Uma lenda chamada Pery Ribeiro

Por Carlos Borges

PERY RIBEIRO[4]

Existem artistas e artistas. Como em todo e qualquer setor da atividade humana, profissionais de um mesmo segmento se destacam pelas mais diversas caracte-rísticas.

Nem sempre louváveis, nem sempre éticas, nem sempre dignas de respeito e admiração.

Pery Ribeiro, o herdeiro direto de uma das mais brilhantes linhagens da Música Popular Brasileira, filho de uma das maiores cantoras que om país já conheceu, a eterna estrela Dalva de Oliveira e um dos mais brilhantes compositores da história da MPB, o genial Herivelto Martins, era um talento único, um gênio musical em seu próprio direito e espaço.

O que, por si só, já é um mega feito. Sabe-se, não é nada fácil se tentar um lugar ao sol no excruciante meio artístico, especialmente quando se "herda" uma responsabilidade do tamanho da dupla Dalva-Herivelto.

Pois bem. Pery Ribeiro conquistou, desde que iniciou sua carreira no finalzinho dos anos 50, seu espaço próprio.

Sem exagero, até porque tenho a presunção de conhecer um pouco da história da MPB, afirmo que Pery Ribeiro está entre os 3 mais sofisticados intérpretes da nossa música, ao lado de Dick Farney e Emílio Santiago, na cada vez mais rara extirpe dos cantores puros, dedicados a dar vida às composições de outros autores.

Dito isto, vou me ater ao papel desempenhado por Pery Ribeiro na cena artística brasileira dos Estados Unidos. Pouca gente sabe, mas nas décadas de 60 e 70, Pery Ribeiro foin um dos raros artistas brasileiros a se apresentar regularmente nos Estados Unidos e outras partes do mundo. Seu inglês impecável e o sucesso da Bossa Nova e do Brazilian Jazz lhe garantiram platéias internacionais do mais alto nível.

Mais tarde, quando se tornou um "imigrante" brasileiro no Sul da Flórida e muito com apoio irrestrito de sua segunda esposa, a publicitária e incansável empresária Ana Duarte, ele, dentro de uma huimildade que marca as estrelas genuínas, sempre colaborou com iniciativas da nossa comunidade e realizou grandes apresentações, isso sem interromper suas atividades no Brasil e sua agenda internacional.

Pery brilhou intensamente em três edições do Brazilian International Press Awards, premiado em 2000 e 2007 e convidado especial em 2005. O livro "Minhas Duas Estrelas", escrito por ele e Ana, foi premiado pelo evento em 2007, mesmo ano em que Pery teve a oiortunidade de se reencontrar com outro gênio criador da Bossa Nova, seu amigo de longa data, Roberto Menescal.

Pery prestigiava eventos, participava ativamente de vários acontecimentos da comunidade e até se tornou um ativo e bem sucedido garoto-propaganda de importantes empreendimentos. Até recentemente sua imagem seguia circulando nos brakes comerciais da TV Globo Internacional. Uma prova de que seu carisma e a força de sua imagem permaneciam intactos.

Falar da morte de um ídolo é uma oportunidade de louvar seus feitos, realçar suas qualidades profissionais, técnicas e artísticas.

Falar da morte de um amigo é muito mais difícil, especialmente quando se tem no coração a certeza de ter sido ele um ser humano gentil, ético e leal, sem jamais perder sua dignidade e independência como artista.

O artista que deu voz ao maior e mais relevante tema musical da história de nossa música - Pery foi quem lançou a canção "Garota de Ipanema" e esse privilégio, por si só, o eternizará - está agora cantando no céu.

Viva Pery Ribeiro, um artista maior da MPB e que o Brasil, infelizmente,talvez não tenha a precisa noção de sua grandeza e importância.

Carlos Borges carlosborges@gazetanews.com