O número estimado de brasileiros morando atualmente na Flórida é de 350 mil. Este número, é composto por pessoas que vieram não apenas para “fazer um dinheiro” e voltar para casa com algumas economias no bolso. É composto também por profissionais que deixaram seu país natal com a intenção de construir uma vida nova, aqui mesmo. E foi assim que fizeram. Alguns há pelo menos duas décadas, outros a menos tempo. O fato é que na Flórida consolidaram uma das comunidades brasileiras mais significativas e organizadas dos Estados Unidos.
Quando cheguei aqui, há 20 anos, não existia nada disso. Só tinha um restaurante brasileiro, que era o Tropicana e, de maneira geral, havia poucos negócios brasileiros. Todos tinham que trabalhar como empregados até tornarem-se patrões. As pessoas que vieram antes pavimentaram o caminho para os que chegaram há seis, sete anos. Sinto que hoje é uma comunidade completa. O que você procura de produtos brasileiros, você encontra. O brasileiro é muito criativo, vai lá e faz.”, comenta Edmilson Oliveira, proprietário da Casa do Pastel, inaugurada recentemente, em Pompano Beach.
A idéia de montar uma pastelaria, com 25 diferentes sabores de pastel, surgiu justamente da vontade de tornar ainda mais completa a lista de “brasilidades” disponíveis na região. “Escolhi este ramo porque sou fã de pastel e não tinha nenhum lugar para comer pastel, como se come no Brasil, e deu certo. Todo dia tem gente nova, e as pessoas que vêm sempre voltam. Isso dá força para manter o otimismo”, diz Oliveira.
Descoberta
O cordão de brasileiros interessados em negócios começou a se formar no início dos anos 80, pouco depois do Edge Act, de 1978, quando a Flórida baixou uma legislação ampliando as possibilidades de abertura de filiais de instituições financeiras estrangeiras. Algum tempo depois, em 1981, foi fundada a Câmara de Comércio Brasil-EUA da Flórida. De lá para cá, a comunidade só cresceu e se organizou.
Quando os brasileiros começaram a “descobrir” o Sul da Flórida vieram para cá os “novos ricos” e os que, na época, eram chamados de “aventureiros”, que apostavam no “sonho americano”. As lojas de eletrônicos de downtown Miami e o dólar alto em relação ao real eram, respectivamente, os grandes atrativos. Outro fator que enchia os olhos eram as facilidades de compra de imóveis financiados.
Evolução
Atualmente, no Sul da Flórida, é possível encontrar praticamente qualquer tipo de serviço ou produto brasileiro, sem fazer muito esforço. Até mesmo chaveiro que fala português. Marcelo Racaneli é natural de Vila Velha, no Espírito Santo, e veio para cá em 1999. Trabalha como chaveiro desde os 12 anos. Hoje, é o mais antigo chaveiro brasileiro da região. Ele lembra, com orgulho, que é licenciado e, por isso, não se restringe a atender somente à comunidade brasileira. “Acho que a comunidade empresarial cresceu muitíssimo em muitas áreas. Em alguns segmentos hoje há até muitas empresas. Mas isso é ótimo porque me sinto completamente em casa. Apesar de falar inglês e de me adaptar à cultura local, continuo sendo brasileiro, e me dá conforto saber que encontro tudo o que quero do Brasil por aqui”, diz Racaneli.
Ele lamenta apenas “uma certa falta de união” entre os brasileiros. “Todo trabalho que preciso dou para um brasileiro. Temos que aprender isso com as outras culturas”, acredita.
Valnei dos Santos, proprietário da All Brazilian, empresa responsável pela importação de mais de 50 marcas e produtos do Brasil, iniciou as atividades em 1986, mas chegou à Flórida em 1981, em uma ocasião em que comprar um pacote de café brasileiro era sonho. Ele lembra que o segmento de alimentos tomou força nos anos 90, e que o de bebidas ganhou impulso mais recentemente. “Antes era só Guaraná. Nesse setor de bebidas houve expansão, com várias marcas de vinho brasileiro, cervejas e cachaças chegando”, diz Santos.
Ele avalia que a comunidade evoluiu muito, em todos os segmentos. “No início da década de 80, a maior dificuldade dos que viviam aqui era na área de comunicação. Não havia rádios, jornais, TV. Na minha época, mandava-se cartas, porque telefonema era proibitivo”, lembra Santos. Ele acrescenta, no entanto que, apesar da evolução, ainda considera haver necessidade de uma liderança brasileira, capaz de agrupar os empreendedores. “Noto que cada um puxa muito para um lado. Não há algo que nos aglomere, nos facilite a vida”, lamenta.
João Luiz Gonçalves Júnior, proprietário da Creative Photo e Video Productions está nos EUA desde o início de 1990 e atribui as transformações do perfil da comunidade ao próprio esforço daqueles que foram pioneiros. “À medida em que o pessoal chega e encontra uma população mais trabalhadora e mais organizada, fica incentivado a fazer alguma coisa”, avalia Júnior.
Júnior considera fundamental a participação dos jornais locais no crescimento da comunidade. “Um dos grandes avanços foi o das médias locais. Percebi uma solidificação grande deste negócio. Os jornais unem a comunidade”, analisa Júnior.
Acompanhando a grande evolução da comunidade brasileira no Sul da Florida a Total Help lançou um serviço inovador em matéria de atendimento legal. É o Total Help Móvel. “Devido a problemas que vemos que existem na comunidade, decidimos ir ao cliente”, diz Regiane Luna Glory, proprietária da empresa.
O novo serviço atende a chamados com hora marcada e, também, a solicitações de emergência, com atendimento pelo telefone gratuito 1888 633 3355.
A idéia surgiu a partir de algumas dificuldades que estão se apresentando. Muitas pessoas não estão podendo renovar carteiras de habilitação e, decidimos ir ao cliente para facilitar – detalha Regiane.
O Total Help Móvel começa com uma equipe de cinco pessoas que atendem a solicitações das mais variadas. “Com o TH Móvel, se a pessoa tiver um problema e não tiver automóvel para ir ao local resolver, não tem mais que ficar remarcando o compromisso, ou tentando conseguir um carro. Nós vamos até a pessoa”, explica Regiane.
A equipe Total Help Movel trabalhará também com tradutores e intérpretes, e os atendimentos serão feitos em Broward, Miami-Dade e Palm Beach.
Entre as solicitações a serem atendidas ela cita, por exemplo, consulta com advogado, solução de problemas na Corte e, até mesmo, acidentes de automóvel. “Se a pessoa tiver um acidente, estiver esperando a polícia e não falar inglês, a Total Help Móvel vai ao local”, diz Reginae.
Ela lembra que os casos de emergência terão prioridade, mas que a intenção é que os atendimentos sejam feitos com hora marcada, a fim de que todos possam ser bem atendidos.

