmente no eixo Rio-São Paulo.

Hoje o terrorismo que asasunta os brasileiros é a violência urbana gerada e contínuamente “estimulada” pelo gigantesco abismo social do país, onde uma elite de 30 milhões de pessoas desfruta uma das melhores qualidade de vida do planeta, enquanto os outros 130 milhões se dividem entre “meros sobreviventes”, “subnutridos” e “famintos”. É uma realidade dura, que não muda há cerca de 50 anos, desde quando o desenvolvimento industrial e tecnológico ergueu no Brasil umas das mais cruéis faces de desigualdade existentes no chamado “mundo civilizado”.

A consciência de que a opção pela violência, pelo terrorismo e pela agressão não são aceitáveis, é um fato muito positivo e que fala claramente do melhor que há em toda a sociedade brasileira.
Sempre fomos anti-violência. Vínhamos acreditando que o grave quadro social do país e a escalada da violência urbana estaria nos tornando defensores do confronto bélico como saída viável, do terrorismo como alternativa a ser considerada.

A pesquisa da BBC mostrou, entretanto, um inteligente equilíbro na opinião pública pensante no Brasil. Se por um lado as políticas de George W. Bush, Tony Blair e toda a estretáegia “aliada” no Iraque são fortemente questionadas no Brasil como em quase todo o mundo inteligente e civilizado, sabe-se da mesma forma que a turma de Bin Laden está longe de ser sequer justificada ou inocentada. Muito menos como chegou a ser, idolatrada.