Uma grávida em crise de nervos - Pais e Filhos

Por Adriana Tanese Nogueira

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Boa tarde, Sou Heloísa, professora de dança oriental, pilates e yoga. Bailarina, tenho 29 anos e estou com 3 meses de gestação, normal. Tenho convênio médico e vou ao mesmo médico desde os 18 anos. Sempre pensei que parto normal fosse normal, e descobri que não é. Gosto do meu médico, mas percebi que ele está me levando para fazer uma cesárea. Estou muito emotiva hoje, porque resolvi pesquisar sobre o assunto e vi como é difícil ter liberdade para deixar a nossa inteligência corporal soberana, o próprio deus/deusa que há em nós, atuar. Choro muito ao ver como não temos direito nem a isso.... Faço parte de um grupo de seres humanos que está tentando despertar para as coisas, ao invés de fazer tudo no automático. E comecei a sentir um impulso de buscar algo para mim que não me deixe à mercê dos médicos, e vi que não tenho ideia de como fazer isso. Tenho uma colega do curso de Pilates que se ofereceu para dar todas as dicas. Ela e outra da nossa turma de formação tiveram parto normal, a outra inclusive pariu no carro... Bom, gostaria de continuar com meu médico, mas acho que preciso buscar outra(o) e fazer essas coisas novas (que na verdade são um resgate do que há de mais antigo e sagrado), como cursos de parto normal, na água, em casa, essas coisas. Estou reformando minha casa e tenho a possibilidade de colocar uma banheira para parto na água. Não tenho a mínima ideia se é assim, banheira, ou o quê... quem pode me ajudar? Gostaria de uma mulher experiente para me orientar, sabe, como deveria ser com nossas ancestrais... É emocionante pensar o quão difícil é isso, é de chorar... Preciso de orientação! Obrigada! Que a deusa esteja sempre conosco, mulheres da terra.

Querida Heloísa, Se acalme, respire fundo e volte em si. Foi muito bom ter nos escrito. Sim, o parto natural, espontâneo e feminino é antigo e pertence à tradição das mulheres desde que o mundo é mundo. Seu choque ao descobrir o quanto as coisas mudaram é compreensível. Mas, como é bom! Você só está no terceiro mês de gestação, tem tempo para encontrar um novo caminho.

Em primeiro lugar, veja como essa gravidez já lhe trouxe uma importante tomada de consciência. O médico no qual confia e vai há anos é cesarista. Ele certamente não combina com uma mulher “que quer despertar” e que se sente pertencer à corrente ancestral de mulheres autônomas e senhoras de si. É claro que não pode continuar com ele, a menos que queira sabotar seu processo de conscientização e empoderamento. Inclusive, a angústia que sente é em grande parte devida a essa relação.

É um momento importante aquele em que olhamos a nossa volta tendo em mente as ideias e os sentimentos mais queridos. Analise sua realidade em todos os seus aspectos e vá cortando o que não pertence ao que quer para si, e que não pode ser modificado. O que você pode melhorar, melhore, mas o que não pode ser mudado, tire-o de seu caminho. Como uma deusa faria, sem rodeios e sem virar a cabeça para trás. Se você gosta de seu médico obstetra cesarista e não quer perder o contato, coloque-o em sua lista de bilhetes de Natal, convide-o para tomar um sorvete... Faça dele seu ginecologista, mas não o coloque na posição de seu obstetra.

Agora, vamos a sua preparação para a gestação, parto e maternidade. O primeiro passo é que se centre e faça uma meditação. Se o mundo não está nos conformes que deseja, ainda possui a você mesma. Portanto, confie em você. Não vá atrás de soluções num clima de desespero.

Em seguida, antes de pensar no parto e em como vai ser, precisa ter alguns papos agradáveis com pessoas confiáveis. Busque grupos de gestantes e preparadoras para o parto natural, educadoras perinatais e doulas. A partir daí, você vai encontrar orientações e dicas para achar seu/sua obstetra ou parteira. Importante também é que continue lendo, se informando e refletindo por si mesma. Sem pressa, sem ansiedade. O parto de uma mulher tranquila será tranquilo.

Quanto à banheira em casa, não se preocupe com esses detalhes. Qualquer bacia de água pode servir. Se quiser ter uma gostosa banheira para seus banhos só ou em companhia, faça-o. Mas não modifique sua casa em função disso. Uma banheira normal pode ser igualmente útil.

A questão não é o material, mas psicológica e espiritual. Não é pela banheira que terá um parto bom. Você percebe que pensando e agindo assim você está trilhando o mesmo caminho da cultura que a faz sentir tão só e desesperada?

Volte às ancestrais: uma vez que você se possua, já está metade do caminho andado. Um abraço!

*Adriana Tanese Nogueira é psicanalista e life coach – www.ATNHumanize.com

Se você tem alguma dúvida ou sugestão de assunto a ser abordado, por favor,  envie um e-mail para adrianatns@hotmail.com.