Seguimos vivendo um tempo de questionamentos dentro da comunidade brasileira. Escrevo este editorial em meio a mais uma viagem de trabalho por diversos estados onde é forte a presença brasileira e noto que há um amadurecimento crescente da discussão em torno do “momento” da nossa comunidade.
Esse questionamento se tornou mais intenso a partir de setembro do ano passado, com a idéia de que estaríamos vivendo, para muitos, o “fim do sonho americano”.
Já abordei essa falácia diversas vezes aqui no Gazeta. Falácia, para quem por acaso não esteja habituado com esse termos muito pouco usado, se aplica para qualificar uma mentira, uma noção errônea, algo que é “vendido” de uma forma diferente da realidade.
Acho, sinceramente, que o termo “falácia” se aplica como uma luva a toda essa discussão sobre o “fim e o começo do sonho americano”.
Durante a viagem, fui ouvindo pessoas, escutando discursos inflamados e confissões de pé de ouvido. Deixo New York muito animado. Porque o somatório do que vi e ouvi demonstra claramente que o “sonho americano” para a comunidade brasileira não só persiste como recrudescerá maior, mais vibrante e mais consistente.
Existem muitos e diferentes “sonhos americanos”. Certamente aquele sonho de vir, fazer um bocado de dinheiro para levar de volta para o Brasil, é um sonho de muitos, mas é um sonho de asas muito curtas. Quando a única razão que existe para o imigrante permanecer nos Estados Unidos, é o dinheiro, é natural que a decisão de voltar venha imediatamente após uma prolongada recessão ou redução de ganhos.
Mas para uma imensa legião de brasileiros que vivem nos Estados Unidos, nem de longe dinheiro é a única ou maior motivação para estar aqui.
Segurança, Leis, Oportunidades, Pers-pectivas, Futuro, Filhos, Acesso, Igualdades, enfim, todas essas palavras escritas com iniciais maiúsculas, são “substantivos” na mente desses brasileiros e suas famílias.
Para cada brasileiro que arrumou as malas e voltou para o Brasil porque, “de repente” a América “não está prestando mais”, há 100 brasileiros que enxergam o desafio da permanência, mesmo diante das cruéis barreiras da ilegalidade, como uma etapa a mais a ser vencida, a caminho do verdadeiro “sonho americano”.
Vi pais e mães falando que “apesar do momento difícil”, a gente vê o futuro que podemos dar aos nossos filhos e a opção fica clara.
Ouvi adolescentes bilíngues, bi-cultu-rais, enxergando as possibilidades cada vez mais plurais do mundo globalizado, se vendo como parte inexorável do “melting pot” norte-americano. Felizes e confortáveis com isso.
Vi em New York uma das maiores e mais sérias instituições do Brasil, reunir a imprensa e anunciar seu projeto, de longo curso, voltado para a grande e próspera comunidade brasileira dos Estados Unidos, não importando o status legal de cada um desses imigrantes.
Quando se fala que, para muitos, o “sonho americano à brasileira” se tornou uma grande interrogação, eu penso no enorme sinal positivo que representa a vinda de um Banco do Brasil, a bordo de pesados e científicos investimentos, criar um banco cujo alvo maior e mais explícito é atender a comunidade brasileira na América.
Que ninguém pense que estou fazendo “propaganda” da chegada do BB. Nada disso. Na verdade estou apenas usando o BB como uma referência clara e irrefutável de que o nosso futuro nos Estados Unidos é muito mais sólido do que alguns teimam em não enxergar.

