Nascemos originais, morremos cópias

Por Adriana Tanese Nogueira

Quem disse essa frase foi Carl Gustav Jung, psiquiatra e psicanalista suíço fundador da psicologia analítica, colega de Freud e continuador de sua psicanálise ampliando-a para além das expectativas do mestre. Nascemos originais porque cada um de nós contém em si um potencial único, voltado para realizar-se ao longo da vida, trazendo, além da felicidade que o processo promove, uma contribuição ao todo, ou seja, à sociedade. O que significa que morremos cópias? Significa que para que aquela originalidade inicial possa se desenvolver, já que está em nós como uma semente, é preciso que seja nutrida e cultivada com carinho. E este processo pressupõe uma condição: aquela da liberdade. A liberdade de ser. Podemos considerar a liberdade o fundamento de nossa sociedade, espraiando-se em muitos aspectos, desde o comportamental ao econômico. Todavia, olhando de perto, nos damos conta que a liberdade na qual acreditamos é apenas uma “ideia”, restando para nós apenas o papel de reproduzir uma cultura já existente, ou seja, de sermos cópias. Cópias do pensamento alheio, da moda, da cultura de massa ou de grupo, cópias do estereótipo profissional no lugar de trabalho, cópias... Aquela liberdade de ser é uma fantasia de ninar. A maioria de nós está ou foi domesticada, e assim vive sonhando que é livre. Ainda por cima, num mundo governado pelas aparências o importante não é o que de verdade é, mas o que parece ser – sobretudo aos olhos dos outros. Desta forma, aprofundamos nossa realidade de cópias recalcando mais profundamente possível a consciência de sermos embustes. Porque o importante é o que parece! O teatro de cada dia nos é apresentado como uma verdade, e nós a acatamos dóceis porque assim não temos que enxergar a nossa própria cumplicidade e engodo. Escondemos nossa fragilidade e confirmamos o que um dos maiores assassinos da história ocidental lançou como programa para controlar a população, “Uma mentira repetida mil vezes se torna realidade” (Joseph Goebbels, ministro da Alemanha). E aí vem a pergunta: por que tantos aceitam o jugo da própria fingida liberdade? A resposta foi dada por Rosa Luxemburgo. Porque "quem não se mexe não sente as correntes que o prendem.” O fingimento só funciona se ficarmos paradinhos no lugar que ocupamos (ou que nos deram) e calarmos o desejo interior por mudança, por mais, por querer saber e ser. Certamente, não temos o controle sobre a sociedade, não controlamos o sistema nem a mídia…. Entretantos somos mais do que expectatores vorazes dessa realidade tosca e oprimente. Precisamos darmos ouvidos à necessidade interior, ardorosa e urgente, de irmos além e fazermos alguma coisa para que sejamos orgulhosos de nós. Não orgulhosos do que possuímos ou da imagem que os outros têm de nós. Falo daquele orgulho que é satisfação profunda, apreciação por quem somos e por tudo o que fizemos, que podemos sentir à noite, na intimidade de nós mesmos, no silêncio do espelho interior. Fazer espaço para o ser interior, ouvi-lo. Atendê-lo com responsabilidade e consciência. Poderemos assim retomar contato com aquela originalidade que ficou perdida pelo caminho em algum momento de nossa vida. E quando isso ocorrer nossa mente se abrirá. Uma mente aberta nunca mais poderá voltar ao seu tamanho original. A tomada de consciência é o remédio mais garantido e definitivo que exista. Uma vez que ocorre não há volta. Qualquer que seja o futuro, as dificuldades a serem enfrentadas, os desafios e os medos, não haverá volta àquela, agora vemos com clareza, era uma prisão. Por mais difícil que parecer o caminho, será aos olhos dos outros, porque aos nossos olhos será leve, pois teremos encontrado a verdadeira liberdade. Nosso verdadeiro Eu.